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domingo, 28 de setembro de 2014

A Igreja Precisa de Apoio Político Para Sobreviver?



Reconheço que a questão que me proponho a tratar é nevrálgica, mas pontual, visto que estamos às vésperas de eleições, e é neste momento que as Igrejas são invadidas pelas hordas de candidatos e mais candidatos oferecendo apoio político e se colocando como defensores vitais da fé e dos valores cristãos. De imediato quero pontuar que tenho pastores que são amigos meus e que apoiam políticos, e os levam em suas Igrejas. Meu problema não é com o exercício legal do direito de votar e ser votado, mas com a cultura errônea de que a Igreja depende essencialmente de apoio político para viver. 

É mais que verdade que no mundo atual ser influente é fundamental, e que viver sem conhecimento político é difícil, mas não é impossível, isto se aplica tanto na esfera pessoal, quanto na eclesiástica. Então votar para garantir direitos políticos privilegiados para cristãos não se justifica, de forma alguma, ainda mais quando se trata de cristãos, grupo do qual faço parte, cuja essência consiste na dependência absoluta de Deus. Afinal, isto é ser crente. 

Essencial para a Igreja é a prática da oração associada à leitura meditação da Bíblia. São estes fatores que garantirão vitória à Igreja em um ambiente hostil, tal como o que vai se instaurar no mundo nos momentos finais da Igreja aqui na terra. Creio ser desnecessário dizer que são justamente estas as atividades mais abandonadas. E o que dizer dos mais de quarenta milhões e evangélicos que não influenciam a nação? 

É justamente isto que me faz orar a Deus para que ocorra um avivamento no Brasil, do qual advenham como frutos a emergência de crentes que estejam dispostos a exercer a sua cidadania de modo digno e condizente com o Evangelho, que não façam de seus encargos eclesiásticos plataforma para projeção midiática e política, mas que através de um projeto político consistente o suficiente para atrair os de fora, ajam como sal em um ambiente tão pútrido quanto o político. 

Que Deus levante homens que julguem e pelejem pela causa da justiça, cujos valores pessoais, mais do que o discurso subverta a ordem reinante, cujo comportamento vá na contramão da cultura de corrupção que se estabeleceu na nação, que se encontra adoecida com tamanhos pecados, homens cuja percepção vá além da polarização entre esquerda e direita, capitalismo e socialismo, que de  fato entendam que o pecado é a raiz dos problemas, e que somente a vivência de um cristianismo genuíno pode remediar tal situação. 

Sem mais palavra, em Cristo, Marcelo Medeiros. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Hino Nacional em ritmo de funk



A exibição do hino nacional em ritmo de funk me causou asco, nojo, náuseas e tudo o mais que se possa nomear [aqui]. Não falo aqui pelo ritmo cuja única atratividade reside nos elaborados passos dos dançarinos e no remelexo chamativo das maninas, de forma alguma! Antes me refiro a uma das maiores contradições filosóficas, a de que tal como os discursos que revindicam liberdade, e terminam por produzir maior escravidão, o discurso da diversidade termina por produzir o seu extremo oposto. 

Ainda que em temos bíblicos não seja a favor da diversidade, reconheço quem culturalmente ela é importante, artisticamente nem se fala. Nesta aspecto a dessemelhança ritmica entre o baião, o carimbó, o forró, e mesmo o axé, é vital para que não se tenha a sensação de similar a de quem olha para o mar, as árvores, a areia e vê a mesma cor. Creio que se os olhos não se cansam de ver e nem os ouvidos de ouvir, dada a a esta múltipla percepção, sem entrar no mérito do quanto ela seja real, ou não. 

Há anos venho recebendo com verdadeiro horror os argumentos dos inclusivistas de plantão em favor do funk, e honestamente creio que eles defendam tal expressão cultural porque não são forçados por nenhum vizinho chato a ouvirem o que não querem, ou sequer possuem conhecimento e refinamento musical para entender o que acontece ali, é tudo a mesma coisa, o tempo todo. E como se não bastasse, agora é funk na Igreja. 

