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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O Ecumenismo em que Creio


O presente artigo é um desdobramento das considerações feitas neste post aqui. A razão de ser do mesmo é a constante confusão conceitual entre termos como Ecumenismo e sincretismo religioso. Alister McGrath aponta em sua apologética que significativa parte do erro dos apologetas é entrar numa discussão com uma proposta intelectual e ignorar as questões emocionais que envolvem as querelas. Mas o que isto tem a ver com Ecumenismo mesmo? Por que faço estas perguntas?

O motivo é bem simples.Ao debater nas redes sociais a questão do Kleber Lucas ter ido a um terreiro de candomblé, o nome ECUMENISMO vem continuamente à boca dos interlocutores. Pior, sempre com um sentido distinto daquele que lhe é conferido pelas Ciências da Religião, ou pela análise etimológica da palavra em si. Confundem este com sincretismo religioso (este sim a mistura de Religiões de matriz deferentes em uma única). Mas de onde vem tal percepção distorcida?

Confesso que em muitos dos supostos debates me senti frustrado com a tentativa de explicar ao interlocutor as diferenças entre os termos acima mencionados. E mesmo depois de muita explicação, de gasto muito latim e verbete perceber que as pessoas preferem permanecer com o erro, a rever seus respectivos conceitos. E o pior, sem a mínima base bibliográfica. O que me leva a pergunta pela raiz do problema.

Simples. Qual criança ou adulto da década de setenta nunca esteve em contado com/as escatologias do terror (aqui e aqui). Quem no Brasil nunca ouviu a ideia de que o plano do Anticristo é produzir uma unificação das religiões ao redor do planeta, e infelizmente sempre se chamou isto de Ecumenismo. Daí que toda que se fala a palavra seu real sentido é ignorado.

A expressão Ecumenismo vem do grego οικουμενη (oikoymenen), que aparece na versão grega do Sl 24. 1 sendo traduzida por mundo em nossas versões. O mesmo sentido lhe é dado em Mt 24. 14; Lc 21. 26; Rm 10. 18; Hb 1 . 6. Os concílios católicos recebem este nome por serem concílios mundiais. Na verdade a mesma palavra designa o mundo grego e romano conhecido da época, unificado por uma única cultura, mas diverso em escolas de pensamento e em religiões de mistérios, mas tendo na língua grega um dos fatores que viabilizavam a comunicação e a troca de ideias. É pouco mas espero que tenha servido para dirimir as dúvidas.

Em finais do século dezenove, e meados dos século vinte, o catolicismo muda sua forma de entender sua missão no mundo e as Igrejas históricas seguem esta mesma tendência. O gatilho foram os anos de guerras e desentendimento teológico e filosófico. No lugar de esforços visando o convencimento o Catolicismo e o Protestantismo histórico se voltam para o serviço diaconal ao mundo. ISTO É ECUMENISMO.

O diálogo religioso é um termo que merece uma outra postagem aqui neste espaço. Mas tanto no catolicismo quanto no Anglicanismo e no protestantismo a ênfase recai sobre a fala e o compartilhamento de ideias desprovido de tentativas de convencimento. OU seja ninguém mais tem de fazer parte de uma única religião mundial, para somar esforços, o necessário é compartilhar o desejo de fazer algo pelo próximo.

Sigo uma teologia em que é plenamente possível que um kardecista, um umbandista, candomblecista, católico, budista e hinduísta, partilhem do mesmo desejo que tenho de trabalhar pelo bem estar do outro. NENHUMA ESCATOLOGIA BÍBLICA DEFENDE, OU LEGITIMA UM ENGESSAMENTO FACE ÀS NECESSIDADES DO OUTRO. NA VERDADE, TODA E QUALQUER ESCATOLOGIA ENGESSANTE TEM DE SER DESCARTADA. Creio que esta percepção ecoa nas palavras de Paulo, para quem:
Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho (Rm 2. 13 - 16 ACF). 
Partindo do ponto de que exista uma lei moral comum e que os mais diversos homens podem responder positivamente a esta lei nada me impede de somar esforços com os mesmos na prática do bem comum. Se você, leitor, entende que é pouco, veja quantos estrangeiros (gente que nada tinha a ver com povo de Israel), agiram de forma melhor do que o povo eleito. Raabe, Rute, Ebed-Meleque e outros, são exemplos que culminam no samaritano da parábola do Senhor em Lucas. 

Que Deus nos conceda o discernimento necessário para distinguir ECUMENISMO de SINCRETISMO, assunto este que terá sua devida consideração neste espaço. Que ELE nos dê a sabedoria para o desenvolvimento de uma escatologia integral mais afinada com a esperança cristã e com uma práxis social. E que desenvolvamos um ecumenismo de serviço baseado na IMAGO DEI, e na lei moral. 

Marcelo Medeiros. 

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