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domingo, 1 de dezembro de 2013

Tt 3. 9 uma breve exegese

 


Em alguns embates que tive no facebook, comumente me deparei com o mau emprego do texto que titula a presente postagem. Meu objetivo é mostrar por meio de um processo de exegese que tal texto não nos serve de base para calar discussões a respeito de assuntos polêmicos, ou varrer para debaixo do tapete questões que precisam de serem encaradas com maturidade e discernimento, mas não o são porque o nosso meio tem sido claramente marcado pelo anti-intelectualismo. Vamos ao texto?
Paulo recomenda ao seu filho na fé Tito que: Evite, porém, controvérsias tolas, genealogias, discussões e contendas a respeito da lei, porque essas coisas são inúteis e sem valor (Tt 3. 9 NVI).
O leitor, por favor note, observe que nada é dito a respeito de debates, mas de discussões que são provocadas a partir de controvérsias tolas. Tais discussões não envolvem assuntos atuais, mas temáticas a partir da lei, e de questões próprias do universo religioso judaico. Paulo as considera inúteis e sem valor. A fim de aclarar ainda mais esta verdade subjacente ao texto farei um breve exercício de exegese.
Tomemos por exemplo o verbete ζητησεις (zeeteesis), cuja tradução sugerida por Rienecker e Rogers na chave linguística do Novo Testamento da Editora Vida Nova é a de especulação. Este mesmo termo aparece ainda em mais três textos (I Tm 1. 4; 6. 4; II Tm 2. 23), todos documentos, que hoje são conhecidos por nós como as Cartas Pastorais. Paulo ordenou à Timóteo que organizasse a Igreja de Éfeso e fizesse isto proibindo o ensino de falsas doutrinas, veja:
Partindo eu para a Macedônia, roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas, e que deixem de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra de Deus, que é pela fé (I Tm 1. 3, 4 NVI).
 Aqui Paulo emprega um termo derivado de ζητησεις, εκζητησεις (ekzeeteesis), cujo sentido é ampliado de especulação para questionamentos e pesquisas desordenadas. Alguns estudiosos afirmam que no judaísmo pós exílico as genealogias vieram a desempenhar um papel importante na mentalidade judaica e por isto mesmo constituíam importante papel na controvérsia entre judeus e cristãos. E é justamente este estudo de caráter especulativo, sem o uso de uma metodologia apropriada que Paulo chama de questões loucas. 
No entender de Paulo, os que vivem a levantar tais questões o fazem por orgulho, visto que não podem se conformar com a simplicidade do ensino de Cristo e assim alimentam um desejo doentio por questões intermináveis (I Tm 6. 3, 4). A motivação principal é o pensamento distorcido que vê a piedade como possível fonte de lucro (I Tm 6. 5). Tal pode ser visto na postura de muitos pregadores atuais que contam historias de púlpito, no mínimo duvidosas, e especulam a respeito de lendas que não possuem sentido algum.
Devido ao caráter especulativo deste tipo de estudo (que está sendo condenado por Paulo), da ausência de uma metodologia, e da motivação interior dos que sempre recorriam a tais questões, o resultado delas somente poderia ser um: brigas. Todavia não cabe aqui o entendimento de que um servo de Deus não possa abordar uma questão polêmica nos dias atuais, com o fim, de à luz das Escrituras, e isto podemos inferir da leitura do texto abaixo.
Evite as controvérsias tolas e fúteis, pois você sabe que acabam em brigas. Ao servo do Senhor não convém brigar mas, sim, ser amável para com todos, apto para ensinar, paciente. Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade, para que assim voltem à sobriedade e escapem da armadilha do diabo, que os aprisionou para fazerem a sua vontade (II Tm 2. 23 - 26 NVI).
O papel do homem de Deus não é embrenhar-se por mais e mais especulações, mas ensinar de forma a corrigir possíveis erros oriundos de tais questões. Deve inclusive ministrar pacientemente aos que erram mesmo, a fim de que sejam livres das armadilhas que o diabo colocou diante deles (I Tm 6. 9, 10). Escrevendo à Tito, Paulo foi mais visceral, ao afirmar que o homem de Deus tem de apegar-se  firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada, para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela (Tt 1. 9 NVI). A palavra para refutar aqui é ελεγχειν (elegcheein), a mesma para convencer de erro. E não se faz isto sem debate, sem discussão, sem argumentação.
A leitura do texto à luz do contexto global da Carta de Paulo à Tito nos conduz a outra verdade. Se não podemos nos entregar às genealogias intermináveis, que ensino devemos ter? O foco do ensino cristão não se dá a partir de regras feitas por homens que rejeitam a verdade (Tt  1. 14), mas a partir do ensino da graça que conduz a uma vida sóbria (Tt 2. 11 - 15; 3. 1 - 9). Aí sim, estaremos de fato na são doutrina.

Pr Marcelo Medeiros.

2 comentários:

  1. Finalmente, alguém que fale coisas atuais de forma clara à luz da Bíblia.

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  2. Ótima postagem. Mais atual que isso, não tinha lido ainda.

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