O curioso fato de meninas, da cidade de Cacimba de Dentro, no carimatu paraibano, fazerem uma coreografia com o  hino nacional em ritmo de funk, ao invés de xote a baião, demonstra o quanto o funk é letal culturalmente. Pior! Os argumentos em favor do mesmo que apelam a inclusividade, e tudo o mais são contraditórios, quando a realidade produzida não é a de preservação cultural, mas de homogenização. Minha previsão é de que precisaremos de muito, mas muito estômago

Marcelo Medeiros




quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Minha percepção a respeito do racismo no Brasil



Escrevo este post em razão de um link que um amigo meu, diga-se de passagem colega de cor, postou na minha linha de tempo no facebook [aqui]. Já escrevi aqui neste espaço a respeito da minha experiência com bullying na escola [aqui]. Falei também a respeito da carência de referenciais, modelos de negros bem sucedidos, e de como os brancos roubam a cena. E também da necessidade de uma real tomada de consciência [aqui]. Mas me neguei terminantemente a falar a respeito do ocorrido no jogo entre Grêmio e Santos. 

Primeiro, em razão do asco que a cena me causou. Segundo porque sei que parte da humilhação que um negro sente nestas horas se dá em razão da ausência de padrões afirmativos, conforme explicitei acima. Por último, porque para mim o racismo mais perigoso é o que emerge das ações afirmativas. É aquele que confina o negro à favela, a uma cultura específica, e uma, ou mais modalidades de profissão, ou seja, cria um estereótipo [aqui]. 

Uma observação que tenho a fazer é que nunca soube que Pelé tenha sido vítima de preconceito, e sabe por quê? Ele é o Pelé e pronto. Ele, o Edson não me representa, e nunca soube que ele tenha levantado uma bandeira, e caso o tenha não me interessa, apenas o cito para desvelar o problema real, que não se limita ao racial, mas vai para o social, e é aqui que todo cuidado do mundo ainda é bem pouco, A ação afirmativa (tal como o rap) é importante na formação de uma consciência, mas o domínio dos códigos culturais dos opressores também o é, visto que são eles que permitem a legitimação da cultura negra, e se isto não for feito por quem é negro é feito por quem não é e apropriado. 

A fala de Emicida é de extrema importância, porque mostra que mesmo tendo leis contra a prática de racismo existem discursos que velam e mecanismos jurídicos que permitem que a lei seja descumprida. Além disto, agora falo como cristão, a lei nada mais faz do que expor a pecaminosidade humana. Vejo na cultura, nos estudos e no exercício de minha profissão a melhor ação afirmativa e meio para sobrevivência. Afinal, o que o rap representa para o rapper entrevistado, o direito e os estudos representaram para o ilustre Joaquim Barbosa, para a digníssima desembargadora Ivone Caetano (infelizmente ainda raríssimas exceções neste jogo tão desigual). 

Estou consciente de que nem todos os negros trabalharão no Itamaraty, ou serão desembargadores, ou ministros do supremo, ou rappers, pagodeiros e jogadores de futebol bem sucedidos. A verdade é que mesmo nas profissões em que permitem a ascensão dos mesmos a triagem é cruel. Mas isto apenas reforça a necessidade de contínuo domínio dos códigos culturais que concedem acesso às esferas mais elevadas de poder e a luta contínua contra toda forma de racismo, desde a explícita até a mais racista. 

Marcelo Medeiros

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Sermão do Monte: Pobreza e Humildade



Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos céus (Mt 5. 3 Bíblia de Jerusalém). Bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos céus (Mt 5. 3 Almeida Revista e Atualizada). Do que Jesus está falando neste texto, de pobreza material, ou espiritual, ou de nenhuma das duas? Por que algumas versões traduzem o mesmo texto com verbetes ("pobres" e "humildes"), que ao menos na cultura hodierna possuem significados tão diferentes? Qual é a essência da humildade bíblica? Ao que parece não há como escapar a estes questionamentos, eles precisam ser visto e revistos no discipulado, uma vez que conforme se deduz de uma leitura dos Estudos dos sermão do monte de Martin Lloydd-Jones é um dos aspectos do caráter do genuíno discípulo.

Um primeiro e importantíssimo passo é o entendimento de que ainda que na cultura atual, pobreza e humildade sejam dissociadas, na bíblica não era assim. Neste texto abordo a partir de um exegese do texto hebraico (Antigo Testamento), e do texto grego (Novo Testamento), o estreitamento entre o conceito de pobreza e de humildade, e como tal se deu. Mas creio ser de vital importância abordar os mesmos ainda que de passagem.

