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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Parábola do Tesouro Escondido


Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.

Outrossim o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a (Mt 13. 44 - 46 ACF). 
Há tanta coisa aqui no mundo,que pertence a quem

achar, ricos tesouros escondidos,são de quem os encontrar,e

eu achei cristo,e ele me achou,e bem mais que isto,ele me

amou, pertenço á ele,sou todo dele,jesus é meu tesouro pelo

amor.

Os homens lutam por riquezas,que um dia vão ter

fim,mas o tesouro duradouro,meu Deus guardou pra mim,e eu

achei cristo,e ele me achou,e bem mais que isto,ele me

amou, pertenço á ele,sou todo dele,jesus é meu tesouro pelo

amor (Édson Coêlho). 
O Reino de Deus, aqui chamado de Reino dos céus é um tema mais que recorrente na pregação de Cristo. Tanto ele quando o Batista conclamam o povo ao arrependimento face á chegada do reino (Mt 3. 2; 4. 17), tanto que as boas novas que o Messias traz são chamadas de notícias do Reino (Mt 4. 23) mas o que vem a ser este? Creio que seja objetivando uma resposta a esta pergunta que Cristo faz do principal tema de sua pregação, o cento do seu ensino. 

No capítulo 13 do Evangelho de Mateus, é possível de se identificar  cinco parábolas que revelam os mistérios do Reino de Deus, inclusive a respeito da natureza do mesmo. Começo com esta por ser, ao meu ver a mais esclarecedora a respeito do principal tema da pregação de Jesus e centro da expectativa dos público a quem tais exposições foram feitas. 

I) O Reino é semelhante

Do momento em que leio a respeito do Reino e percebo que uma das marcas distintas do mesmo é o seu caráter duradouro, ao passo que todas as coisas do mundo passam, percebo que o emprego do termo ομοια (omoia), cuja tradução em nosso idioma é a de semelhante, não pode ser compreendido como constituído da mesma substância. A colocação de que o Reino é semelhante a um tesouro escondido é analógica. 

O texto bíblico afirma categoricamente: as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,e não subiram ao coração do homem,são as que Deus preparou para os que o amam  (I Co 2. 9 ACF), daí que para que as mesmas pareçam minimamente compreensíveis aos homens a linguagem seja acomodada. Afinal, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente  (I Co 2. 14 ACF). 

Logo, tudo que se possa falar das realidades espirituais, incluindo aqui o Reino de Deus há de ser feito por analogia, comparação. Esta linguagem é muito comum nas Escrituras, tome por exemplo o livro de Apocalipse e comprove que para falar do cordeiro que foi morto e reviveu, João diz que viu entre os castiçais um semelhante ao Filho do homem (Ap 1. 13), cujos pés são semelhantes a latão reluzente (Ap 1. 15; 2. 18), ao ver o trono de Deus, e contemplar o que estava assentado sobre ele, o apóstolo amado o descreve assim: na aparência, semelhante à pedra jaspe e sardônica (Ap 4. 3). 

Ao descrever a vinda de Cristo, João o faz nas seguintes palavras: olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça uma coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda (Ap 14. 14). O autor de Hebreus afirma categoricamente que Cristo é o esplendor da glória de Deus (Hb 1. 3), e João descreve tal magnificência dizendo que o seu brilho era como o de uma jóia muito preciosa, como jaspe, clara como cristal (Ap 21. 11). 

Não há como traduzir o inefável em palavras, daí o uso recorrente à analogia. Agora, perceba a analogia que será feita, o Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. O que se pode aprender por meio desta comparação? Desde já quero dizer que tenho o próprio ensino de Cristo como padrão hermenêutico das parábolas, e partindo deste ouso dizer o seguinte: 1) o Reino é de sumo valor, 2) O reino é algo oculto. Logo, o mesmo nada tem a ver com as pretensões dos imaturos discípulos de Cristo, que esperavam a implantação de uma política teocrática, ou a restauração davídica e em consequência desta a expulsão dos romanos da palestina. 

II) Semelhante a um tesouro

A ideia de θησαυρω (theesauroo) nos remete àquilo que foi guardado em depósito, enfim, uma grande riqueza. Ao comparar o Reino de Deus com riquezas que estão ocultas, Jesus está dizendo que o Reino foi guardado em depósito. Mas que tesouros são estes? Para responder a estas perguntas preciso recorrer a Paulo. 

Em primeiro lugar pode-se falar da benignidade de Deus que conduz os homens em geral (o que inclui a mim e a ti), que conduz ao arrependimento. Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? (Rm 2. 4 ACF). 

Em segundo lugar, a riqueza é a forma com a qual Deus se faz conhecido em toda a terra, por meio da misericórdia que ele exerce nos eleitos. Paulo diz que ele suportou com paciência os vasos da ira, para que pudesse dar a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios (Rm 9. 23, 24). 

Em terceiro lugar, é preciso que se considere a riqueza divina por meio do perdão, da quitação das dívidas, e do alto resgate que foi para que os eleitos fossem remidos de sua condição de escravos espirituais, de sua vã maneira de viver, a fim de viver uma vida de santidade. Mas para simplificar quero afirmar que este tesouro é Cristo, sim Cristo, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça (Ef 1. 7 ACF). 

