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sábado, 2 de janeiro de 2021

A Pessoa do Espírito Santo


Conforme indicado pelo título da presente postagem, o Espírito Santo, na percepção majoritária dos cristãos ocidentais, inclusive dos pentecostais é uma pessoa divina. Lógico que é uma percepção trinitariana e com uso da linguagem psicológica, conforme indicado por Louis Berkhoff em sua dogmática. Mas esta é a forma que expressa o entendimento de significativa parte dos cristãos. 

Mas em que aspecto este estudo pode ser norteador na construção de um Pentecostalismo mais sintonizado com as Escrituras e consequentemente com a boa tradição teológica? Esta é a pergunta que precisa ser feita para que se obtenha sucesso na ministração da corrente lição de Escola Bíblica Dominical. Conforme já falado aqui neste espaço uma das razões para a série de reflexões deste trimestre foi a necessidade de apresentar às novas gerações uma Teologia consistente que fosse identitária e alternativa ao Calvinismo que estava adentrando em nossas searas. 

Já externei aqui que não há inconsistência, ou inviabilidade de diálogo entre a Teologia Pentecostal e a Reformada, ou evangélico-luterana, e outras formas de Teologia advindas da Reforma Protestante. Mas grandes expoentes deste ramo teológico da atualidade descreem completamente da atualidade e contemporaneidade dos dons espirituais (uma das marcas distintivas do pentecostalismo). 

Todavia nomes como Sam Storms, Jonh Piper, Franklin Ferreira, Waynne Grüden e do próprio Renato Cunha apontam em outra direção. São reformados que creem na continuidade dos dons espirituais e no que os Teólogos Pentecostais chamam de Batismo com o Espírito e eles de Revestimento de poder. Trata-se da ação do Espírito Santo em capacitar os crentes para o testemunho cristão. 

O problema que a lição de número um apresenta é que ela enuncia no título o estudo da pessoa do Espírito Santo, mas em seus desenvolvimento extrapola para noção de trindade. Já tive a oportunidade de atuar no Instituto Superior de Teologia como professor da matéria trindade, não é algo que se ensina de forma satisfatória em um único estudo de Escola Bíblica Dominical, e muito menos em um post de blog. 

Todavia, ao se falar da ação do Espírito Santo é de suma importância que se destaque sim sua personalidade e divindade. Todavia isto não é tarefa banal e creio que não seja algo que possa ser reduzido à citações dos credos e confissões de fé das comunidades cristãs ao longo da história. Acredito que a Teologia de Lewis (Cristianismo Puro e Simples) seja muito mais pontual do que qualquer Teologia clássica. Ninguém precisa concordar comigo neste último ponto. 

Antes de sermos pentecostais somos cristãos. Ao ler Cristianismo Puro e Simples me deparo com a seguinte verdade: a fé cristã é muito mais do que um conjunto de dogmas e doutrinas cujo pacote possa ser adquirido no mercado das religiões. O cristianismo propõe um pouco e além do que toda a religiosidade propõe. O pouco é a união com a realidade absoluta no pós morte, o além é a percepção de que esta realidade pode ser descrita tanto como "pessoal", quanto como "supra pessoal", e que podemos experimentar a comunhão com esta realidade aqui e agora.

Aqui é necessário lanças mãos das observações feitas por Francis Albert Shaeffer. Deus é infinto. Esta é uma afirmações cuja maior implicação é a de que ele (Deus), está fora do tempo de do espaço, não podendo ser contido nesta realidade. Em obras como O Deus que se Revela, e O Deus que Intervém, o autor em apreço esclarece que o ponto de contato entre Deus e o ser humano é a pessoalidade. Deus é um ser pessoal. 

É por meio da personalidade divina que Geisler, Berkhof, Shaffer e principalmente Lewis levantam a questão de Deus ser um ser pessoal e ao mesmo tempo sozinho. Uma questão visceral para este último autor é a afirmação bíblica de que "Deus é Amor". Ninguém pode ser amor tendo apenas a si mesmo como objeto deste amor. 

O amor é algo que uma pessoa sente por outra. Se Deus fosse a única pessoa, não poderia ter sido amor antes da criação do mundo. É claro que em geral, o que as pessoas querem dizer é algo bastante diferente: "o Amor é Deus". Querem dizer, na realidade, que nossos sentimentos amorosos, como quer e onde quer que surjam, e quaisquer que sejam seus efeitos, devem ser tratados com todo o respeito (Lewis, Cristianismo Puro e Simples, pág. 231). 

O Filho procede do Amor do Pai. Ele foi "gerado", não criado por este amor. Esta expressão (gerado) é usada por Lewis para explicar a diferença entre o filho e o restante da criação. Aquilo que o homem e todo e qualquer ser vivente é capaz de gerar é igual a si mesmo, aquilo que o homem e demais seres viventes "criam", não é e nem pode ser igual. 

