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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Como conciliar Mt 10. 21, 22 com Jo 10. 27 - 29



Me fizeram esta pergunta há algum tempo atrás e prontamente respondi que não. Ao dar semelhante resposta tinha em mente aqueles textos em que Cristo e os demais escritores dão aquelas garantias da segurança da salvação (Jo 5. 24ss; 6. 35 - 44; 10. 27 - 29). Face ao meu posicionamento imediatamente ouvi: acredito que aquele que perseverar até o fim será salvo. A resposta talvez seja uma menção aos discursos de Cristo antes da missão dos doze (Mt 10. 21, 22) e do sermão do monte das oliveiras (Mt 24. 12, 13). Minha questão é por que estas duas verdades tem de ser opostas uma à outra? Por que tem de serem vistas como contraditórias quanto foram ditas pelo mesmo Cristo? E como harmonizar ambas?

A primeira observação a ser feita é que não é por ser adepto das doutrinas da reforma protestante que irei menosprezar os apelos da Bíblia em relação à perseverança, mas conforme demonstrarei mais detalhadamente em outras postagens, creio que em função da seriedade do apelo à perseverança, a mesma seja sustentada exclusivamente pelo poder de Deus. Afirmo isto porque a Bíblia diz que os eleitos de Deus são regenerados para uma nova e viva esperança e são sustentados pelo poder de Deus, mais do que isto, são guardados para a salvação que há de se manifestar no dia final (I Pe 1. 2 - 5). E na medida em que se atenta para o contexto dos textos em que a perseverança é exigida percebe-se que não é qualquer tipo de persistência, mas uma paciência tal face às tribulações que somente por meio do poder de Deus a mesma pode ser alcançada. 

A segunda observação é a de que ao contrário do que se ventila por aí nenhum crente, pastor, ou pregador reformado apresenta adesão, ou anuência ao relaxamento com a vida de santidade, igualmente exigida pela Bíblia. Em escrito algum de reformador algum você, caro leitor verá isto. Leia MacArthur, Owen, Stott, Spourgeon e quantos reformados forem, jamais vossa mercê irá ver uma única linha em que se afirme que o crente pode pecar, pelo contrário!

Uma última observação inicial é a de que o modo como a perseverança é pregada pela esmagadora maioria dos crentes desta nação dá a entender que a perseverança exigida por Cristo seja similar ao mito de Sísifo. O que sabemos a respeito deste vem de um ensaio de Camus, que narra a história de um homem que todos os dias levava uma pedra ao cume de um monte e ao chegar lá ela rolava ribanceira abaixo, o que condenava o mesmo a repetir tal ato todos os dias. Quem sabe o que é lutar de verdade contra pecado sabe o que é assim mesmo e se o homem estiver sozinho neste empreitada a guera estará literalmente perdida. 

Sabedor de que os reformadores consideram a totalidade das Escrituras com seriedade, e que este tem de ser o meu comportamento, de que não devo privilegiar um texto em detrimento de outro, como conciliar a fala em que Cristo pede perseverança com a que ele dá garantia da salvação? Primeiro, reconhecendo que ambas não são excludentes, nem ilógicas. Segundo, sabendo que a garantia de segurança de salvação é para a ovelha de Cristo (Jo 10. 27 - 29), para o que ouve a sua palavra e crê na mesma (Jo 5. 24; 6. 35 - 44), e portanto, não se estende a todo crente nominal. Por último, reconhecendo que a perseverança exigida não é qualquer tipo de perseverança, mas a paciência oriunda da tribulação (Tg 1. 2 - 4). 

No contexto deste texto Jesus afirma que os seus discípulos são como ovelhas no meio dos lobos (sobrevivência zero), que eles serão arrastados para a sinagoga, serrão traídos pelos seus familiares, e que serão odiados de todos por amor ao nome dele (Mt 10. 16 - 21). Agora pense comigo: quem por suas próprias forças sobrevive em um ambiente deste? Quem em são consciência mantém sua fé firme em tal situação? E que pode dizer que o faz por sua própria força? A leitura do contexto geral do Evangelho revela que Pedro, o único que ousou dizer que ia com Cristo até a morte o negou, será que isto não deveria acender o alerta dos caros crentes pelagianos da nação brasileira?

Creio que as duas verdades devem de ser mantidas e que a segurança da salvação não deve ser motivo para o relaxamento, pelo contrário! Perseverar é a resposta do cristão que foi alcançado pela graça e olha para o exemplo de Cristo (Hb 12. 1, 2 ). De igual modo creio que as advertências não devem alimentar o legalismo, nem servir de base para um discurso de mérito, muito menos de ameaça para que as pessoas fiquem na Igreja (leia-se instituição) sob jugo de opressão, a perseverança tem de ser no amor e na Palavra, do contrário não serve. 

Abraços fraternos em Cristo Jesus, Pr Marcelo Medeiros. 

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