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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Minha percepção a respeito do racismo no Brasil



Escrevo este post em razão de um link que um amigo meu, diga-se de passagem colega de cor, postou na minha linha de tempo no facebook [aqui]. Já escrevi aqui neste espaço a respeito da minha experiência com bullying na escola [aqui]. Falei também a respeito da carência de referenciais, modelos de negros bem sucedidos, e de como os brancos roubam a cena. E também da necessidade de uma real tomada de consciência [aqui]. Mas me neguei terminantemente a falar a respeito do ocorrido no jogo entre Grêmio e Santos. 

Primeiro, em razão do asco que a cena me causou. Segundo porque sei que parte da humilhação que um negro sente nestas horas se dá em razão da ausência de padrões afirmativos, conforme explicitei acima. Por último, porque para mim o racismo mais perigoso é o que emerge das ações afirmativas. É aquele que confina o negro à favela, a uma cultura específica, e uma, ou mais modalidades de profissão, ou seja, cria um estereótipo [aqui]. 

Uma observação que tenho a fazer é que nunca soube que Pelé tenha sido vítima de preconceito, e sabe por quê? Ele é o Pelé e pronto. Ele, o Edson não me representa, e nunca soube que ele tenha levantado uma bandeira, e caso o tenha não me interessa, apenas o cito para desvelar o problema real, que não se limita ao racial, mas vai para o social, e é aqui que todo cuidado do mundo ainda é bem pouco, A ação afirmativa (tal como o rap) é importante na formação de uma consciência, mas o domínio dos códigos culturais dos opressores também o é, visto que são eles que permitem a legitimação da cultura negra, e se isto não for feito por quem é negro é feito por quem não é e apropriado. 

A fala de Emicida é de extrema importância, porque mostra que mesmo tendo leis contra a prática de racismo existem discursos que velam e mecanismos jurídicos que permitem que a lei seja descumprida. Além disto, agora falo como cristão, a lei nada mais faz do que expor a pecaminosidade humana. Vejo na cultura, nos estudos e no exercício de minha profissão a melhor ação afirmativa e meio para sobrevivência. Afinal, o que o rap representa para o rapper entrevistado, o direito e os estudos representaram para o ilustre Joaquim Barbosa, para a digníssima desembargadora Ivone Caetano (infelizmente ainda raríssimas exceções neste jogo tão desigual). 

Estou consciente de que nem todos os negros trabalharão no Itamaraty, ou serão desembargadores, ou ministros do supremo, ou rappers, pagodeiros e jogadores de futebol bem sucedidos. A verdade é que mesmo nas profissões em que permitem a ascensão dos mesmos a triagem é cruel. Mas isto apenas reforça a necessidade de contínuo domínio dos códigos culturais que concedem acesso às esferas mais elevadas de poder e a luta contínua contra toda forma de racismo, desde a explícita até a mais racista. 

Marcelo Medeiros

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