Mais adiante o mesmo Paulo afirma aos crentes de Éfeso, mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo (Ef 3. 8 ACF). Daí não ser exagerado que o tesouro do qual o mestre fala seja o próprio Cristo, visto que Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério [...] que é Cristo em vós, esperança da glória (Cl 1. 27 ACF). Mas se Cristo mesmo é o tesouro, por que se diz que escondido? A resposta se acha na natureza divina e humana de Cristo. 

III) Um tesouro escondido

Cristo é o tesouro do qual se fala na parábola em apreço e tanto a sua natureza divina, quando a humana revelam em que sentido ele está escondido. No tocante à natureza divina. Para Pascal, a maior verdade das Escrituras é a que a afirma o caráter oculto de Deus, ou seja, desde que o homem se corrompeu, ele o manteve em um estado do qual somente se livram por meio de Jesus Cristo. 

Daí o próprio Filho afirmar: ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11. 27 ACF). Isaías disse: verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador (Is 45. 15 ACF). Deus se torna acessível ao homem única e exclusivamente em Cristo, mas mesmo em sua revelação por meio de Cristo, ele ainda é o Deus que se esconde. Como? Simples somente aqueles a quem o Pai revela podem saber quem é Cristo. 

Quando perguntou aos seus discípulos que impressão o povo tinha a seu respeito, o povo o teve por algum dos profetas que haviam ressuscitado, ao indagar aos deus discípulos, ele obteve de Pedro a seguinte resposta: tú és o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16. 16 ACF). Diante da resposta do líder do colegiado apostólico, Cristo diz: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus (Mt 16. 17 ACF). 

O fato inconteste é que sem a revelação do Pai, Cristo é rocha de escândalo (I Pe 2. 6 - 8) e um motivo de contradição (Lc 2. 34). Todavia, para os que recebem a percepção celeste, Cristo é a pedra angular, a rocha de esquina, rejeitada pelos edificadores, mas para com Deus eleita e preciosa (At 4. 10, 11; I Pe 2. 4). A despeito de tudo isto a alegria do encontro com Cristo sobrepuja quaisquer alegrias terrenas e fazem com que o homem venda tudo o que possui. 

Um detalhe a ser devidamente percebido aqui é que o termo escândalo em nossa língua remete às circunstâncias que ofendem o decoro, ou à moral estabelecida, e de certa forma a vida de Cristo ofendeu o decoro e a moral contemporânea. Isto se deu quando ele comeu com pecadores (Mt 9. 10 - 13), entrou na casa de publicanos (Lc 19. 6 - 10). Mas longe de ser um mestre adocicado, Jesus foi bem austero com os seus discípulos, ao lhes dizer por exemplo que a justiça dos mesmos deveria de exceder em muito a dos escribas e fariseus (Mt 5. 20ss), e que os que tinham parte com ele deveriam comer da sua carne e do seu sangue (Jo 6. 49 - 66). 

Uma vez atento para estes aspectos, o leitor da Bíblia não se admira diante da fala em que Cristo declara bem aventurados os que não se escandalizam nele (Mt 11. 6). O termo σκανδαλον (skandalon), é mais do que o choque moral, ético, cultural, ele significa literalmente tropeço. Sim Cristo é uma rocha de tropeço, como bem colocaram Isaías e Pedro, em citação àquele. A única forma de não tropeçar em Cristo é crer nele. 

IV) A alegria do encontro com Cristo

Sempre fiquei inculcado com o fato do negociente ter de vender tudo o que tem para alcançar aquele terreno. Isto vai de encontro com a lógica de lucro, de acúmulo. Hoje percebo duas verdades, uma cultural e outra teológica. No campo cultural, a sociedade em que Jesus vivia não era capitalista, no teólogico, não há como fruir o reino de Deus sem que se perca alguma coisa. Geiler disse certa vez: a salvação é de graça, mas pode custar a vida. Esta é a dinâmica do Reino presente na maioria dos ensinamentos de Jesus. 

Quem deseja seguir a Cristo tem de estar disposto a abrir mão de sua vida, afinal o mundo tende a ser hostil ao Evangelho e a Cristo e o será em relação aos seus seguidores. Todavia mesmo no texto em que Jesus alerta seus discípulos a respeito do sofrimento que terão de enfrentar, ele fala aos mesmos a respeito da alegria duradoura que se fará em seus corações. 
Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará (Jo 16. 20 - 22 ACF). 
Zaqueu é um exemplo de que a alegria do encontro com Cristo supera, e muito renúncia que o Evangelho demanda. Depois de receber Cristo com alegria o publicano se dispôs a dar metade de seus bens aos pobres e em defraudando alguém restituir quatro vezes mais (Lc 19. 6 - 10). Este desapego se estende às demais áreas.

Este é o sentido da parábola em apreço. Fraternos abraços em Cristo.

Marcelo Medeiros. 

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