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domingo, 27 de dezembro de 2020

O Verdadeiro Pentecostalismo

 



Já fiz neste espaço uma série de estudos a respeito dos dons espirituais, bem como a defesa da continuidade dos mesmos. Falei a respeito do propósito dos dons espirituais, do propósito de Deus e do papel do crente em administrar como dispenseiro, os dons que Deus concede, dos dons de profecia, variedade de línguas e interpretação de línguas (elocução verbal), dos dons de revelação (ou revelacionais). 

Como Pentecostal de berço, creio que uma marca distintiva deste movimento seja a crença no Batismo com o Espírito Santo aliado à crença na continuidade dos dons espirituais como meio de edificação e crescimento do corpo de Cristo, que é a Igreja. Ler obras como Revestidos de Poder, O Espírito e a Palavra, e a Teologia Carismática de Lucas foi fundamental para a compreensão da percepção de Lucas do Batismo como revestimento de poder, o mesmo falado por Waynne Grüden e Franklin Ferreira em suas respectivas Teologias Sistemáticas, ou dogmáticas. 

A respeito da continuidade dos dons espirituais, creio que obras como a de Sam Storms e Renato Cunha constituam-se como basilares no tocante a esta doutrina tão pontual para a fé pentecostal. Na lição do próximo trimestre, os estudos estarão cobrindo a pessoa e obra do Espírito Santo, seu papel na obra de redenção (questão bastante abordada nas Teologias de cunho Reformado), seu papel na missão cristã, e a contemporaneidade dos dons espirituais. 

Tais traços poderiam facilmente serem associados à Teologia Carismática de Lucas, mas o autor não se limita a tal. Seguindo a pauta de Gutierres Siqueira em Revestidos de Poder e no O Espírito e a Palavra, Esequias Soares, busca aliar a Teologia Lucana à Teologia paulina, uma vez que aquele autor vindica para o Pentecostalismo uma Teologia mais global, que contemple os múltiplos autores das escrituras e suas Teologias em particular. 

Daí que da lição cinco até a dez a Teologia em apreço seja de caráter mais paulino do que lucano. O fruto do Espírito, a crucificação do "eu", a questão da santificação, da ordem no culto e do comprometimento com a palavra passam a ser as ênfases autorais. Da lição dez em diate há destaque à atualidade da cura, que é um dos centros de debates na atualidade. Da lição onze em diante percebe-se a ênfase missiológica. Isto porque uma das justificativas dos grandes avivamentos dos séculos passados foi o despertamento para o caráter urgente das missões, face a iminência da vinda de Cristo. 

Conclui-se que o "verdadeiro pentecostalismo", que se opõe àquele que é caricaturado nas descrições de "Crentes Reformados", ou assumidamente "cessacionistas", ou ainda na percepção dos irmãos do "reteté da glória de Jeová", uma pneumatologia sólida (que por sua vez está ligada a uma Cristologia consistente, visto que Cristo é quem batiza com o Espírito Santo), com poder para o testemunho aliado a uma vida de frutificação espiritual e de santificação, senso de missão (pregação do Evangelho e discipulado), e a Vinda de Cristo. Todos estes elementos orientados pela questão da Hermenêutica Pentecostal. 

A Hermenêutica Pentecostal traz um importante elemento da crítica textual, que é a questão da diversidade de autores e das ênfases que cada um dá a um aspecto da Teologia. Daí a diferença entre a pneumatologia de Lucas e a de Paulo, que usam o termo "cheios do Espírito", com ênfases diferentes. O mesmo se dá com relação ao termo "Batismo com, ou no Espírito Santo". O ser cheio do Espírito em Lucas, tanto no Evangelho, quanto no livro de Atos, tem a ver com a missão. 

Daí que Batismo com o Espirito Santo não é ostentação "pentecostal", ou "gospel" (se quiser), mas um dom concedido aos santos visando o serviço na proclamação do Evangelho, face ao senso de urgência diante da Vinda do Senhor (At 1. 4 - 11). Mas sem frutificação espiritual, e sem santificação até que ponto, nosso testemunho possui valor, por mais poderoso que seja? Daí a contemplação da Teologia Paulina, embora a lucana dê respostas, no campo social. 

Aqui convém ressaltar que nem a Igreja e nem os apóstolos são conduzidos ao sinédrio por conta de questões morais, ou comportamentais. São divergências teológicas seguidas de acusações infundadas apos um impasse. É deste modo que Estevão é condenado à pena capital por lapidação (apedrejamento), e temos aí Saulo, consentindo em sua morte (At 8. 1). 

Face ao comportamento basilar da Igreja de Atos, que levou Jonh Stott a escrever um livro por título "Sinais de uma Igreja Viva", os autores da lição desenvolvem questões pertinentes à Teologia Paulina. Aqui cabem algumas afirmações. A lição a respeito do fruto do Espírito tem como base um texto que foi escrito a uma igreja que não tinha problemas com imoralidade. 

Os crentes da Galácia não são os crentes de Corinto. O problema destes é uma série de erros no tocante ao Evangelho e ao ministério dos apóstolos (I Co 1 - 4), e uma certa leniência com casos de imoralidade na comunidade (I Co 5 - 7). Não é o caso dos crentes da Galácia. Eles possuíam uma moralidade tão extremada que foram facilmente seduzidos por um tipo de "legalismo", ou de associação entre Evangelho e Circuncisão. 

O fruto do Espírito aqui é colocado em um contexto de suficiência da graça de Deus. Espírito aqui é aliado à fé, à graça de Deus e ao Evangelho pregado por Paulo. Isto fica claro na medida em que Paulo indaga aos seus leitores: só peço que me esclareçais uma coisa: será e,m virtude da prática da lei que recebestes o Espírito, ou por terdes escutado a mensagem da fé? (Gl 3. 2 TEB). 

A esta pergunta sucede a seguinte: aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós, acaso o faz em virtude da prática da lei, ou porque escutastes a mensagem da fé? (Gl 3. 5 TEB). o que está acontecendo aqui? Paulo tem de lembrar aos crentes que a experiência de salvação destes decorre da resposta à pregação do Evangelho. Havia um apego à lei como elemento complementar ao Evangelho e Paulo teve de quebrar com esta ideia. 

É dito insistentemente que a pneumatologia de Paulo tem ênfase soteriológica, ao passo que a de Lucas tem sua dimensão focada no carisma e na missão. Todavia, ao pregar a mensagem do Evangelho, Paulo reconhece a sua dependência do Espírito de Deus, tanto na execução da missão, quanto na obtenção dos resultados (I Co 2. 1 - 5; 4. 20; I Ts 1. 5). 

Por último, há que se falar no senso de urgência da missão em razão da promessa da Vinda de Cristo. não há pentecostal que não mantenha esta promessa diante de seus olhos. Mas as correntes conspiracionistas que têm sido adicionadas à Escatologia Evangélica se parecem mais com um episódio de Além da Imaginação do que com a Bem-Aventurada esperança bíblica. 

Marcelo Medeiros, em Cristo Jesus. 

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