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terça-feira, 5 de novembro de 2013

Baby, baby, baby ou...... (algo bem próximo da depressão)

 
Domingo passei um perrengue para chegar em minha residência, as ruas fechadas em razão do Show do Justin Bierber (seria esta a forma correta de escrever o nome? Sei lá), o que me obrigou a andar a pés e ver algumas cenas que consideraria patéticas. Pessoas simulado desmaios e crises convulsivas, gritado freneticamente, umas por não possuírem o dinheiro para o ingresso, e outras por que mesmo com dinheiro, não conseguirão os tão almejados ingressos. Mais enervante ainda foi a cena em que produtores do evento fingiam desprezo pelas fãs, como se seus proventos, e os do suposto astro não tivessem em todo aquele fanatismo a sua origem.
Os leitores por favor, não me levem à mal, mas usamos o termo patético de forma errada. Ele advém do grego pathos (παθος) e é corretamente definido em nosso léxicos on line como sendo a arte de despertar nos outros os sentimentos ou afetos de que estamos possuídos. Em outras palavras, o que não é patético não pode ser considerado como arte, uma vez que patético é aquilo que comove fortemente. Mas não é com isto que me incomodo. Na verdade meu espanto vem da observação de que é justamente o contrario que está ocorrendo.
O que está acontecendo na verdade é o culto ao ridículo. Dizemos que algo é patético quando na verdade, estamos falando que algo é ridículo. Dando a palavra ao pai dos burros o ridículo é algo  merecedor de escárnio ou zombaria, que se presta à exploração do lado cômico, irrisório, risível: situação insólita e mesmo ridícula. E uma nova indústria esta se formando em torno do ridículo. A dos comediantes que não possuem o menos traço de graça, mas que ao explorarem a imagem de cantores consagrados sendo venerados por seus fãs, encontram um público disposto a rir da graça que fazem. Outra ramificação deste fenômeno é a crítica do obvio, daí a minha negação em se quer falar, ou escrever sobre este ícone da musica pop atual.
Não tenho, nem posso ter nada contra  Justin Bieber (agora sim, escrito da forma correta!). Quem tem seus a-has de vidro, não jogue pedra no Justin Bieber dos outros. Permitam que eu me explique melhor. Tive os ícones musicais de minha geração. Mas nunca consegui sofrer, ou sequer me rasgar por nenhum deles. Aprendi a curtir a arte deles da mesma forma que do alto da comunidade em que morei aprendia a desfrutar da beleza do nascer e do por do sol, das noites estreladas, da chuva caindo, e mesmo a variação das estações (hoje nem sempre perceptível). Isto sim poderia ser considerado por nós como patético, mas jamais como ridículo.
Ridículo, ao meu ver, é a falta, ausência de espanto de nossa geração. Como afirmou o filósofo Mário Sergio Cortella, qualquer surpresa com qualquer produto tecnológico é indício de que a pessoa não o possua, ou não está familiarizada com o mesmo. É mais do que óbvio, para quem tenha lido o artigo de Cortella, que ele está falando da admiração pela constante inovação tecnológica. Mas o cito, porque vejo esta mesma logica (a da banalização) sendo estendida à vida como um todo.
Não acredito que quem não se sensibiliza com grandeza e fragilidade da vida, com o mar, com a praia, com o vento, com a natureza, com a imensidão do universo, com a nossa excelência (demonstrada no pensar) e com nossa baixeza; seja capaz de se sensibilizar com arte. O que resta quando se perde o espanto é o ridículo. Eu, por exemplo, me espantei com a ausência de comoção com a morte do cantor, compositor Dominguinhos, um grande músico. Sei que o Nordeste produz t1200000000222226ocadores de acordeão às pencas como ele. Mas Ele era ainda um dos poucos a estarem na mídia, e ao meu ver representava um grupo de artistas que eram admirados por uma geração que entendia o que estes faziam porque tinha em comum o senso de espanto.
Tudo bem que já naquele tempo haviam as tietes fanáticas, por Gonzaguinha e cia. Mas todos boa parte da geração da minha mãe, por exemplo cantava que o barato da vida era viver e não ter a vergonha de ser feliz, felicidade esta que estava na beleza de ser um eterno aprendiz. Eles sabiam que a vida podia ser bem melhor e nutriam a esperança que ela de fato seria melhor. Em outras palavras aquela sim era uma geração patética, a final o lema era: a esperança equilibrista sabe que o show do bom artista, tem de continuar. Eles sim tinham a capacidade de se comoverem, visto que ainda havia espanto. Não estou dizendo que eles eram melhores do que nós, mas que fruíram a vida de forma melhor. Para Cortella,
não se pode perder, porém, é a capacidade de ficar espantado; essa perda nos leva a achar tudo muito óbvio e rotineiro, impedindo a admiração, que conduz à reflexão criadora. É o famoso (e fundamental) "parar para pensar" e, claro, admirar. ver http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0806200021.htm
 
Ao meu ver é Justamente isto que está faltando a junção entre: espanto, admiração e reflexão, e esta sim deveria ser a finalidade da arte, ao invés do cultivo da tietagem. Não se espantem, mas nojo maior é o que sinto, quando vejo este mesmo quadro no mundo gospel. Sou capaz de me espantar com a performance de um Talles Roberto, com os recursos que ele tem, ainda que goste de poucas músicas dele. Mas sinto nojo na quase idolatria que o público sente por ele. Ao meu ver quem idolatra um artista perde aquilo que de fato deveria nos mover ao apreço de qualquer arte.
Na idolatria deixamos de ser patéticos e nos tornamos ridículos, risíveis. Patético é quem está (co)movido com algo. Seres patéticos sabem que somente na esperança é possível se equilibrar diante da vida e fazer da mesma um show em que cada um de nós é um bom artista. E nesta condição temos de fazer o espetáculo seguir.
 
Marcelo Medeiros, um patético (digo comovido e movido pela vida).  
 

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