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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Discurso da formatura da primeira turma do SETEB ADECIN


No dia Vinte e quatro de Agosto tive a oportunidade de discursar para a primeira turma de formandos do Seminário Teológico Bereano da Assembleia de Deus em Cidade Nova. Relutei em postar o discurso aqui, porque julguei necessárias algumas mudanças no texto a fim de que a leitura do mesmo ficasse mais fluente, mas o cansaço decorrente das atividades ministeriais, laborativas e familiares não permitiu, então aqui vai o discurso.


Estimados concludentes do curso básico de Teologia do Seminário Teológico Bereano, da Assembleia de Deus em Cidade Nova, em parceria com o Instituto Alpha, da Assembleia de Deus em Viamão, RS. É com imenso prazer que vos dirijo estas palavras em tão especial data. Este é o momento em que celebramos o cumprimento, ou conclusão de mais uma etapa do vosso desenvolvimento. Durante o processo recebestes os nomes de alunos, discentes, aprendizes, estudantes, e tantos outros. Hoje sois o centro das atenções de vossos familiares, dos docentes e demais envolvidos no processo de vossa formação, e recebeis o nome de formandos. Em nossos dicionários este palavra é definida da seguinte forma: aquele que está recebendo formatura em algum grau ou classe de estudo; diplomando. Aproveito este momento para refletir a respeito do processo que vivenciastes ao longo destes dois anos e dois meses de estudos.

Devo dizer que vossa motivação inicial em vos matriculardes no curso, que proveitosamente concluístes, foi inicialmente a de adquirirdes mais conhecimento, MAIOR COMPREENSÃO DA BÍBLIA. Todavia, o conhecimento nasce da necessidade que o ser humano tem de explicar, ordenar o mundo e dar respostas a problemas específicos, indicando com isto que todo conhecimento tem um propósito. Com o fim de alcançar um determinado objetivo vos submetestes a uma rotina, uma carga horária de aulas presenciais, uma rigorosa disciplina de estudos, e avaliações. A preocupação dos docentes, e demais envolvidos no processo de formação foi a de fornecer instrumentos para uma maior aquisição de conhecimentos bíblicos, tão almejados pelos formandos. Não nos preocupamos, inicialmente com as diversas teorias formuladas no campo da teologia, mas em instrumentalizar a mesma de forma a alcançar nosso objetivo, prepará-los para o ensino, o discipulado, enfim, o cumprimento da missão cristã. Assim, na medida do possível nos focamos no conteúdo bíblico e construímos pontes entre o mundo e a cultura atual. Foi exclusivamente com este fito, que durante as aulas de Teologia, tivestes de ouvir literatura, Sociologia, Filosofia, Antropologia. CABE-NOS RESSALTAR QUE EM MOMENTO ALGUM BUSCAMOS PAREAR TAIS ÁREAS COM A BÍBLIA, MAS USAR OS MEIOS DA CULTURA, TAL COMO O ENGENHEIRO USA CONCRETO E MATERIAIS DIVERSOS PARA A CONSTRUÇÃO DE PONTES. Cremos que com relativo êxito alcançamos nosso objetivo inicial. A ponte está construída, agora é atravessar, é viajar, é ir e vir.

Hoje nos dirigimos a vós pelo nome de formandos, e sois, visto que estais sendo diplomados. Contudo, ser um formando jamais pode ser compreendido com o estar formado. O formado expressa aquilo que está acabado, concluído, terminado, que não mais pode ser aperfeiçoado, e em nada tem a ver com o caráter da caminhada cristã, que implica uma formação para uma transformação constante. Aqui peço a licença para me dirigir pessoalmente a turma, e o faço recorrendo inicialmente às palavras do filosofo Mario Sérgio Cortella, que em seu livro Não nascemos prontos (que particularmente recomendo), afirma:

O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: "O animal satisfeito dorme". Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais profundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.

A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.

O autor prossegue ainda dizendo:

Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer etc), ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: Por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.

Em outras palavras constitui-se imaturidade o entendimento de que o esforço necessário na constante aquisição de novos conhecimentos pode ser evitado. De forma alguma! Se este for a nossa empreitada todo o nosso objetivo, e todo vosso esforço acima delineado se perde. A inércia em avançar, prosseguir, produz ausência de criatividade e nos condena ao estado sub/humano, comparado ao do animal. Viver sob este perspectiva é o que nos permite entender junto com o filosofo que na verdade, não envelhecemos. Mudamos esta é a verdade, nos atualizamos, de forma que no ano de 2013 somos a mais nova versão atualizada de nós mesmos. O que chamamos de envelhecimento, a Teologia bíblica chama de corrupção, e a filosofia e a Teologia Sistemática chamam de acidente, ou mudança. Não quero com isto negar o desgaste natural pelo qual passamos, mas afirmar que a busca por conhecimento, por aprendizagem nos conduz inegavelmente à superação das nossas limitações físicas, intelectuais, morais e temporais. Em outras palavras: a formação tem de continuar, até mesmo porque ainda não recebemos a nossa moldura final.

As palavras do apóstolo Pedro são de fundamental importância para nossa reflexão final. Final? Não, de forma alguma, mas inicial, isto sim! No final de sua carreira este notável apóstolo fez as seguintes recomendações aos seus leitores:

Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum (II Pe 1. 5 – 10 Almeida Revista e Atualizada).

