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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O Julgamento e a Soberania Pertencem a Deus



Creio que no sentido de exame e apreciação o julgamento seja algo da esfera humana, mas no que tange à sentença, jamais. É muito comum alguém dizer não julgueis, como se a Bíblia condenasse toda e qualquer forma de apreciação, quando na verdade condena é o juízo temerário (ou seja, aquele que é feito sem fundamento justo, daquele que é feito a respeito de alguém, sem provas suficientes). No presente estudo pretendo abordar a respeito deste tipo de juízo, bem como da arrogância dos que sem levar em conta a soberania de Deus fazem planos para o dia de amanhã.

O CONTEXTO E O TEXTO BÍBLICO

O juízo temerário é aquele que se faz sem que se leve em conta os perigos que o mesmo possa trazer. É a respeito deste que Tiago fala por meio das seguintes palavras:
Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala contra o seu irmão ou julga o seu irmão, fala contra a Lei e a julga. Quando você julga a Lei, não a está cumprindo, mas está se colocando como juiz. Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir. Mas quem é você para julgar o seu próximo?  (Tg 4. 11, 12 NVI). 
Mas em que consiste o pecado condenado aqui por Tiago? Creio que a resposta passe por uma consideração negativa a respeito das colocações feitas pelo irmão do Senhor, ou seja, o que ele não quis dizer. O que me leva a considerar que:


1) Tiago não está falando do confronto que se deve fazer ao irmão que está em erro

Jesus instruiu os seus discípulos da seguinte forma:
Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de modo que ‘qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas’. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publicano (Mt 18. 15 - 17 NVI). 
perceba que jesus orienta aos seus discípulos a  respeito dos passos a serem tomados quando um irmão erra. Vá a ele e o convença do seu erro. O verbo grego ελεγξον (elegchon), é o mesmo empregado para convencimento de erro(Jo 16. 8 - 12), repreensão (Ap 3. 19), redarguir (II Tm 3. 16), daí minha predileção pela tradução que a Nova Versão Internacional faz deste texto, por mostrar o erro.

Somente a exposição das Escrituras (que são o sopro de Deus), em conjunto com a atuação do Espírito Santo são suficientemente capazes de convencer ao crente, ou o irmão errado a respeito da gravidade do seu erro. Em um primeiro momento a Palavra é dita na esfera individual, em um segundo momento se recorre ao testemunho de duas testemunhas.

Por último se recorre à Igreja e somente mediante recusa em ouvir a Igreja é que se recomenda um tipo de disciplina, que consiste na consideração do contradizente como sendo não mais um irmão, mas alguém que é rebelde e contradizente, visto que não se deixa convencer pelos argumentos da Palavra de Deus.

2) Também não está falando da refutação ao falso mestre

Quem lê o livro do Apocalipse, a carta à Igreja de Éfeso, percebe que Jesus elogiou esta Igreja, por quê? Simplesmente porque ela colocou à prova alguns crentes que se diziam apóstolos, mas na verdade não o eram, e mais, os tais foram achados e julgados como mentirosos (Ap 2. 2). Quem dera em nossos dias houvessem mais Igrejas com similar postura!

Feitas os devidos esclarecimentos, preciso voltar ao tema conforme a abordagem feita por Tiago, que pede para que ninguém fale mal do seu próximo, e que este falar mal não pode ser confundido com o exercício do discernimento, cuja finalidade consiste na correta diferenciação entre o falso e o verdadeiro profeta, e menos ainda no ministério da exortação, que visa a correção do que está no erro 

Mas do quê então Tiago fala em seu texto? Creio que de alguma forma Tiago esteja se reportando ao ensino de Cristo sobre o juízo temerário dos homens. Mas sei que seu texto tem de ser lido sob o prisma do contexto geral de sua carta. Somente assim se constata que a religião praticada sem o domínio da língua é vã (Tg 1. 26, 27 [aqui]), que a fé em Cristo é incompatível com a acepção de pessoas e que esta em si já é um julgamento (Tg 2. 1 - 13 [aqui]), que a tendência da natureza humana decaída é maldizer o homem feito à imagem e semelhança de Deus, de disputar por proeminência, etc....

O JUÍZO TEMERÁRIO

Sim, Tiago está falando do juízo temerário que os homens tendem a fazer. Sim, mas o que vem a ser tal juízo? Para uma maior elucidação a respeito do que vem a ser um julgamento desta natureza, recorrerei ao sermão do Segundo Domingo do Advento, de autoria do Padre Antônio Vieira. Eis algumas colocações que o mesmo faz: 
  1. Em seu juízo Deus julga com o entendimento, ao passo que os homens o fazem com a vontade. Como a vontade humana é corrompida, a luz (Cristo), é julgada e condenada, ao passo que aquilo que representa o mal é absolvido, nas palavras de Vieira, o entendimento acha o que há, a vontade acha o que quer
  2. No juízo de Deus geralmente basta só testemunho da própria consciência; no juízo dos homens a própria consciência não vale testemunha. O maior exemplo foi José, cuja consciência mesmo limpa o levou para a prisão pela falsa acusação da mulher de Potifar. 
  3. No juízo de Deus as nossas boas obras defendem-nos, ao passo que no juízo dos homens o maior inimigo que temos são as nossas boas obras. A excelência de Abel, foi o motivo de desgosto de Caim, ao passo que a excelência de Davi, foi a causa da hostilidade de Saul. 
  4. Deus julga o que conhece; os homens julgam o que não conhecem. Este foi o caso de Eli, cujo juízo sobre Ana, justamente por não conhecer sua aflição. 
  5. O que faz o juízo dos homens o mais arriscado possível, é que Deus não julga senão no fim; os homens não esperam pelo fim para julgar. Daí a razão de Paulo haver dito: nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor (I Co 4. 5 ACF). 
  6. O juízo com que nos julgamos uns aos outros é a lei que pusemos a Deus  para que ele nos julgue também a nós
Daí o risco em se colocar como legislador no lugar de Deus. 

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

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