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terça-feira, 11 de junho de 2013

A família e a Escola Bíblica Dominical


Ao longo deste trimestre temos estudado a respeito da família e dos ataques que a mesma vem sofrendo. E, uma conclusão que podemos extrair desta série de Estudos é que o padrão divinamente estabelecido para as relações familiares, bem como o modelo conjugal, e os referenciais de educação e criação dos filhos são provenientes de uma única fonte, a palavra de Deus (Dt 6. 4 - 9; Mt 19. 1 - 11). Mesmo depois da entrada do pecado no mundo e da corrupção das relações humanas, bem como do padrão divinamente estabelecido, necessário se faz com que atentemos que é a palavra de Deus a fonte de santificação das nossas relações familiares (I Tm 4. 4, 5), bem como o principal elemento de preservação da nossa família. Daí a necessidade de refletirmos a respeito da Escola Bíblica Dominical. 

A Família e a Palavra de Deus


A família é descrita pelas Escrituras como sendo a primeira instituição criada por Deus. Ela foi estabelecida no Éden, quando Deus disse que não era bom que o homem estivesse só. Ao criar o homem, Deus disse façamos o homem, conforme a nossa imagem e conforme a nossa semelhança (Gn 1. 26, 27), uma descrição mais detalhada da criação do homem mostra-nos o mesmo sendo formado do pó da terra, de uma forma muito similar ao trabalho desenvolvido pelo oleiro. Mas antes de avançarmos neste assunto, é necessário que observemos que a Palavra criadora age no ato de origem do homem. A diferença esta em que, ao contrário do que ocorre em toda a criação, quando Deus libera a sua Palavra e deixa tudo por conta da liberação da mesma, aqui o criador não se contenta em simplesmente liberar uma palavra, mas se lança na atividade criadora, no ato de moldar. 
O mesmo se dá com a criação da mulher, de acordo com o relato da tradição oral sacerdotal. Deus diz, depois ele faz. No caso da criação do homem, do macho e da fêmea, a Palavra e o agir divinos estão em constante ação. Na natureza, em geral, a fala é o suficiente para que tudo se crie, no homem fala e ação estão mutuamente combinadas.
Com a entrada do pecado no mundo, a família foi maculada. As relações entre homem e mulher, entre irmãos, e entre pais e filhos foram seriamente corrompidas. O homem acusa a mulher de ser responsável pela sua queda. Esta, acusa a serpente, que podemos entender como sendo o diabo, de ser a responsável pela desgraça (Gn 3. 10 - 14). Os primeiros irmãos vão ser protagonistas do primeiro casa de fratricídio da história humana, e o texto nem de longe aponta problemas psicológicos, ou sociais como a causa do conflito, mas simplesmente o fato de que as obras de um irmão eram boas e as do outro eram más (I Jo 3. 12). Da descendência de Caim surgiram os primeiros artífices e músicos, e contraditoriamente os primeiros casos de poligamia. 
Para a generalização da maldade, foi apenas um salto (Gn 6. 5, 12). Deus resolveu, então destruir todo o gênero humano, mas preservar um homem, que havia achado graça aos seus olhos (Gn 6. 8). Mais uma vez a Palavra de Deus entra em ação, visto que  disse Deus a Noé: [...] faze para ti uma arca da madeira de gofer  Gn 6. 13, 14. Por meio da Palavra de Deus a um chefe de família, todo o restante da família foi salva do juízo divino. As medidas da arca, quem deveria entrar na mesma, o material empregado na mesma, a finalidade, tudo estava claramente expresso nas orientações que Deus havia dado a Noé, por meio de sua SANTA PALAVRA. 
Se na criação observamos a Palavra de Deus associada ao agir do mesmo, aqui, esta está ligada à atitude humana. Deus nos deu a sua palavra para que nós as colocássemos em prática (Sl 119. 4), e para colocarmos a mesma em prática, precisamos ouvir atentamente o que Deus está querendo dizer para nós. Não é sem razão que a confissão judaica de fé começa com o apelo para o ouvir, pois está escrito: יִשְׂרָאֵ֑ל   שְׁמַ֖ע (Shemá Isharel), Ouve ó Israel Yhwh é único Deus. Sem o ouvir não o saberemos. 
Mas o ouvir que não se consuma na prática do que é ouvido, termina por se caracterizar como estéril ao ouvir tem de suceder o amar a Deus, com todas as forças (Dt 6. 5), bem como o esforço humano de fazer da Palavra que se ouve, o centro da vida familiar. E como se dá tal ação? Por meio do falar que expressa o amor que temos pelo único Deus, e por uma série de medidas cuja finalidade é a preservação de nossa herança cultural e espiritual. Infelizmente a história bíblica nos mostra que não houve, por parte do povo um zelo em cumprir as recomendações divinas no Deuteronômio. Ainda no período histórico inicial se levanta uma geração que não conhece ao Senhor, nem a obra que ele fez em Israel, o resultado, uma verdadeira catástrofe e instabilidade que começa com o período dos juízes e termina no período pós exílico. 