  1. O termo  עֲנָוִ֗ ('anawé usualmente empregado para descrever o aflito, aquele que depende exclusivamente de Deus e coloca sua esperança exclusivamente nele. 
  2.  עֲשֹׂ֤ות (tsnawé empregado para descrever a atitude do homem para com Deus (Mq 6. 8). 
  3. raramente se emprega דַּלִּ֣ (dal) para descrever a pobreza espiritual, via de regra este é empregado para descrever pessoas sem nenhum poder, ou recurso material. 
  4. וּשְׁפַל (shapal), e tem o sentido de abatimento (Pv 29. 23; Is 57. 15). 
O processo de exegese ainda coloca a indagação a respeito do que vem a ser de fato a humildade, o que obviamente me conduz primeiramente a uma definição negativa do termo. Ou seja, necessário se faz dizer o que não é a humildade. Assim,
  1. Humildade não é auto aviltamento, e muito menos a auto comiseração, ou depreciação pessoal. Brennan Manning fala de dois jovens monges que buscavam desenvolver a humildade e fizeram um pacto de se depreciarem mutuamente todos os dias. O resultado foi a apostasia de ambos, visto que conforme observa o autor, a humildade não é algo que se projeta de fora para dentro nos homens. 
  2. Humildade não é o mesmo que pobreza, o único ponto em que ambas se encontram é o senso de dependência que a escassez de recursos produz. Mas a convergência para por aí. É mais do que acertada a observação feita por Stott de que pelo fato de os necessitados não terem outro refúgio a não ser em Deus, a pobreza recebeu nuances espirituais e passou a ser identificada como a humilde dependência de Deus. Por isso o salmista intitulou-se "este aflito", que clamou a Deus em sua necessidade, "e o Senhor o ouviu", e "o livrou de  todas as suas tribulações
  3. Humildade não é ignorância, ou preguiça intelectual, na verdade, Martin Lloyd-Jones foi extremamente feliz ao afirmar que aqueles que são realmente grandes pensadores também são homens humildes, o perigo reside na pouca erudição. Este fato é igualmente destacado por Pascal, quando este afirma que as ciências têm duas extremidades que se tocam. A primeira é a pura ignorância natural em que se acham os homens ao nascer. A outra é a extremidade a que chegam as grandes almas, as quais depois de percorrerem todos os caminhos do que os homens podem saber, constatam que nada sabem e se descobrem na mesma ignorância de que partiram; no entanto, trata-se de uma ignorância sábia, que conhece a si mesma
  4. O seguimento da fala de Pascal possui seu eco nos ensinos do apóstolo Paulo, que disse: se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber (I Co 8. 2 ACF). Para o pensador francês, aqueles que ficam entre as duas extremidades, e que saindo da ignorância natural, não foram capazes de atingir a outra, possuem alguma noção desta ciência suficiente e fazem-se de entendidos estes perturbam o mundo e tudo julgam mal
  5. Todavia, a despeito desta distinção comum aos verdadeiros sábios, Jones prossegue dizendo que a humildade por ele considerada em seu estudo não aponta nesta direção, porque a humildade dos sábios é despertada pela vastidão dos conhecimentos, e não é necessariamente, a verdadeira humildade de espírito no sentido escriturístico
  6. Esta última consideração é necessária em razão do clima anti intelectual que predomina no Brasil [país do qual escrevo], em que a ênfase é colocada na práxis em detrimento do referencial teórico. No meio pentecostal, é como se a intelectualidade fosse antagônica ao agir e mover do Espírito de Deus, nada mais falso. 
  7. Consequentemente humildade não é uma virtude que o ser humano possa forjar e desenvolver por sua própria força, ou disciplina. Ela não está ligada a aparência exterior, pelo contrário! Quem muito investe na aparência, na verdade está procurando ocultar algo a respeito de si mesmo. 
Creio que esta confusão inicial a respeito da humildade tenha uma outra razão. É preferível ver a soberba como algo que está nos outros ao invés de algo que está em si, e da qual se exige cura pessoal. Além do mais a autoconfiança, a segurança própria e a auto dependência, tão comuns ao homem e ao espírito da época presente, são diametralmente opostas ao ensino do Evangelho a respeito da humildade. 

Na verdade tenho visto o púlpito do ambiente no qual me encontro cercado por uma fanfarronice que destoa de tudo o mais que se vê nos Evangelhos e nas epístolas paulinas. Homens que sequer chegam perto do que foi Paulo e Jesus se gloriando em coisas vãs e inúteis, tais como o fato de viajarem por todo o mundo, se hospedarem em hotéis cinco estrelas. 

