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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Nova Polêmica sobre as Quotas



As declarações do professor da Universidade Federal do Espírito Santo, a respeito da qualidade da formação dos quotistas caiu como uma bomba. Já expressei aqui neste espaço minha opinião a respeito das ações sociais tipo quotas nas universidades para negros, índios, pardos, e afins. Elas são boas medidas no tocante à correção de mazelas sociais, mas não como algo permanente até, porque o problema não está na entrada no mundo acadêmico, mas no percurso em si (aqui). Mas, ao que parece, os argumentos do professor Manoel Luis Malaguti não param por aí, para este, o fato de ser, ou não quotista influencia na formação (linha que foi veementemente desmentida pelo reitor da Universidade [aqui e aqui]). 

Já não é de hoje que ouço coisas do tipo. Tive o desprazer de ouvir em um debate sobre as quotas a seguinte declaração: entre ser operado por um médico quotista, ou ser operado por um que não foi, preciso ser operado pelo que não foi. Os argumentos do professor em questão e de todos que sustentam tal linha caminham na linha de um determinismo social, e contrariam a luta de docentes e mais docentes que lutam por uma educação que supere as mazelas socioeconômicas, viabilizando educação de qualidade para a grande maioria. Pior, sem fundamentos, afinal, qual é a pesquisa que foi realizada com o público quotista, para aferir a qualidade da formação dos mesmos, em quais dados concretos este professor baseia suas argumentações?

Creio que o raciocínio do professor supra encoberte duas questões históricas pontuais: o esnobismo cultural das elites que fazem da educação um meio para a manutenção dos status quo (daí que a invasão de negros, pobres, índios seja uma ofensa, um melindre), e o fato inconteste de que a educação superior contribui na ascensão social, o que faz com que a faculdade se torne objeto de desejo de gente que nunca leu Machado de Assis, Eça de Queirós, Oscar Wilde, mas que vai para a faculdade e se forma (preciso observar aqui que este perfil pode ser encontrado tanto em gente da elite, quanto em gente das classes média e baixa). 

Aqui sinto a necessidade de observar que nem de longe quero insinuar que a falta de leitura dos clássicos prejudique a formação. Não! E digo isto por uma razão bem simples, eles podem ser lidos durante e depois da formação, que é um processo que nunca se encerra, e este é o verdadeiro problema. 

Para Nietzsche a ciência advém de uma sabedoria que na verdade se exprime pelo gosto pelo conhecimento. Gosto por conhecimento é a capacidade de se apreciar a beleza das teorias, e é aqui que está a raiz do problema de nossa educação. Diante do por do sol, das cataratas do Niágara, ou do Monte Rushmore, ninguém faz a pergunta: para que isto serve? As pessoas simplesmente admiram, e mesmo reconhecendo que uma das finalidades da educação é a formação para o mundo do trabalho, ainda assim creio que sem um encanto similar ao que descrevi acima não dá. Quem pode afirmar que negros, pobres, índios e mesmo indivíduos elitistas quanto os de classe média não podem ter tal experiência? 

Voltando á temática das quotas há que se considerar que um problema tem sido ocultado e mais cedo, ou mais tarde terá de ser explicitado (na verdade já o foi, por Rubem Alves). Na impossibilidade de educação superior para todos foi criado o vestibular (uma forma de selecionar os bons, os qualificados, dos que não o são). Mas o reitor da UFES,  o professor Manoel Luis Malaguti, aqueles que defendem a meritocracia passariam no vestibular? E o que dizer da gama de alunos que merecidamente passam, mas não concluem? Estas são perguntas que precisam ser respondidas. 

Marcelo Medeiros. 

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