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sábado, 12 de janeiro de 2019

A Natureza dos Anjos - A Beleza do Mundo Espiritual




O que a Angelologia tem a ver com a matéria Batalha Espiritual? Na verdade a Batalha espiritual é um modo de explicar o conflito que a Igreja passa ao longo dos séculos. Tal explicação decorre da literatura apocalíptica, que por sua vez é povoada de anjos. Mas o que são anjos? O autor de Hebreus os define como espíritos servidores que trabalham em prol dos herdeiros da salvação (Hb 1. 14 paráfrase e grifos nossos). 

Tanto a expressão hebraica  מלאך (malak) quanto a expressão grega αγγελος (aggelos) significam mensageiro podendo ambas serem aplicadas aos embaixadores que tratam de assuntos humanos e que nesta função agem e falam em nome daquele que os enviou. No Novo Testamento, em apenas seis ocasiões αγγελος aparece se referindo à figuras humanas que exercem tais funções (Mt 11. 10; Mc 1. 2; Lc 7. 27) são citações de Ml 3. 1 em que a expressão מלאך faz referência a João Batista e a Jesus respectivamente. 

Em Lc 7. 24 a expressão αγγελων (aggelon) é traduzida pela Bíblia de Jerusalém por enviados, ao passo que na Almeida Corrigida Fiel é mensageiros. Já em Lc 9. 52 há uma narrativa da tentativa, por parte de Cristo, de entrada em uma aldeia de samaritanos em que ele envia seus discípulos. A Bíblia de Jerusalém emprega enviou mensageiros para traduzir απεστειλεν αγγελους  (apestelein aggelos). 

Sendo απεστειλεν a conjugação do verbo άποστελλώ a junção de άπο στελλώ, em que στελλώ é enviar. Os mensageiros são enviados, e ao serem enviados lhes é delegado um poder a autoridade para falarem e agirem em nome daquele que os enviou. Daí a autoridade exercida pelos anjos. 

Em sua Teologia "Sistemática" Franklin Ferreira afirma que em toda cultura "teísta" existe a crença em seres intermediários entre os homens e as divindades (no caso do politeísmo), ou divindade (no caso do monoteísmo. Uma leitura mais apurada da parte bíblica de sua Teologia sugere que em Israel ocorreu um desenvolvimento lento desta crença em seres intermediários. 

De fato, nos escritos tardo antigos a figura mais proeminente é a figura do מלאך יהוה, ou simplesmente Anjo do Senhor, ou Anjo de Iahweh (Bíblia de Jerusalém). Mas exegetas parecem indecisos diante do que venha a ser este ser, se uma manifestação do próprio Deus, ou se um ser especial que fala em nome do mesmo. 

Casos como o de Manoá dão a entender que na mentalidade judaica primitiva ocorria uma confusão entre estas duas figuras. Walter Eichrodt destaca em sua Teologia do Antigo Testamento uma série de funções que eram desenvolvidas pelo מלאך יהוה (Mala'k YHWH), que iam desde guiar e proteger aos que temem a Deus (Gn 24. 7 - 40; I Rs 19. 35ss; II Rs 1. 3, 15), prestar auxílio ao povo durante a peregrinação do deserto (Ex 14. 19; 23. 20, 23; 32. 34; 33. 2). 

Eichrodt também destaca que na literatura que visa narrar fatos antigos, tais como as origens de Israel, aparecem as figuras de anjos. Eles auxiliam o מלאך יהוה a executar juízos sobre Sodoma e Gomorra (Gn 19. 1, 15), aparecem em visão para Jacó (Gn 28. 12), aparecem em um acampamento (Gn 32. 2). Ao viajante Deus ordena anjos que o guardem a fim de que eles não tropecem com seus pés em pedra (Sl 91. 11). 

Contudo, diante de Deus eles não são descritos como seres absolutamente perfeitos. Dos próprios servos ele desconfia, até mesmo de seus anjos verbera erro (Jó 4. 18 Bíblia de Jerusalém). Ainda em outro texto Elifaz, o amigo de Jó afirma: até em seus santos Deus não confia e os céus não são puros aos seus olhos (Jó 15. 15 Bíblia de Jerusalém). 

A respeito do מלאך יהוה (mal'ak YHWH), Eichrodt afirma que a dificuldade em definir a identidade deste ser reside no fato de que em Israel não houve uma linguagem que permitisse ao judeu expressar a revelação do Eterno em termos que não confundissem o mesmo com o mundo criado, o que inclui o mundo físico e espiritual. 

