Pesquisar este blog

sábado, 23 de novembro de 2013

Racismo e outros ismos velados

Houve época em que poderíamos definir o racismo por meio das seguintes palavras: sistema que afirma a superioridade de um grupo racial relativamente aos outros, preconizando, em particular, o isolamento destes no interior de um país (segregação racial) ou até visando ao extermínio de uma minoria (racismo anti-semita dos nazistas). A definição nos remete imediatamente ao período da segunda guerra, ao apartheide (regime de segregação racial da África do Sul), bem como ao nazismo, mas não expõe outras formas pelas quais o fenômeno se manifesta.
Hoje uma prática comum de racismo pode ser vista nas ações afirmativas. Não, não estou falando do sistema de cotas para negros, pardos, pigmeus, e amarelos nas universidades públicas, por exemplo. Falo do politicamente correto que impede que se critique a sub cultura, e, ao mesmo tempo expolia tais etnias até mesmo que seu capital cultural. Um exemplo clássico é o pagode (falo do gênero musical que alcançou popularidade em vozes tais como: Almir Guineto, Zeca Pagodinho, Bezerra da Silva), antes acessível ao povo das comunidades, agora praticamente artigo de luxo. Mas isso ainda não é pior.
Uma das piores formas de afirmações é a que vemos em letras tais como a do batidão que diz:
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Fé em Deus, DJ
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eu
nasci, han.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu
lugar.
Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer,
Com tanta violência eu sinto medo de viver.
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado,
A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado.
Eu faço uma oração para uma santa protetora,
Mas sou interrompido à tiros de metralhadora.
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela,
O pobre é humilhado, esculachado na favela.
Já não aguento mais essa onda de violência,
Só peço a autoridade um pouco mais de competência.
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, han.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eu
nasci, é.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu
lugar.
Diversão hoje em dia, não podemos nem pensar.
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar.
Fica lá na praça que era tudo tão normal,
Agora virou moda a violência no local.
Pessoas inocentes, que não tem nada a ver,
Estão perdendo hoje o seu direito de viver.
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela,
Só vejo paisagem muito linda e muito bela.
Quem vai pro exterior da favela sente saudade,
O gringo vem aqui e não conhece a realidade.
Vai pra zona sul, pra conhecer água de côco,
E o pobre na favela, vive passando sufoco.
Trocaram a presidência, uma nova esperança,
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.
O povo tem a força, precisa descobrir,
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, eu.
Eu, só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eu
nasci, han.
E poder me orgulhar, é,
O pobre tem o seu lugar.
Diversão hoje em dia, nem pensar.
Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar.
Fica lá na praça que era tudo tão normal,
Agora virou moda a violência no local.
Pessoas inocentes, que não tem nada a ver,
Estão perdendo hoje o seu direito de viver.
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela,
Só vejo paisagem muito linda e muito bela.
Quem vai pro exterior da favela sente saudade,
O gringo vem aqui e não conhece a realidade.
Vai pra zona sul, pra conhecer água de côco,
E o pobre na favela, passando sufoco.
Trocada a presidência, uma nova esperança,
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.
O povo tem a força, só precisa descobrir,
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.
Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.
E poder me orgulhar,
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, é.
Eu, só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eu
nasci, han.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu
lugar.
E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu
lugar.
 À título de consideração tenho de dizer que de fato a vista que se tem das favelas, dos morros, das comunidades é uma das mais belas que se pode ter, isto é um fato. Quanto á felicidade, esta é um estado. Honestamente ao ler o refrão: O gringo vem aqui e não conhece a realidade. Vai pra zona sul, pra conhecer água de côco, E o pobre na favela, passando sufoco, fico pensando se o autor da letra deste rap viveu para ver o Alemão, a Rocinha, e o Dona Marta sendo transformados em pontos turísticos.
Mas o que me incomoda é parte onde se diz que tudo o que um morador da favela deseja é o entretenimento que lhe é oferecido ali. Sim, pois não há forma de entender o Eu só quero é ser feliz,
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
. Por que não posso andar tranquilamente em qualquer outro lugar? Que tipo de orgulho é este, que ao mesmo tempo em que afirma a minha condição, me aprisiona à mesma? Leia novamente e letra: E poder me orgulhar, E ter a consciência que o pobre tem seu lugar. Com o perdão da expressão, que lugar é este que o pobre tem? A favela?
Honestamente, se a letra pretendia alguma forma de afirmação, ela foi um tiro que saiu pela culatra. O pobre aqui é mais do que segregado. Afinal, tomar água de côco na zona Sul é para gringo, como se praia alguma do nosso Rio fosse frequentada por pobres! Ao pobre cabe a diversão que lhe é oferecida na comunidade, aqui ainda chamada de favela.
Honestamente, vejo aqui o mesmo tipo de segregação e preconceito visto em programas afirmativos tais como o esquenta. Como o leitor poderá conferir aqui. Sim,
Regina Casé e seu programa parecem dizer aos jovens dos guetos: “Ei, isso mesmo, aprendam passinho, aprendam a rebolar até o chão, continuem com seu linguajar próprio, porque tudo isso é lindo, é legal, é Brasil, é tudo junto e misturado, continuem com seus empregos modestos, porque a vida é agora, é para ser vivida, curtida, com alegria, malemolência, sempre com um sorriso no rosto”. E assim, aquela menina sentada no sofá vai continuar achando o máximo desfilar com pouca roupa e pelos das pernas pintados de loiros pela comunidade. Nunca vai pensar em aprender a falar alemão ou tentar entender os grafites de Banksy, da mesma forma que os rapazes nunca sonharão em trabalhar no Itamaraty e praticarão bullying contra os meninos polidos que não falam em dialeto e inventam de estudar violino, já que um programa televisivo de uma das principais emissoras do país legitima seu estilo de vida mal educado e de poucas perspectivas.
É a mesma mensagem reacionária de sempre. Seja você mesmo, mas por favor, fique na favela onde você nasceu, fiquem com a cultura de vocês. Mas não invadam a nossa praia, e nem venham concorrer conosco. Sacou? Morou? Tenho extrema dificuldade em entender como ainda ninguém sacou os reais motivos por detrás de tamanha divulgação que a mídia tem dado a este tipo de cultura.

Abraços, Marcelo Medeiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço o seu comentário!
Ele será moderado e postado assim que recebermos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.