De acordo com o autor, não basta crer, é necessário associar a crença elementar com a virtude, do grego αρητεν, ou αρητε, cujo sentido é o mesmo de boa qualidade, excelência. Indicando com isto que a somente a fé e o desejo por coisas excelentes fundamentam a busca contínua por conhecimento. Sim, porque o sacrifício exigido por quem faz tal busca é que o pensamento seja continuamente focando em tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor (Fp 4. 5 NVI).

Não nascemos prontos. Ao virmos ao mundo nenhuma das qualidades acima descritas foram colocadas em nós. Elas são desenvolvidas na medida em que cremos, e em crer, acrescentamos a virtude, e à virtude o conhecimento. Uma vez que conhecimento não ocupa espaço, mas impica em responsabilidade, o dominio próprio tem de ser acrescido a este, e isto sempre com perseverança, uma vez que em nosso mundo, cada vez mais o saber vem sendo desvalorizado, e substituido por diversas formas de prazer e entretenimento. Isto faz com que a paciência seja cada vez mais necessária em nossa caminhada. Que jamais nos esqueçamos da piedade, visto que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria.

Usem os saberes e as ferramentas adquiridas durante o curso para construírem relacionamentos baseados na fraternidade e no amor. Afinal, uma das definições que nossos dicionários dão ao verbo conhecer é: travar relacionamento, logo, quem não se relaciona não conhece de verdade. Esta verdade foi percebida pelo gênio da física Albert Einstein que afirmou:

Ao refletir sobre minha existência e minha vida social, vejo claramente minha estrita dependência intelectual e prática. Dependo integralmente da existência e da vida dos outros. E descubro ser minha natureza semelhante em todos os pontos à natureza do animal que vive em grupo. Como um alimento produzido pelo homem, visto uma roupa fabricada pelo homem, habito uma casa construída por ele. O que sei e o que penso, eu o devo ao homem. E para comunicá-los utilizo a linguagem criada pelo homem.

Eu, enquanto homem, não existo somente como criatura individual, mas me descubro membro de uma grande comunidade humana. Ela me dirige, corpo e alma, desde o nascimento até a morte. Meu valor consiste em reconhecê-lo. Sou realmente um homem quando meus sentimentos, pensamentos e atos têm uma única finalidade: a comunidade e seu progresso. Minha atitude social portanto determinará o juízo que têm sobre mim, bom ou mau.

Para Einstein uma vida social sadia consiste no equilíbrio entre a solidão necessária à pesquisa e a vivência em comunidade, esta solidão que nunca é plena, visto que nosso conhecimento sempre depende dos demais. Daí a necessidade de relacionamentos fraternos a fim de que o mesmo se constitua. PORTANTO, NADA DE ADERIR ÀS MODAS E TENDÊNCIAS ATUAIS, CUJA MAIS PERNICIOSA É A DOS DESIGREJADOS. IGREJA É εκκησια, EM OUTRAS PALAVRAS COMINIDADE. É O LOCAL ONDE, SOB A GARANTIA DO SANGUE DE CRISTO VIVEMOS UA VERDADEIRA COMUNHÃO. Desigrejar-se é excluir-se deste maravilhoso projeto e não é esta a finalidade de um curso teológico. Por maiores que sejam os conflitos advindos da nossa nova condição, a de formandos, nosso alvo supremo deve de ser a edificação da comunidade a fim de que a mesma expresse ao máximo sua condição de corpo de Cristo, de lavoura de Deus, de morada deste em Espírito.

Por último, e não menos importante: conhecemos para trabalhar em função da melhoria e do progresso da comunidade. O conhecimento teológico se preta justamente a isto, o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, uma vez que a manifestação do Espírito é dada a cada um visando um fim proveitoso. Isto demanda amor, pois, aquele que não ama, não conhece a Deus, pois Deus é amor, e como escreveu Edison coelho e cantou Oséas de Paula, o amor é paz também é mais, o amor é vida. Conhecemos para a vida, e conhecer para a vida é conhecer para amar.

Me despeço de vós com o coração cheio de gratidão pelo prazer indescritível que tive de me relacionar convosco durante o período de nossa formação inicial. Digo nossa porque me considero ainda em constante processo de formação e fostes, na verdade tendes sido, de suma importância na mesma. O curso básico termina hoje, mas a formação não! Curso, palavra que denota o escoamento de águas de rios, córregos, fontes; a extensão percorrida pela massa líquida, o movimento real ou aparente, dos astros, indicando marcha, progressão em movimento. No sentido de etapa o curso acaba. Sim! Terminamos as seções de um programa de estudo, cumprimos o programa do curso básico, mas ainda há muito para progredirmos. Neste sentido, se o curso acaba corremos o risco de nos assemelharmos ao animal satisfeito, que dorme, ou a uma árvore infrutífera, deixamos de ser pessoas e nos tornamos coisas, envelhecemos. Minha oração é que cresçamos juntos na graça e no conhecimento de Cristo Jesus. Sigamos o curso da vida eterna, conhecendo mais e mais aquele que nos chamou por sua glória e virtude.

 

Rio de Janeiro, 24 de Agosto de 2013.

 

 

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