Assim o מלאך יהוה (mal'ak YHWH), servia para facilitar ao mesmo a intervenção do Eterno na história. Eichrodt pontua a tentação que predominou no cristianismo de identificar este ser - o מלאך יהוה - com o próprio Cristo, mas argumenta que o מלאך יהוה só entrava na realidade por um período breve de tempo. 

No Novo Testamento, um Anjo anuncia à Maria, que ela irá conceber um que irá cumprir todas as expectativas messiânicas (Lc 1. 26 - 34), um Anjo aparece em sonhos para José e o instrui a receber Maria por esposa, e a dar ao filho desta o nome de Jesus (Mt 1. 18 - 25). No nascimento de Cristo, os anjos aparecem cantando e louvando a Deus, além de anunciarem as novas do nascimento do Salvador aos pastores (Lc 2. 8 - 15); o mesmo Anjo do Senhor avisa a José para fugir para o Egito e assim evitar com que o menino fosse morto e aparece novamente para ele a fim de avisar a José que os que queriam matar o menino estavam mortos (Mt 2. 13 - 23). 

Anjos sustentam a Jesus na tentação do deserto (Mt 4. 11; Mc 1. 12, 13). Anjos se fazem presentes no momento da ressurreição de Cristo (Mt 28. 2, - 7). São eles os primeiros anunciadores da ressurreição, evento que não fora testemunhado por nenhum ser humano, mas visto dos anjos (I Tm 3. 16). No ensino de Cristo a respeito do juízo vindouro, eles ocupam papel principal. são os Anjos que farão a separação final entre justos e ímpios (Mt 13. 39 - 42, 49, 50; 25. 31). 

De igual modo os Anjos são colocados por Jesus na ocasião de sua Vinda (Mt 16. 27; 24. 30, 31; 25. 31; I Ts 4. 16). Em regra o Novo Testamento emprega para a vinda de Cristo um termo que equivale à visita do Imperador a uma das cidades do Império (παρουσια - parousia). Quanto tal evento ocorre uma comitiva vem acompanhando o Imperador, é com este evento em mente que os escritores do Novo Testamento falam dos Anjos como parte do séquito que acompanha a Jesus em sua Vinda. 

O autor aos Hebreus é quem descreve em maiores detalhes as diferenças entre Jesus e todos os demais anjos, aplicando ao próprio Cristo falas e frases que o Antigo Testamento aplicava ao próprio Eterno (Hb 1. 4 - 14). O autor insiste em afirmar que a despeito da importância dos Anjos na outorga da lei (At 7. 38, 53; Hb 2. 2), foi ao Filho que Deus entregou o mundo vindouro (Hb 2. 5 - 9). 

A beleza do Mundo Espiritual é contemplada mediante visão, por parte dos visionários apocalipsistas (Ap 4 - 5), onde o louvor dos Anjos antecipa a vitória do cordeiro e de seus seguidores sobre o mal (Ap 7. 11, 12). Eles são adoradores, ao invés de objeto de adoração. Daí a recusa dos mesmos em receber adoração (Ap 19. 9, 10; 22, 8, 9). 

Enoque Etíope é o livro apocalíptico que descreve com maiores detalhes a queda dos anjos e a origem dos demônios. Nele o papel dos Anjos e os nomes são ampliados. Nas Escrituras do cânon protestante somente Miguel (Dn 12. 1) e Gabriel (Dn 8. 16; 9. 21) são mencionados. Em Tobias ocorre a menção a Rafael (Tob 3. 16; 4. 12; 6. 12; 12. 12 - 15), e em Enoque uma série de Anjos que ocupam o posto de Arcanjos de modo que:

  1. Cabe a Uriel a guarda do Tartaro, o  lugar em que se encontram presos os anjos que se rebelaram e os espíritos dos gigantes que povoavam a terra durante do período do dilúvio. 
  2. A Rapahel cabe orientar os homens, função que ele exerce no livro de Tobias. 
  3. A Raguel  cabe o exercício de julgamento no mundo das luzes. 
  4. Miguel  é o príncipe que rege a nação de Israel.
  5. Sarakael é o vigia dos espíritos que induzem dos homens ao pecado. 
  6. Gabriel é o Anjo que preside o paraíso, bem como os querubins e serafins. 
  7. Remiel. A este cabe presidir os ressurretos. 
Há muito ainda a ser explorado na literatura apócrifa e pseudo epígrafa a fim de se saber como pensavam os judeus e demais escritores do novo Testamento, inclusive no tocante aos anjos, e a perspectiva deste autor é de que com o tempo tais estudos possibilitem tais avanços e progressos nesta área e em diversas outras. 

Marcelo Medeiros, Pastor, Teólogo, Pedagogo e Especialista em Ciências da Religião. 

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