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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Lição da EBD n° 6: O exemplo Pessoal na Educação dos Filhos



O título desta lição sugere que a educação não se restringe á inculcação de normas, mas que a mesma se dá primordialmente quando nossas atitudes e palavras se tornam paradigma na vida das pessoas. Não é sem razão que a confissão de fé do judaísmo começa com o שְׁמַ֖ע יִשְׂרָאֵ֑ל (shemá Ishra'el), ouve ó Israel, visto que aquele que não ouve não pode ensinar, mas o texto avança para Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças (Dt 6. 5 ARCF), indicando com isto que a única possibilidade de sucesso em nossa educação familiar é a de que esta tenha por base o amor que temos a Deus, do contrário nossos filhos não crerão. Mais do que um manual de regras, nossos filhos precisam ver em nós exemplos vivos da fé em Cristo.

I) O Conceito de Educação

Educação é algo que sempre ocorre quando seres humanos, em convivência uns com os outros, resolvem compartilhar conhecimentos e práticas uns com os outros. Em seu clássico Pedagogia do Oprimido o grande mestre e educador Paulo Freire propôs que ninguém educa ninguém, mas que os homens educam uns aos outros midiatizados pelo mundo. Em outras palavras cada um possui uma percepção de mundo e a educação de fato ocorre quando o ser humano compartilha com o outro a sua percepção. ISTO É EDUCAR.

Em nosso léxicos educação se define como: ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais. Mas em função de que se educa e se desenvolve as potencialidades (categoria aristotélica)humanas? Uma segunda definição do dicionário nos ajudaria nisto. Educação também é: conhecimento e prática dos hábitos sociais. Aqui percebemos que o homem, na verdade é educado a fim de atender as demandas de uma sociedade, ou, de um determinado tempo. Foi assim com a educação grega, com a romana, e com a judaica. Nesta última a preocupação suprema era com a guarda da lei em um mundo totalmente oposto à moral revelada na lei.

Educamos com nossas palavras, com a transmissão de culturas, de ensino, de hábitos, e educamos silenciosamente, quando o fazemos por meio do nosso exemplo. Aqui nos deparamos com uma palavra que precisa sim de uma cuidadosa definição. Em toda a Escritura, o texto que me vem à memória a respeito de educação por meio do exemplo é a recomendação de Paulo à Timóteo: sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza (I Tm 4. 12 ARCF). Neste caso não está se falando de educação no lar, mas da educação eclesiástica. A fim de melhor explorar o tema convém abordar a respeito da força do exemplo na educação, mas o que é exemplo.

II) A Força do Exemplo na Educação

Exemplo é mesmo que: aquilo que pode ser imitado, fato de que se tira ensinamento ou proveito, citação de um autor, a qual se menciona para fundamentar uma regra, ou uma opinião, modelo, provérbio, ditado, rifão, anexim. As definições do dicionário colocam dois tipos de exemplos: o pessoal, e o literário. E no caso deste último, mesmo os provérbios podem ser exemplo. Embora o autor da lição tenha elaborado semelhante tema apelando para o exemplo pessoal, na verdade, o exemplo que vemos no livro de Provérbios é mais neste estilo.

O fato mais do que obvio é que nos formamos e nos constituímos como seres humanos de caráter, ou não, à partir do exemplo dos outros. Trazemos algo conosco daquele pai lutador e aguerrido, ou daquela mãe esforçada, aquele professor. Na verdade não há educação plena, não forem os exemplos que as pessoas deixam para nós.

Uma questão pontual para o autor de provérbios é: com quem convivemos, a fim de nos deixarmos influenciar por esta pessoa? Esta questão aparece já no primeiro capitulo quando o autor afirma:
Meus filhos se os pecadores quiserem te seduzir, não consintas! Se disserem: "vem conosco, façamos emboscadas mortais, gratuitamente prendamos o inocente; nós os tragaremos vivos como o Xeol, inteiros como os que baixam a cova! Obteremos riquezas magnificas, encheremos nossa casa com despojos. Reparte tua sorte conosco, e todos teremos uma bolsa comum!".
Meu filho, não os acompanhes em seu caminho, afasta os teus passos dos teus trilhos; porque os pés deles correm para o mal, apressam-se em derramar sangue, é em vão, porém, que estendem a rede, sob os olhos do que tem asas. Suas insidias serão mortais para eles, atentam contra si próprios! Tal é a sorte do homem ávido de rapina, ela tira a vida daqueles em que ela habita (Pv 1. 10 - 19 Bíblia de Jerusalém).
Outra questão central para os sábios judeus é o homem que sabe filtrar um bom conselho, ou melhor, não segue o conselho dos ímpios. Isto porque somente pedimos conselhos a quem exerce algum tipo de influência sobre nós. Daí a fala do Salmista: Feliz o homem que não vai ao conselho [ לְעֵצָ֣הdos ímpios (Sl 1. 1 Bíblia de Jerusalém).