A autopromoção é a febre do momento, e não é para menos, afinal,  presente momento é mais midiático do que nunca, e que vai na onda contrária corre o risco de ficar para trás. Daí minha anuência à fala de Jones de que a humildade não é uma virtude nem apreciada e muito menos cultivada pela igreja. Mas o que vem a ser o homem humilde?
  1. Orlando Boyer define a humildade como o sentimento de pouco, ou nenhum mérito, ou seja é aquele sentimento de gratidão plena que toma o homem diante de uma realização. 
  2. Este sentimento foi devidamente expresso por paulo quanto este afirmou: mas pela graça de Deus sou o que sou; e sua graça a mim dispensada não foi estéril. Ao contrário, trabalhei mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo (I Co 15. 10 Bíblia de Jerusalém). 
  3. O leitor possivelmente tenha percebido que em momento algum Paulo se autodeprecia, pelo contrário, ele sabe que trabalhou mais do que todos os demais, mas ele dá a devida honra a Deus ao afirmar: não eu, mas a graça de Deus que está comigo
  4. Mas a humildade é  a completa falta de segurança própria e autodependência. Ela indica a consciência de que nada representamos na presença de Deus. Conforme afirma Jones, é aquele tremenda tomada de consciência de nossa própria nulidade quando chegamos a enfrentar Deus face à face
  5. Humilde é o homem que na presença de Deus é incapaz de sentir qualquer outro sentimento além de um senso de penúria espiritual. Foi este o sentimento que tomou conta do publicano da parábola do fariseu e do publico. No relato ele sequer ousa erguer os olhos aos céus ele tão somente afirma: sê propício a mim pecador (Lc 18. 13, 14). 
  6. Este mesmo sentimento se vê em Paulo, quando este esteve diante dos coríntios para lhes pregar o Evangelho
  7. Brennan Menning afirma que o homem verdadeiramente humilde não teme revelar, expor a si mesmo, expor os seus fracassos pessoais, ou como disse Paulo: gloriar-se em suas fraquezas pessoais, mas confia na graça e no poder de Cristo (II Co 12. 8 - 10). 
  8. Jesus disse: em verdade vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criancinha não entrará nele (Lc 18. 17 Bíblia de Jerusalém). Mas o quê Cristo quis dizer com isto, que toda criança é salva? De modo nenhum! 
  9. Nas passagens sinóticas deste texto (Mt 19. 13 - 15; Mc 10. 13 - 16; Lc 18. 15 - 17) pode-se observar um elemento comum, o de que a referida fala de Cristo antecede o relato do jovem rico, cujo maior problema não está na sua riqueza, mas na autossuficiência, e isto, ao ponto de afirmar que guardava todos os mandamentos (Mt 19. 16 - 22; Mc 10. 23 - 27). Mas qual o perfil do homem que se faz tal qual uma criança?
  10. Brennan Manning insinua no clássico o Impostor que Vive em Mim que sob a visão rousseauniana a sociedade aprendeu a ter uma visão ingênua a respeito da infância, a criança nos tempos bíblicos era desprezada, o homem humilde possivelmente o seja, visto que não investe em imagem pessoal, nem vive para projetar a si mesmo. 
  11. Além domais conforme pontua Jonh MacArthur, as crianças têm entrada gratuita no reino não em função da ausência de corrupção, mas pelo fato de nada poderem fazer por si mesmas, e Deus em sua misericórdia as assiste. 
Esta marca do discípulo é gerada tão somente pela ação do Espírito Santo de Deus, que ao transformar o coração humano restringe a soberba, ou melhor, desperta no homem o senso de dependência divina. É a estes que o Reino de Deus é oferecido. Falarei melhor sobre a segunda parte deste texto no próximo estudo. Forte abraço em, Cristo. 

Pr Marcelo Medeiros. 