Ou seja, Cristo é gerado e não criado, mas a questão não para por aqui. Este processo dá-se fora do tempo e do espaço, o que permite que o Pai, e o Filho sejam pessoas distintas e ao mesmo tempo um único SER. Ao contrário da realidade em que cada ser humano se encontra inserido (uma vez que estamos limitados ao tempo e ao espaço). 

Daí que ao falar em supra pessoalidade, Lewis possa afirmar que esta não seja sinônima de uma impessoalidade, como o senso comum possa fazer parecer ser. Supra Pessoalidade aqui é a pessoalidade elevada exponencialmente de forma que ser uma pessoa seja muito mais do que tudo o que somos como pessoa. 

Lewis segue explicando que toda agremiação humana tende a forjar um tipo de força que liga e passa a expressar aquele tipo de "associação". A seguir ele leva esta explicação para a questão trinitária e assim desenvolve parte de sua Pneumatologia Trinitariana. A despeito da sutileza filosófica decorrente de leitura e da agudeza filosófica e da expertise da crítica literária, Lewis destaca que a doutrina da trindade é uma forma de destacar a relação interna do SER de Deus. 

É aqui que retorno ao que foi afirmado acima. O grande projeto divino é a relação do homem com Deus e em decorrência desta a relação comunitária. Não há porque falar em dons espirituais sem o entendimento de que são ferramentas das quais Deus dispõe a fim de que os membros de uma determinada comunidade sejam mutuamente edificados.  

Isto é uma verdade desde o antigo testamento quando o povo judeu ainda não havia levantado questões a respeito de Deus ser, ou não um ser pessoal. Se uma unidade simples (se é que se possa falar assim em termos pessoais), ou se uma personalidade composta. É o ponto em que cristãos e judeus se dividem, obviamente, mas que é base da estrutura de pensamento e piedade cristã. 

Retornando ao pensamento de Lewis, uma das formas com a qual o cristão se relaciona com Deus é a oração. Lewis destaca que esta mesma é trinitariana. 

O que quero dizer é o seguinte: o simples cristão ajoelha-se e faz suas orações, tentando entrar em contato com Deus. Porém, se ele é cristão, sabe que o que o induz a orar é também Deus. Deus por assim dizer dentro dele. E sabe que todo o conhecimento real que possui de Deus, veio por meio de Cristo, o Homem que foi Deus. Sabe que Cristo está de pé, ao seu lado ajudando-o a orar, orando por ele. Você viu o que está acontecendo? Deus é Aquilo para o qual ele ora - o objetivo que tenta alcançar, é também aquilo dentro dele, que o impele, a força motriz. Deus, por fim, é a estrada, ou a ponte que percorre para chegar a seu objetivo. Assim toda vida tríplice do Ser tripessoal entra em ação neste quarto humilde onde um homem comum faz suas orações. O homem está sendo capturado por um tipo superior de vida - o que chamei de Zoé, ou vida espiritual. Está sendo atraído para dentro de Deus pelo próprio Deus, sem deixar de ser ele mesmo (Lewis, Cristianismo Puro e Simples, pág. 217). 

Nosso chamado é para um relacionamento com Deus que redunda em um partilhar  da vida divina. Esta partilha foi chamada por Pedro de participação na natureza divina (I Pe 1. 3 - 5). A promessa engloba Alegria, poder, paz e vida Eterna, que é explicada pelo autor como sendo a participação em um vida que não é criada. 

A experiência pentecostal é trinitária, tal como a vida cristã. A graça de Deus que se manifesta trazendo salvação para os homens (Tt 2. 13) é acessada por meio de Cristo, visto que da sua plenitude temos recebido graça sobre graça (Jo 1. 16, 17). O amor de Deus se manifesta no fato de Este ter dado seu filho para a propiciação de nossos pecados (Jo 3. 16; Rm 5. 6 - 8; I Jo 4. 8 - 10), e no derramar contínuo do Espírito Santo (Rm 5. 5). 

Na Teologia Joanina o Filho se faz carne para ser concretamente a maior explicação de Deus (Jo 1. 14 - 18). O Espirito é enviado a fim de fazer com que as palavra de Cristo sejam plenamente entendidas (Jo 14. 26). Pela Palavra o Pai, o Filho e o Espírito permanecem no crente (Jo 14. 21, 23). Este termo é crucial na Teologia joanina, uma vez que não há registros no antigo pacto de uma permanência do Espírito Santo na vida dos líderes de Israel, para além do exercício da atividade que desenvolviam. Aqui se percebe a natureza relacional do crente com o Espírito Santo. 

Espero que o presente estudo sirva de contribuição para que professores e alunos tenham uma visão mais panorâmica a respeito dos propósitos do autor das lições de Escola Bíblica Dominical das Assembleias de Deus do corrente trimestre. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

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