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quinta-feira, 6 de março de 2014

Uma palavra a respeito de retiros


O carnaval tem sido um período emblemático em nossa cidade. Falo isto em razão de ser um período de grandes deslocamentos. De um lado os que se deslocam para os grandes centros em busca dos famosos e tradicionais blocos carnavalescos, de outro os que fogem da agitação, e assim aproveitam o feriado para estarem com a família. No meio de ambos os que por falta de opção ficam na cidade em meio ao caos que se instala no trânsito dado o fechamento de ruas, desvio do tráfego de veículos, enfim, da reorganização da cidade para o atendimento dos foliões. Que opinião posso emitir como cristão a respeito deste assunto?
Primeiro entendo que seja louvável por parte de cristãos aproveitarem o feriado para período de descanso, seja este feito em casa, ou por meio de uma viagem, afinal este é o principio da ordenança sabática: que o homem tenha uma época, na verdade mesmo uma fase para descanso. É pertinente aqui a observação de que até para a terra Deus ordenou um descanso sabático, que se dava de sete em sete anos.
Assim, se o crente poder viajar, que viaje, afinal, conforme dito acima a cidade do Rio de Janeiro, no afã de atender aos turistas e de organizar toda uma estrutura para os foliões acaba por se tornar um lugar insuportável para quem fica. Na ausência de opção, ficar dentro de casa, sem se quer colocar a cara na janela é a melhor opção. O leitor me perdoe, mas esta é a minha opinião. Não tem nada a ver com o ser crente, mas com a certeza de que se não sou alegre pelo simples fato de ser pai, de estar em família, nada mais me fará uma pessoa contente. Detesto esta coisa de separar um período do ano para ser alegre e viver em um inferno o resto dos trezentos e sessenta dias.
(Retomando o raciocínio) É aí que entra a Igreja. Segundo, creio que tanto para quem fica, quanto para quem vai, a Igreja pode criar atividades de suma importância. Quando criança fui criando em uma comunidade na qual raramente as pessoas viajavam, ou saíam em período de carnaval. Enquanto o mundo estava na folia, os crentes estavam orando e estudando a Bíblia (e como sinto falta destes estudos! Não somente pelo estudo em si, mas pela oração, pelas experiências proporcionadas aos que participavam de tais encontros).
O próprio retiro (nunca estive em um!), precisa ser repensado. Ouço com extrema frequência anúncios de tais reuniões e não percebo um foco voltado para a espiritualidade, para estudo, oração, e sem querer ser judicioso, percebo nisto uma mudança paradigmática. Vivemos um evangelho de entretenimento, e o retiro é apenas mais uma opção neste mercado, mais uma opção de passa/tempo. Como se o tempo fosse algo que pudéssemos desperdiçar. Como se vida não valesse à pena ser vivida em sua totalidade e acelerássemos o controle remoto para que aquele tempo passasse.
Quero esclarecer que não entendo que a alegria e a busca pela espiritualidade sejam mutuamente excludentes. De forma alguma! Mas a Igreja precisa orar, e com urgência por um avivamento, a fim de que possamos experimentar algo novo nesta área. Não se trata de mais uma inovação, mas de renovação, do velho com um novo olhar e com uma perspectiva diferente, ou de abertura para o que jamais fora experimentado. Do contrário, seremos como o mundo, aguardando um período específico para ser alegre e feliz.
Não é demais lembra a frese de Pascal que o vazio do coração humano é do tamanho de Deus, e algo do tamanho de Deus precisa ser colocado ali, do contrário, o homem não acha satisfação. Ou então, a frase de Santo Agostinho:  Vós o incitais para que se deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para Vós, e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós. Tanto no primeiro quanto no último é recorrente a ideia de que somos um fragmento da criação, que sequer somos completos em nós. Daí o sacrifício que as pessoas fazem para se divertirem nesta época, e a capacidade de superação de obstáculos, por parte das mesmas, para atingir tal fim. Mas quando passa tudo como dantes no reino de Abrantes.
Gostaria de pontuar que a ideia do retiro deveria ser a do homem ficar só, e de acordo com Pascal, isto é tudo o que homem evita fazer (isto dá uma tese, afinal Brennan Manning pode nos dar testemunhos maravilhosos desta nossa deficiência. Foi o que Jacó fez quando deixou a família e transpôs sozinho o vau de Jaboque e passou a noite lutando com Deus), afinal o homem não quer se ver de frente com a sua miséria, com aquilo que ele é. E é aí que entram os passatempos, afinal, se forem tirados, o que temos, um reles mortal.
Mas o Evangelho tem a finalidade de colocar o homem de frente com sua miséria e de expor Deus como a solução para a mesma. O papel da Igreja é pregar o Evangelho. Mas em nossos dias este papel tem se expandido da proclamação para a criação de meios que viabilizem a proclamação do Evangelho, e para isto, tanto o retiro, quanto as reuniões de estudo e oração na Igreja são de fundamental importância.
 
Marcelo Medeiros, em Cristo, nossa alegria.

3 comentários:

  1. Louvo a Deus pela visita de meu pastor e de minha igreja. Nossos retiros são verdadeiramente espirituais. Três encontros diários de oração, celebração e busca da vontade revelada do Pai em sua Palavra. Meu pastor avisa com antecedência e insistência: o retiro da Igreja Batista Memorial não é lugar de passeio, mas de confronto e imersão na Palavra.

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    1. Márcia admiro e muito o trabalho de Banhoeffer (vida de comunhão). Foi com este teólogo que aprendi que o conceito de retiro envolve solidão. Deus a abençoe juntamente com seu pastor e toda sua Igreja.

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  2. Eu participei de três retiros espirituais na ADERC - Assembleia de Deus em Rio Comprido (1994,1995 e 1996) e da Primeira Igreja Batista em Copacabana (2001); sinceramente, foram perfeitos na busca da Palavra e busca por aprender mais sobre intimidade com Deus. Desde então, não participo de mais nenhum, pois tenho visto esta rede de entretenimento. Não há um regulamento interno, não há uma programação edificante e muito menos há um retorno que venha impactar e envolver a igreja no mesmo espírito. Eu fui batizada com Espírito Santo em um retiro, junto com mais 13 jovens e quando voltamos a ADERC parecia que estava no céu, porque toda a igreja se viu no mesmo Espírito. Aqueles anos, foram anos de evangelização, aprendizado e muita busca por Deus. Sinto falta disso! Amei seu texto, como sempre!

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