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sábado, 2 de novembro de 2013

Ecclésia Reformata et semper reformata est


 Aproveitando que ainda estamos sob o frescor da semana de comemoração da Reforma Protestante, gostaria de propor neste post uma leitura do lema: Ecclésia Reformata et semper reformata est, a partir de uma leitura dos capítulos iniciais da primeira carta de Paulo aos Coríntios. A escolha do tema se dá em parte pela data, e em parte pelo sentimento que tem tomado conta do povo de Deus, o de que a Igreja atual precisa, e muito de uma nova reforma. A opção pelo texto se deu pelo fato de que percebi, mediante a leitura do mesmo, que mesmo uma Igreja santa, justificada e purificada pelo Espirito de Deus, tal como a Igreja de Corinto é descrita por Paulo, precisa de reforma.

Uma verdade a ser ressaltada neste post é a de que o alcance da Reforma promovida por Lutero, Calvino, Zuínglio, Menon Simons, e tantos outros foi de alcance restrito dada á ênfase no aspecto doutrinário, e mesmo sob este prisma se deu de forma incompleta, dadas as limitações dos agentes humanos que a empreenderam. O grau de incompletude da reforma nos dias atuais se manifesta nas questões que a nova geração levanta, mas que a igreja por não ouvir ao mundo não responde. Tais fatores nos servem de indicadores da necessidade premente de uma nova Reforma sim.

O termo Ecclésia, conforme visto no cartaz acima é a transliteração do termo grego εκκλησια, cujo sentido é o de uma assembleia.  Reunião de pessoas no mesmo local; e conjunto das pessoas que formam um corpo constituído, são alguns dos termos que o nosso léxico emprega para definir o grego εκκλησια, indicando com isto que Igreja não é, ao menos na Bíblia, sinônimo de templo. Este é um espaço físico, que pode, ou não servir de abrigo às reuniões de uma assembleia, ao passo que aquela é um ajuntamento de pessoas.

Quando partimos de uma perspectiva bíblica percebemos que pelo fato de a εκκλησια de Cristo ser formada de um grupo de pessoas cuja principal marca é a depravação humana, esta precisa estar em constante reforma, em contínua revisão dos seus princípios e de sua identidade própria. Sim, a verdade bíblica em essência é que: não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque
(Ec 7. 20 ARCF). Por falta de componentes perfeitos não há Igreja, ou assembleia perfeita.

Quando nos voltamos para o Novo Testamento, por exemplo, vemos, já no primeiro século uma Igreja precisando passar por sérias reformas, a de Corinto. A despeito do belo começo que teve, do privilégio em ter tido Paulo como seu fundador, e instrutor por mais de um ano (At 18. 1 - 12), e de haver sido galardoada por Deus com vários dons do Espírito Santo (I Co 1. 4ss), bem cedo esta precisou de intervenção apostólica.

O primeiro problema observável na Igreja foi a questão do partidarismo, haviam grupos dissidentes na Igreja, alguns se diziam de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro, outros, por se julgarem mais espirituais se diziam serem de Cristo (I Co 1. 11 - 16). Diante de tamanha incoerência para com o espírito do Evangelho, Paulo envidou todos os esforços para lembras àqueles crentes que a essência do Evangelho é Cristo, e que qualquer que seja o homem, este é um mero servo de Deus, um instrumento por meio do qual estes vieram a crer (I Co 2. 2; 3. 6 - 8; 4. 1).

Este passo tomado pelo apostolo é um indicador de que na Carta aos Coríntios ficam estabelecidos dois solis da reforma. Solus Christus e soli Deo gloria. Paulo diz que:
Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; Para que nenhuma carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; Para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor (I Co 1. 28 - 31 ARCF). 
Em outras palavras: Cristo é o centro do Evangelho e a totalidade da vida cristã. Aliás Brennan Manning afirma que Cristo não é o centro do Evangelho, mas que ele é todo o Evangelho. No pensamento do autor, todas as demais pessoas que aparecem no Evangelho o fazem em reação à pessoa dele, e que quando ele se manifestar todas as demais estrelas serão eclipsadas. Então, SOLUS CHRISTUS!!! Se Deus é o único motivo de glória do crente, então: SOLI DEO GLORIA!!!!

O SOLA SCRIPTURA, pode ser visto no apelo que Paulo faz á Escritura como fonte de autoridade para fundamentar sua refutação à conduta dos crentes de Corinto. Por sua vez o principio do SOLA GRATIA aparece, quando se reconhece que a despeito de sermos cooperadores de Deus, ou de termos sido agente na plantação, ou na irrigação, é de Deus que vem o crescimento.

Neste momento pelo ao leitor, que por favor, perceba que estas verdades estão sendo afirmadas no século primeira da nossa era, e que tais afirmações estão sendo feitas para uma Igreja que era cheia dos dons espirituais, que tinha a promessa da graça de Deus como cana de força para a plena realização do proposito de Deus em suas vidas (I Co 1. 4 - 8), mas que ao que tudo indica bem cedo precisou de uma reforma.

Em nossos dias a Reforma se faz necessária quando a idolatria e o personalismo se instalam de forma sutil entre nós, através de movimentos que retiram a glória de Deus e colocam o homem no centro, seja como autor de sua própria salvação, seja como autor da salvação dos demais. O que os crentes de Corinto fizeram com Paulo, Apolo, e Pedro, foi e é a velha idolatria sim, e ela ocorre quando sem nos dar conta amamos mais aos homens do que à Deus, e nos esquecemos de que a GRAÇA sobre a vida deles é GRAÇA, ao invés de mérito humano.

O princípio do SOLA FIDE aparece quando reconhecemos que os homens, na condição de servos de Deus são instrumentos por meio dos quais viemos a crer em Deus. Se a ação divina não nos conduz ao crer estamos privados da graça. Afinal, como afirma C. S. Lewis, em seu livro Cristianismo Puro e Simples, a fé é o ato por meio do qual o homem se desespera de si mesmo e confia absoluta e irrestritamente em Deus.

Pensar a reforma hoje consiste em considerar sobre qual fundamento estamos construindo o nosso projeto de Igreja, lembrando que seja qual for o projeto, este tem de seguir o modelo que nos é revelado nas Escrituras. Para Paulo, se o fundamento não for Cristo de anda adianta continuarmos na construção, daí a recomendação do apóstolo:
veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,  A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo (I Co 3. 11 - 15 ARCF). 
Sim, a Igreja é o templo do Espírito Santo e a edificação que se dá a partir de materiais como: madeira, feno, palha, tornam a construção frágil e fadada à destruição. Aquele que por negligencia construiu o Templo do Senhor (não falo do espaço físico, mas da εκκλησια), com materiais que vão contribuir para a destruição da mesma será destruído por Deus.
Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo. Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos. Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso; Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o seja o futuro; tudo é vosso,
E vós de Cristo, e Cristo de Deus
(I Co 3. 17 - 23 ARCF). 
Nós destruímos o templo de Deus quando edificamos a Igreja sobre o personalismo humano, ao fazê-lo, julgamos a nós mesmos como mais sábios do que os demais homens, afinal, os outros não são iluminados como nós. Mas a graça subverte todas estas coisas. O combate ao personalismo e ao partidarismo, bem como ao orgulho advindos do mesmo são apenas alguns dos aspectos nos quais precisamos sim fazer uma nova Reforma. E isto, sabedores de que nossa ação precisa ser pautada no fundamento que é Cristo.
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

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