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terça-feira, 21 de outubro de 2014

Professores dando Aula em Ritmo de Funk



Uma das coisas que mais abomino na vida é o seguinte discurso: os salários dos profissionais de educação precisam ser melhorados para que os melhores homens se sintam atraídos pelo exercício da profissão docente. Não é que os professores não mereçam ganhar mais, de forma alguma! É que ao meu ver este discurso traz implícita a noção de que o magistério não é exercido pelos melhores. Algo do que duvido. No programa de pós graduação latu sensu pode perceber que isto está bem longe da verdade. Sim, as melhores exposições monográficas que vi ali eram justamente as dos que de alguma forma eram ligados à docência. 

Alguns dos trabalhos de conclusão de curso que presenciei eram ensaios acadêmicos que visavam refletir, criticar e superar a prática docente nos ambientes nos quais os profissionais exerciam suas respectivas práticas. Enfim, tem professor fazendo de tudo e algo mais para que os alunos aprendam, desde ensinar cantando pagode e samba, mesmo que desafinado (não estou falando da música de Tom Jobim), e até introduzindo funk na aula. 

O vídeo que está bombando nas redes sociais é o de um professor de química que ensina a matéria por meio do funk(aqui e aqui). Antes de falar da prática do mesmo, uma palavrinha sobre o funk. De-tes-to. O funk é um parasita que se alimenta do discurso do politicamente correto e da inclusão e sem que se perceba se torna hegemonia. Sim tudo o que ouço está ligado a funk, carnaval, festa junina, festa de aniversário, festa de criança, tudo é funk. 

Uma das grandes sacadas da Pedagogia Escola Nova (ou Pedagogia Escolanovista, ou escolanovismo, como o leitor quiser) é a percepção de que o aluno tem de ser o maior interessado, e que sem o interesse por parte do mesmo, não ocorre real aprendizado. Uma ideia que ocorreu a Leibniz mas que por não ter a menor intenção de acontecer passou batida. Em sua crítica ao empirismo inglês ele deixou escapar que ainda que o conhecimento se aprenda por meio da experiência, contudo a inclinação a determinado tipo de conhecimento é inata. Resultado um insigth maravilhoso como este ficou encoberto pela nuvem do inatismo. 

Em sua crítica à filosofia de Tales de Mileto Nietzsche traz esta verdade à tona. Para este filósofo a palavra sábio vem de sabor, saborear, indicando antes de tudo o gosto pelo conhecimento. Sim, sapiência tem a ver com sabor, paladar. Esta idéias me ocorreram enquanto assitia este vídeo, daí o fato de ver a metodologia com cautela. Sim, retornando a Nietzsche, ele diz que a proposição de Tales, revela gosto pelo conhecimento, o que me leva a indagação a respeito dos fatores que constituem o gosto. 

Retornando ao vídeo, tenho de observar que a aula, se é que possa ser chamada assim, é divertidíssima, com certeza. Mas em um primeiro momento me senti tentado a falar a respeito da eficácia da metodologia de aprendizagem e agora abandono tal iniciativa simplesmente por perceber que para que tal ocorra, é necessário que educandos tenham aquela faculdade que os permita apreciar a beleza de uma teoria científica (isto é o que, ao me apropriar de Leibniz, Nietzsche e companhia, chamo de gosto, o paladar, a percepção do sabor). 

Mas como se dá a construção deste paladar epistemológico, se dá mediante a convivência entre educadores e educandos, e a percepção que estes tem a respeito daqueles. Creio que o segredo do fascínio que o professor exerce não é o funk, este é um mero intruso em algo maior, que graças a Deus ele não pode destruir, a fascinação que o professor tem pelo conhecimento que pretende ensinar. 

O depoimento de uma das ex alunas do professor, indica que o fascínio tem sido devidamente bem exercido, visto que para Paola Pugian a influência do professor em apreço foi decisiva para escolha de sua graduação, a de química. Minha opinião é por mais fascínio, e menos funk. Uma observação o vídeo que acessei é o de uma aula em um curso preparatório para o vestibular, possivelmente frequentado por quem tem um capital cultural considerável. 



Um abraço, Marcelo Medeiros. 

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