O surgimento da Escola Bíblica Dominical

É usual atrelar a Escola Bíblica Dominical às práticas de ensino descritas na Bíblia, que começam com o Deuteronômio (Dt 6. 5 - 9), e avançam até os dias de Neemias (Ne 8. 2 - 8). Na verdade a Escola Bíblica Dominical é uma instituição moderna cujo surgimento está ligado ao contexto da modernidade, da revolução industrial e das reformas políticas, sociais e religiosas que começaram a varrer a Europa a partir do século XVI. Nós precisamos ver esta instituição a partir desta perspectiva a fim de termos argumento para justificar a mesma como instituição atual e necessária para a saúde familiar e da Igreja. 
Uma das características da modernidade foi a perda, por parta da Igreja católica romana, da hegemonia cultural que esta detinha durante a Idade Média. A invenção da imprensa, possibilitou que livros fossem produzidos e impressos em larga escala, e que o saber, antes limitado aos mosteiros, fosse divulgado com maior facilidade. Outra questão importante é a perda do poder político, os estados europeus passaram a clamar por maior liberdade, e por fim a revolução industrial abalou definitivamente os modos de produção econômica. 
Contudo, a herança da revolução industrial foi nefasta. Esvaziamento do campo, aumento da população urbana e precariedade social contribuíram para o aumento dos suicídios, do alcoolismo e da prostituição. Os que ficaram ociosos, devido à falta de emprego, e mesmo de especialização para as novas condições de trabalho, tentavam fugir da miséria por meio de atividades ilícitas. 
Para o bem da sociedade inglesa, a Igreja passava por um período de avivamento, que na visão da maioria dos autores de História da Igreja foi o principal responsável pela preservação da paz na Inglaterra, sim, a Escola Dominical surge com Robert Raikes, em meio ao avivamento metodista que estava sacudindo a Europa do século XVIII. 
O surgimento da ideia  de acordo com o Manual da Escola Bíblica Dominical, se dá enquanto Raikes estava, em plena manhã de domingo, escrevendo um artigo para um jornal, e teve a vidraça de sua janela atingida por uma pedra. Ele se levantou, dirigiu alguns impropérios às crianças e retornou às atividades. Porém, seu coração fora incomodado pelo estado de abandono social, moral e espiritual em que se encontravam aquelas crianças, e logo começou a pensar no que poderia ser feito para amenizar a condição das mesmas. Foi quando teve a ideia de usar o espaço das igrejas (leia-se templo) para ensinar as mesmas a ler, escrever, ler a Bíblia e ainda dar reforço escolar.
A iniciativa, não foi vista como boa. Na mentalidade de muitos crentes era um absurdo usar um espaço sagrado com crianças profanas como as que Raikes estava trazendo para o interior do templo. A despeito da oposição inicial, a proposta logo foi se espalhando e recebendo cada vez mais aceitação, visto que se via na mesma, uma grande estratégia de Evangelização infantil, e um modo eficaz de alcançar as famílias que estavam demasiadamente ocupadas com o trabalho nas fábricas. 
Aqui precisamos estabelecer que: 

  1. A iniciativa de Robert Raikes é de certa forma, herdeira da tradição reformada. Nesta é importante que as pessoas saibam ler para lerem e interpretarem a Bíblia. 
  2. A mesma se deu durante o período do avivamentos metodista, que recebeu este nome em função da proposta de reuniões nos lares para a oração e estudo da palavra. 
  3. As crianças a quem Raikes dirigiu a sua ação não eram crentes, mas crianças que em pleno domingo se viam abandonadas nas ruas, visto que os pais delas trabalhavam nas fábricas de domingo à domingo, e às vezes em cargas horárias de dezesseis horas por dia. 