A força do exemplo pode ser vista de forma negativa. O homem casado que se envolve com prostitutas e ao fim de sua vida tem suas posses expoliadas (Pv 5. 3 - 10); o jovem solteiro que se deixa enlaçar por uma mulher sedutora, porem casada (Pv 6. 23 - 7. 21); o estulto, ou a pessoa que não ama o conhecimento (Pv 1. 7; 9. 7, 8; 12. 1; 15. 12); são formas de exemplo negativo. Salmos didáticos também trazem este mesmo tipo de exemplo (Sl 78).

A grande dificuldade que se tem com o exemplo na atualidade se dá em razão de que de a modernidade nos colocou em uma condição ambivalente. Do mesmo modo que não podemos viver sem as modernas tecnologias, por alguma razão, no lugar de a tecnologia nos dar tempo para nos dedicarmos mais ao lazer e à família, cada vez mais temos o nosso tempo saqueado. No período da Revolução Industrial, pais trabalhavam cerca de dezesseis horas diárias. Desde este período o convívio de pais com crianças diminuiu. A escola pública de certa forma amenizou a situação ao propor uma educação que possibilitasse a inserção das crianças em uma sociedade dominada pela ciência. Mas a educação proposta pela escola não é a mesma da casa. Valores são, ou deveriam de serem, inculcados em casa. O que quero falar aqui é que a educação escolar, é compromissada com a agenda de governo, ou com os ideais dos professores. Logo, não pode responder pela formação de valores cristãos, isto cabe aos pais. Mas nosso tempo é favorável a este tipo de educação? Difícil pergunta esta!
III) A atual conjuntura
Na década de oitenta as punições físicas foram vigorosamente contestadas por autoridades de diversas áreas científicas. A ausência de punição provocou a crise de autoridade que vemos, que por sua vez foi reforçada por situações sociais e econômicas concretas que retiraram os pais de suas casas e mais, fizeram com que a educação dos filhos fosse confiada às mídias, aos colegas. Me lembro que quando criança aprendi a ver o pai, a mãe, a vizinha amiga da mamãe, e a tia (nome com o qual chamávamos as professoras, e ainda que tal forma de nos referir às mesmas fosse vicioso, tal indicava que a escola era uma extensão da autoridade do lar), como autoridades às  quais tínhamos de obedecer. A pós modernidade, ou modernidade como Rubém Amorese gosta de se referir ao tempo presente, trouxe consigo evoluções preciosas, mas danos profundos.

Não sou favorável que se chame o professor de tio, e a professora de tia, mas sou inteiramente a favor de que se considere o mesmo como autoridade. Afinal, como disse o grande mestre Paulo Freire em sua Pedagogia da Autonomia, não há liberdade sem autoridade. Creio que quando esta entra em crise, aquela se vê seriamente ameaçada. Não creio em um conceito de liberdade tal como visto no primeiro tópico do dicionário Michaelis, em que a mesma é definida como sendo: Estado de pessoa livre e isenta de restrição externa ou coação física ou moral. Isto porque as leis e regras sociais, tão necessárias à convivência, são de inicio, uma forma de coerção externa. Quando o individuo adquire autonomia elas são internalizadas, e curiosamente ele passa a ver tais regras como se as mesmas fossem parte dele, mas primeiro existiram como algo que lhes era estranho e até inadmissível.

A liberdade também é conceituada pelo Michaelis como sendo o poder de exercer livremente a sua vontade. G. K. Chesterton (escritor inglês com dois livros traduzidos e publicados no Brasil, e autor de Ortodoxia), afirma que todo ato de exercício da vontade é um ato de restrição. Em outras palavras ao fazermos nossa escolha pela balada, inevitavelmente estamos nos restringindo ao estudo e ao desenvolvimento de nossas potencialidades.

Esta questão está sendo melhor percebida agora pelos sexólogos, que tanto gritaram pela liberdade sexual, e agora depois do imenso estrago perceberam que o que chamavam de liberdade era na verdade uma nova forma de escravidão. Se antes as meninas sofriam pelo peso de se manterem virgens agora se enganam, ou fingem serem felizes por terem cada vez mais cedo a primeira das inúmeras experiências sexuais.

