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domingo, 6 de janeiro de 2019

Batalha Espiritual - A realidade não pode ser subestimada



Uma leitura atenta do Novo Testamento coloca o leitor diante de um dado curioso; o da existência de um conflito entre as forças do mal e as forças do bem. O que não se sabe é que tais passagens que sugerem semelhante conflito são resultado da influência da literatura apocalíptica e apócrifa interbíblica. Com isto não pretendo dizer que que o NT seja uma cópia de tais escritos, mas que recebe sim clara influência destes.

A Batalha Espiritual está presente na pregação e nas curas e expulsões de demônios realizadas por Jesus, por exemplo. O anúncio do Reino de Deus coincide com a perspectiva judaica do primeiro século, de que a qualquer momento a realidade poderia ser transformada e o Reino de Deus irromperia na mesma. Assim, o anúncio deste representa a derrocada definitiva do mal.

É sob esta perspectiva teológica que o relato de Lucas a respeito da missão dos setenta tem de ser entendida. Cada cura, cada exorcismo, é sinal claro de que o mal está sendo derrotado, e de que Satanás, o Valente está sendo amarrado e os seus bens (as vidas humanas), estão sendo saqueadas (Mt 12. 28ss; Mc 1. 23 - 28; Lc 10. 19ss). Cito aqui tais textos apenas à título de exemplo. Minha considerações iniciais se baseiam nas leituras de Gordon Fee e Douglas Stuartt, além das Teologias Bíblicas de Joachim Jeremias e George Eldon Ladd.

O grande problema consiste no fato de que o movimento de "Batalha Espiritual" parece ignorar tais elementos exegéticos e importar ideias totalmente estranhas ao contexto histórico e cultural. É com este propósito que a  presente lição está sendo ensinada. o texto escolhido para a primeira lição da série de estudos é I Pe 5. 8 - 10. 
Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus nos chamou à sua eterna glória, depois de havemos padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoe, confirme, fortifique e estabeleça. 
Que, ou quais observações podem ser feitas a respeito deste texto? 

  1. Há no texto uma ordem para ser sóbrio, o que equivale a estar em constante vigilância. Aqui os termos são intercambiáveis. 
  2. O adversário (gr. διαβολος [diabolos]), anda ao derredor. Aqui um inimigo é destacado. Na verdade o nome significa acusador, ao passo que Satã sim é adversário em hebraico. 
  3. Todavia a palavra αντιδικος (antidikos) denota um adversário legal, que se opõe a uma pessoa em um julgamento. 
  4. A fé é o elemento fundamental para que se resista ao diabo, aqui personificado nos adversários que perseguem e acusam os crentes. 
  5. Com estas conotações iniciais, a batalha que teria uma ênfase pessoal, ganha dimensões espirituais. 
  6. O segredo da vitória neste ambiente hostil, é o Deus de toda a graça. É Ele quem dispõe dos recursos de sua graça para fazer com que os crente se tornem perfeitos, confirmados, fortificados e inabaláveis. 
Em geral, a primeira carta de Pedro fala a respeito do sofrimento cristão inicialmente, este é apresentado como sendo um meio pelo qual a fé é testada. Em outras palavras o teste autenticidade do cristão é o sofrimento, e de certa forma esta ideia retorna próximo ao fim da carta (I Pe 1. 6 - 9; 4. 1 - 5). O capítulo 2 traz a ideia de que não há problema em sofrer sendo justo, demonstrando com isto a crise que havia na comunidade da fé naqueles tempos, afinal, o sofrimento do justo sempre foi um dilema. A resposta para tal questão é que não há mérito em sofrer como ímpio, ou injusto, mas se sofremos como justos, encomendamos nossas almas ao criador e deixamos a justiça com ele (I Pe 2. 13 - 25; 3. 13, 14). 

Aquele que decide por seguir a Cristo, precisa estar armado com o mesmo sentimento que houve em Cristo, que sendo justo de dispôs a sofrer (I Pe 4. 1, 2). De forma que o "fogo", da tribulação que se alastra entre nós é sinal de que o mesmo Espírito que esteve em Cristo, está sobre nós (I Pe 4. 14). Fora o fato de que se Deus tem de julgar o mundo, ele tem de começar com a sua casa (I Pe 4. 17, 18). 

Mas as considerações apostólicas terminam com o apontamento de dois lados interessados nesta questão. De um lado o nosso adversário, de outro, nosso Deus. O primeiro é comparado aos leões, cuja fome os faz andar em derredor de potenciais vítimas, o segundo, dando aos seus o suporte necessário para suportarem o sofrimento. 

Daí minha total anuência aos comentários dos especialistas que produziram as notas da Bíblia de Estudo da Nova Versão Transformadora, para os quais  διαβολος [diabolos] é um nome genérico para um acusador, ou um difamador, o que é confirmado por Robinson (2012). Assim, há de se levar à sério a possibilidade de que este texto na verdade esteja falando dos acusadores e adversários dos cristãos nos tribunais.

Em todos os casos, é nítida a ideia de que a apocalíptica judaica influenciou em muito a percepção dos cristãos do Novo Testamento. Isto é tão verdadeiro que um estudioso judeu como Geza Vermes proponha o estudo de tais escritos como suporte exegético para a compreensão do Novo Testamento. E na apocalíptica os males sofridos pelos cristãos não são de origem exclusivamente humana, mas partem de um adversário espiritual que o Ap de João identifica como sendo tanto  διαβολος [diabolos], quanto Satanás (Ap 12. 9 - 18). 

Na expectativa de que com este estudo o interesse sadio no tema seja renovado, me despeço por agora. Em Cristo, Pastor Marcelo Medeiros. 

3 comentários:

  1. Obrigada por nós presentear com esse estudo pastor,enriquece bastante nossa aula. Deus abençoe!!

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  2. Obrigada por nós presentear com esse estudo pastor,enriquece bastante nossa aula. Deus abençoe!!

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  3. Obrigada pelo texto, pastor e amigo!

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