O sucesso da Escola Bíblica Dominical, que não era apenas bíblica, visto que nela também eram ministradas aulas com fins de alfabetização e reforço escolar; se deu em toda Europa e Estados Unidos. Prova cabal de tal êxito pode ser visto na implantação da primeira igreja protestante em solo brasileiro, no caso a Congregacional, que foi estabelecida em Petrópolis é fruto deste trabalho cuja iniciativa pioneira do casal de missionários Sara e Robert Kallei. Porém o blogueiro Judson Canto alerta em seu blog, em um artigo a respeito do assunto que a primeira Escola Dominical, foi realizada em nosso país em Junho de 1836, quando Justin Spaulding, enviado pela Igreja Metodista dos Estados Unidos. De acordo com o autor em apreço a iniciativa não foi bem sucedida em função dos problemas que o missionário enfrentou quando chegou aqui. Mas necessário se faz entendermos que a Escola Dominical é a melhor educação teológica possível dentro do contexto da modernidade. Pois quando olhamos para o modelo bíblico de ensino, percebemos que o mesmo não se reduz aos domingos.

O modelo bíblico de ensino

De acordo com a Bíblia a educação cabia, em primeiro lugar ao patriarca (Gn 18. 19, 20), depois ao pai, ou chefe de família, que além de ensinar, deveria zelas para que a casa fosse pautada na prática da lei do Senhor (Dt 6. 5 - 11; 11. 19, 20). Com a falha deste sistema surge o modelo dos juízes, cujo ápice é Samuel, ao meu ver o mais zeloso de todos, e que mesmo fora do exercício da função se compromete em ensinar e interceder pelo povo (I Sm 12. 22, 23). O modelo seguinte é o sacerdotal, onde cabe ao sacerdote o ensino da lei (Jr 18. 18; Ml 2. 7, 8), mas ao que parece cedo, cedo, este modelo entra em crise (Jr 2. 8; Os 4. 6). Aqui cabe esclarecer que a falência do sistema não se dá em função de questões de conteúdo e metodologia, mas de ausência de comprometimento, conforme os textos deixam implícito.
No Novo Testamento, temos a ordem de Jesus para ensinar. Desta ordem surge o modelo apostólico de ensino. Este é diário (At 2. 42, 43; 5. 42), e tem como conteúdo o que Jesus mandou ensinar (Mt 28. 19, 20), a finalidade do ensino aqui é apresentar todo homem perfeito a Cristo (Cl 1. 28, 29). Daí a nossa colocação quanto à consideração do caráter histórico da Escola Bíblia Dominical, visto que a educação bíblica não é dominical, mas diária. Para que venhamos a viver novamente esta realidade bíblica, a Escola em apreço é um bom começo, mas bom seria que seus ensinamentos fossem perpetuados dentro do lar cristão, por meio de um treinamento dos pais, feito pelos ministros conforme preceitua a Bíblia (Ef 4. 11, 12).

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros. 

2 comentários:

  1. http://www.youtube.com/watch?v=VQ_vlCubyL4

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  2. Caro Anônimo conheço a argumentação de Hobbes e de Locke, e de ler, não de assistir vídeos como você. A inteligência aparece na capacidade articular o conteúdo do vídeo com o que postei. Quando você tiver esta condição volte a postar aqui, que suas postagens serão bem vindas, bem recebidas e bem comentadas por mim.

    Mais curioso é que sequer comento politica no presente post e que a crítica de Hobbes, por exemplo é contra a politica baseada na soberania. Coisa que se você tivesse realmente visto o vídeo saberia.

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