Mário Sérgio Cortella nos chama a atenção para um incrível fenômeno. Somos a primeira geração em que pais acordam mais tarde do que os filhos. Estes acordam aproximadamente uma hora antes dos pais, preparam seu próprio café e vão de van para a escola. Neste processo todo o único adulto, que possivelmente lhes servirá de referência de autoridade é o (a) professor (a).

Contudo, o mesmo filósofo pontua que ao chegar na escola, uma criança terá assistido, no mínimo oito mil horas de televisão. Em outras palavras, sua percepção e conhecimento de mundo não estará subordinada ao que lhe é transmitido na escola. Seus valores, seus modelos, seus paradigmas, todos serão moldados pelas mídias (incluindo agora a própria internet). Como estabelecer autoridade em um tempo tão ambivalente como este? Eu proponho a volta ao caminho antigo. E qual é o caminho antigo, simples, a sabedoria do velho Salomão.

IV) A educação pelo exemplo

Quem poupa a vara odeia o seu filho, aquele que o ama aplica a disciplina (Pv 13. 24 Bíblia de Jerusalém). Corrige o teu filho enquanto há esperança, mas não te arrebates até matá-lo (Pv 19. 18 Bíblia de Jerusalém). Em nosso idioma a palavra disciplina tem o seguinte significado: Ensino, instrução e educação, ainda que o Michaelis aponte que o uso de disciplina com este sentido seja obsoleto. No idioma hebraico existem duas palavras principais מוּסָֽר (mushar) e יַסֵּ֣ר (yasar), elas aparecem respectivamente nos textos acima. Em ambos os casos são usadas como sinônimas, sendo que a primeira pode ser traduzida tanto como castigo, quando como instrução, e em Provérbios vemos amplo uso de מוּסָֽר (mushar) como ensino (Pv 1. 3, 7, 8; 4. 1, 13; 8. 33), ao passo que a última tem uma conotação quase exclusiva de castigo.

O termo grego usualmente empregado para este tipo de educação é παιδειας (paidéia), o autor de Hebreus o emprega como equivalente de מוּסָֽר (mushar) na citação que faz do texto de Salomão (Pv 3. 11). Na verdade a julgar pela forma com que este texto aparece no Antigo Testamento Poliglota, podemos supor sim, que ao menos em alguns textos os tradutores da LXX usaram o termo παιδειας (paidéia) ora como equivalente para מוּסָֽר (mushar) ora para traduzir יַסֵּ֣ר (yasar). O filho castigado traz descanso ao pai (Pv 29. 17). O que podemos extrair de todo este contorcionismo exegético que fizemos até agora?

Primeiro a Bíblia manda sim impor a disciplina aos filhos e meus parabéns aos pais que o fazem sem usar a palmada, ou o beliscão, mas ainda, meus parabéns aos pais que não se deixam levar pelo desequilíbrio enquanto estão disciplinando fisicamente seus filhos. Mas o fato é que a Bíblia manda impor sim a disciplina, ou melhor os limites aos nossos filhos. Afinal, a idiotice está ligada ao coração do jovem, mas a vara da disciplina dela o livrará (Pv 22. 15 Bíblia de Jerusalém).  Não afastes do jovem a disciplina! se lhe bates com a vara, não morrerá. Quanto a ti deves bater-lhe com a vara para salvar-lhe a vida do Xeol (Pv 23. 13, 14 Bíblia de Jerusalém). E mais: a vara e a repreensão dão sabedoria, mas o jovem deixado a si mesmo envergonha sua mãe (Pv 29. 15 Bíblia de Jerusalém).

Segundo a disciplina que a Bíblia impõe tem no amor a sua maior motivação. Quem poupa a vara odeia o seu filho, aquele que o ama aplica a disciplina (Pv 13. 24 Bíblia de Jerusalém). Quando não queremos gastar nem a nós, e menos ainda o nosso tempo instruindo nosso filho, na verdade o odiamos. E o produto do nosso ódio são crianças sem limites, tais como as que vemos hoje. Crise de autoridade, já dizia Rubém Amorese, é crise de amor.

Por último, a disciplina bíblica não se resume, nem se reduz à instrução sem penalidades, ou ao uso exclusivo de sanções. Ambas estão juntas e é desta forma que funcionam. Que Deus nos dê mãos de sua graça e sabedoria para que possamos usar a disciplina e por meio da mesma forma uma geração temente a Deus.

Pr Marcelo Medeiros

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