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domingo, 13 de maio de 2018

O Outro lado do Inferno



O encerramento da trama "O outro lado do Paraíso" coincide com o lançamento do livro de Leandro Karnal em parceria com a Monja Cohen, cujo título é: "O inferno somos nós". Foi por conta deste livro que optei por este tema para o folheto. Inferno é um assunto que tem me provocado profundas reflexões, por conta de minhas leituras em Homero, Platão, Virgílio, Sócrates, Dante, e Lewis. Mas o inferno aqui (aquele que é o outro lado do Paraíso) é algo bem mais concreto e real. 

O Brasil é um país em que o paraíso e o inferno estão lado à lado. É o país dos lugares paradisíacos, das mulheres cheias de predicados (bem definidos na literatura e no cancioneiro popular. Algumas se chamam Maria, outras Lígia, Ana Luíza, Beatriz, Conceição, Capitolina), da praia, do sol, do mar de Capacabana, da beleza que vai do Leme ao Pontal, das pedras preciosas, das riquezas naturais. 

O inferno é a dengue, chikungunya, Zika, das mulheres agredidas, violentadas, mortas; dos números alarmantes da violência; do trabalho escravo (conforme representado e superficialmente debatido na novela), onde nem sempre por vontade própria as mulheres são empurradas para a prática da prostituição; das riquezas que não são distribuídas, da corrupção, dos coronéis que usam do bem público como se donos fossem. Este é nosso inferno. 

Ao que saiba a novlea pretendia ser uma mistura de Conde de Monte Cristo com Revenge. Mas faltou à protagonista o arrependimento visto em Monte Cristo (Dantes), e Amanda Clarke (personagem representada por Emily VamCamp. O problema é que entre a satisfação demonstrada por Clara no capítulo final e as tramas anteriores fico com a frase do seu madruga: a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena

Tal como Lewis sei da dificuldade de se perdoar uma única transgressão quatrocentas e noventa vezes. Sei o que é o senso de reparação, a necessidade de que algo seja feito com quem nos fez mal, e não nos basta tocar a vida e viver. Mas às vezes isto é tudo o que tem de ser feito. Anastásia é uma animação de 1997,  que mostra o personagem Rasputim voltando do inferno para se vingar ao passo que o morcego o insta a desistir da vingança e seguir com a vida. 

É neste sentido que acredito que a vingança não é e nem pode ser plena. Ela mata tudo aquilo que é vital na pessoa e leva a mesma a deixar de viver a vida. Num folhetim as pessoas podem contar com o último capítulo para que suas vidas sejam devidamente resolvidas, o que nem sempre ocorre na vida real. Prefiro a filosofia do Bolaños. Ou a de Paulo que diz: Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor (Rm 12. 19 ACF).

E o que isto tem a ver com o inferno a ponto desta postagem merecer este título? Simples, o inferno é um lugar onde as pessoas não se comunicam, melhor perderam tal capacidade de tantos ódios e ressentimentos que acumularam em relação às outras. Daí a inviabilidade de melhorias reais no inferno. Daí que aqueles que odeiam não podem entrar no Reino dos Céus.

Abraço. 

Marcelo Medeiros. 

Um comentário:

  1. O inferno é o outro porque não aceitamos que o inferno somos nós com nossas escolhas ou decisões impulsivas.

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