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O perigo da Busca Pela Autorrealização Humana



Ao longo desta série de Estudos venho tratando de uma questão pontual para Tiago, o pecado. Ele está presente na concupiscência que age como um caçador de forma a atrair e ludibriar o indivíduo (aqui). Ele, se manifesta nas atitudes e gestos mais triviais que se pode perceber, tais como a acepção de pessoas (aqui), e no mau uso da língua (aqui e aqui). Mesmo a sabedoria humana pode vir a se perder, se guiada e orientada por sentimentos animais, terrenos e diabólicos (aqui). Hoje abordarei como os desejos prejudicam os relacionamentos na Igreja. 
De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? (Tg 4. 1 NVI). 
É uma pergunta intrigante, com uma resposta ainda mais instigante. Fato é que em consonância com boa parte do que já afirma a filosofia grega, Tiago afirma que a guerra (polemoi [πολεμοι]) bem como as contendas (machai [μαχαι]), tem como principal causa os desejos que guerreiam nos membros do destinatário. 

Segundo MacArthur o emprego de πολεμοι e de μαχαι por Tiago indica que que ele esteja falando de conflitos externos interpessoais, jamais de embates intrapessoais. O termo paixões é a tradução mais exata de ηδονων (hedonoon), palavra da qual vem  o termo hedonismo, que é uma doutrina moral que considera o prazer como sendo o alvo principal da vida. Em outras palavras ao eleger o prazer como o alvo máximo da vida o indivíduo acaba por se submeter a todo tipo de guerra entre os membros que compõem o corpo e guerras interpessoais. 

O verbo guerrear é a tradução do verbo grego στρατευω (strateioo), do qual procede a palavra estratégia, que em termos práticos e contextuais é a habilidade individual de empregar a astúcia, sagacidade e esperteza a fim de conseguir algum objetivo. Em outras palavra a concupiscência faz  om que o indivíduo trame o que necessário for para atingir a satisfação daquele desejo. 
Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem  (Tg 4. 2 NVI). 
Dar vazão a concupiscência não é sinônimo de realização. O curioso neste caso é que os gregos tinham um conceito de felicidade, que não aparece nas Bíblia, a eudaimonia (έυδαιιμονια), cujo sentido é o de supressão dos desejos sob a orientação do daimon. Fato é que as negativa externa do desejo faz com que as pessoas matem e invejem, em outras palavras, alimentem toda sorte de sentimentos ruins umas para com as outras. 

Tal como ocorreu com Caim, o fato de se deixar ser levado pela inveja e intentar contra o outro é tão perverso quanto o homicídio. Geralmente os escritores bíblicos empregam ζηλον (zeelon), para se referirem ao ciúme, ou a emulação.alguns autores entendem que esta seria a terminologia mais aplicável neste contexto. 

Tanto a inveja quanto o ciume, que são tratados pela psicologia moderna como afetos bem próximos são danosos. O mais curioso é que nosso mundo midiático estimula ao máximo tais sentimentos, ao apresentar artistas, atores, e demais homens e mulheres bem sucedidos como padrão de bem estar e de felicidade, quando na verdade tanto o caminho para esta felicidade quanto a realização em si são dolorosas, visto que o homem pode ganhar o mundo, mas perder a alma no meio do caminho. 
Não têm, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres (Tg 4. 2, 3 NVI).
O verbo grego αιτέω (aiteoo) é empregado para a realização de pedidos e no contexto do Evangelho, para os pedidos em oração. Neste caso, como a oração é motivada pelo ciúme, pelo desejo que o que faz a prece tem de se assemelhar ao outro, ou de ter aquilo que o outro possui, esta não é atendida. Neste contexto o pedir mal nada tem a ver com o fato de orar sem fazer as devidas especificações, como se Deus precisasse de tais expedientes para atender ao crente. 

A verdade bíblica é que ele, Deus, conhece aquilo que todo e qualquer crente necessita e precisa antes mesmo que estes peçam qualquer coisa para ele. Davi afirma categoricamente: antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu já a conheces inteiramente, Senhor  (Sl 139. 4 NVI). E Jesus ao ensinar aos seus discípulos a respeito da oração lhes garantiu: o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem (Mt 6. 8 NVI). 

O pedir mal conforme o próprio texto sugere consiste no pedido feito com fins hedonistas, visto que prazeres, ou deleites, é a tradução do termo ηδοναις (hedonais). Todo pedido que tem um fim como o descrito nas linhas acima é motivada por um desejo mal, o que traz rejeição à oração. 
Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus (Tg 4. 4 NVI). 
Com base no entendimento dos versos anteriores, afirmo que o adultério aqui consiste no fato de o crente colocar a busca pelo prazer acima da busca pessoal por Deus. Na sátira Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, C. S. Lewis coloca na boca de Fitafuso uma fala que revela um conceito interessante, qual? O de que todo prazer na verdade emana de Deus, e quando aquele ao invés deste se torna um fim em si mesmo, o homem se perde em uma busca desenfreada. O mais interessante é que a estratégia do inferno é fazer o homem buscar cada vez mais prazer fora de Deus e obter uma satisfação cada vez menor. 

Tal ato é um adultério porque altera a essência do homem, que foi criado para ser movido por Deus, e somente por este. Ao alterar tal característica humana, ocorre uma falsificação do ser e do indivíduo. Mais importante ainda é o fato de que esta é a linguagem espiritual que os escritores do Antigo Testamento usam para se referir ao Israel infiel como se o mesmo fosse uma prostituta (Jr 2. 20; 3. 1, 5, 8, 9; Ez 16. 26 - 29). Jesus se referiu à sua geração como sendo adúltera e perversa (Mt 12. 39; 16. 4). 

Agora convém perguntar: em que sentido a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Existem quatro sentidos para a palavra mundo

  1. No sentido clássico é o universo físico (Sl 24. 1; Jo 17. 5)
  2. A ordem das coisas que tem o homem como o seu respectivo centro - é neste sentido que se fala em consumação do mundo (Mt 13. 38; Jo 16. 21). 
  3. A humanidade (Mt 18. 7; Rm 3. 19). 
  4. Uma ordem de coisas separadas de Deus, que tem Satanás como o seu príncipe (Jo 12. 31; 14. 30; 15. 18, 19; I Jo 5. 19). 
Tiago está se referindo neste texto ao mundo conforme falado por Jesus e por João que disse: 
não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre (I Jo 2. 15 - 17 NVI). 

 O homem que se entrega à sua concupiscência e abraço o presente século é tão adúltero quanto a nação de Israel o foi em seu sincretismo. 
Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes? (Tg 4. 5 NVI). 
Este ensino, na verdade é uma combinação de textos do Antigo Testamento, visto que tal citação não é encontrada como tal na tanakh. via de regra a tendência comum é interpretar tal texto como se aqui fizesse uma menção ao Espírito de Deus, nutrido ciúmes pelo crente em razão de sua infidelidade. Ao meu ver tal interpretação não é de todo má, visto que nas mesmas Escrituras se afirma que Deus é ciumento. 

Foi Davi Stern quem propôs uma interpretação antagônica a esta, ao afirmar que na verdade este texto não faz menção ao Espírito de Deus, mas ao espírito decaído do homem, que o faz desejar as coisas do mundo. O que pode ser confirma do pelo emprego textual que Tiago faz do termo e pela afirmação posterior, de que Deus concede maior graça. A alma do perverso deseja o mal, nem o seu vizinho recebe dele compaixão (Pv 21. 10 NVI). 
Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: "Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes" (Tg 4. 6 NVI).
Quando leio neste contexto que Deus concede graça maior, entendo que a graça que Deus dispõe ao crente é maior do que a natureza pecaminosa do mesmo. É como foi dito por Paulo ao afirmar que onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5. 20). A própria compreensão de que o desejo desenfreado pelo mundo é pecaminosa é fruto da graça de Deus. 

Tiago emprega o termo αντιτασσεται (antitassetai), do qual vem a palavra antítese, para se referir à oposição que Deus faz em relação ao soberbo. υπερηφανοις  (hupereephanois) é possivelmente a junção de υπερ (= acima) + ηφανοις  (=mostrar-se), em outras palavras o soberbo é aquele que se mostra, e a julgar pelo contexto aquele que se mostra possuidor de bens. Face ao exposto convém que o crente pondere sua vida a partir destas últimas recomendações de Tiago:

  1. Resistindo ao dibo, que neste contexto se faz presente na natureza decaída do homem (Tg 4. 7)
  2. Procurando maior proximidade em relação a Deus (Tg 4. 8 ). 
  3. Buscando pureza espiritual (Tg 4. 8)
  4. Eliminando toda a duplicidade (Tg 4. 8). Aqui aparece o mesmo termo διψυχοι (dypschoi), duplicidade de mente.
  5. Buscando pureza (II Co 7. 1; Tg 4. 8)
  6. Arrependendo-se (Tg 4. 9)
  7. Humilhando-se diante de Deus (Tg 4. 10). 
Em Cristo, Marcelo Medeiros

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