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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O Cuidado com a Língua



Já escrevi neste espaço a respeito do cuidado necessário com a língua, ao tecer comentários sobre a lição de Escola Bíblica Dominical editada pelas Casas Publicadoras das Assembleias de Deus no Brasil (aqui). No estudo indicado fiz questão de pontuar que o problema da língua não está no órgão em si, mas na natureza pecaminosa do homem, o que faz com que seja tão difícil o domínio da língua. Neste estudo proponho uma reflexão à luz da sabedoria judaica do período inter bíblico, do ensino do Evangelho, e da carta em apreço.

A LÍNGUA NA ÓTICA DA SABEDORIA JUDAICA

No livro de Provérbios encontro a seguinte afirmação: seis coisas detesta Iahweh e sete lhe são abominação (Pv 6. 16 Bíblia de Jerusalém), ao avançar na leitura do texto o que encontro como coisas que Iahweh destesta? Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente (Pv 6. 17 Bíblia de Jerusalém). O mais triste na Igreja Evangélica Brasileira é a visão limitada da mesma quanto ao pecado, de forma que os vícios e os pecados de natureza sexual são facilmente identificados, mas os referentes à língua, raramente.

Perceba que no texto citado a língua mentirosa é associada aos olhos altivos e a mãos que derramam sangue inocente. A associação entre a altivez e a perversidade de boca se dá quando o indivíduo se acha no direito de determinar sobre a vida de outrem, e isto, sem saber das reais motivações. Mas a a relação língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, é maior indicador de que para se matar alguém, ou ser tão réu quanto um assassino, não é necessário que se cometa homicídio. Jesus falou a este respeito no Evangelho. Para se tornar réu do sinédrio e do fogo do inferno, basta uma palavra ofensiva (Mt 5. 21, 22).

Ao lado da ira, o ódio aparece como motivação para o assassinato, e ao voltar o olhar para a sabedoria bíblica leio: a língua mentirosa odeia as suas vítimas e a boca fluente provoca ruínas (Pv 26. 28 Bíblia de Jerusalém). Não foi sem razão que Davi orou a Deus pedindo: livra-me Iahweh, dos lábios mentirosos, da língua traidora (Sl 120. 2 Bíblia de Jerusalém).

Se existem pessoas cujos lábios estão comprometidos com a mentira, e toda sorte de pecados da língua, tal se dá pela natureza depravada do homem. Não é sem razão que Salomão diz: o mau fica atento aos lábios perniciosos, o mentiroso dá ouvidos à língua perversa (Pv 17. 4 Bíblia de Jerusalém). Sem homens que ouçam perfídias não há como fofocas, boatos, e maledicências prosperarem. Mas a má natureza dos homens contribui para que tais avanços ocorram. 

Este mesmo ensino pode ser conferido no Evangelho, e de certa forma nós já indiquei aqui. Nas linas abaixo transcorrerei mais acuradamente sobre a ligação feita por Jesus entre a língua e o coração, por exemplo, e como aquilo que sai do homem o contamina.

O EVANGELHO E O ENSINO A RESPEITO DA LÍNGUA

Já falei acima á respeito da ligação entre a ofensa e a ira, ou mesmo o ódio, e como Jesus condenou severamente tais pecados, também fiz a correlação entre os mesmos e a sabedoria judaica, tudo visando mostrar o quanto o ensino de Cristo se encontra articulado com a concepção autorizada das Escrituras Sagradas. Agora me cabe ressaltar o que Cristo ensinou a respeito da língua em situação específica. Em uma determinada situação Jesus foi acusado pelos fariseus de expulsar demônios por Belzebú. Diante do fato ele respondeu:
Ou declarais que a árvore é boa e seu fruto é bom, ou declarais que a árvore é má e seu fruto é mau. É pelo fruto que se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar de coisas boas, se sois maus? Porque a boca fala daquilo que o coração está cheio. O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, mas o homem mau do seu mau tesouro tira coisas más. Eu vos digo que toda palavra sem fundamento que os homens disserem, darão conta no dia do julgamento. Pois por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado (Mt 12. 33 - 37 Bíblia de Jerusalém). 
que lições podem ser retiradas do texto em apreço?

  1. A fala humana é comparada com o fruto de uma árvore. Do fruto da sua boca o homem sacia-se do que é bom, e cada qual receberá a recompensa por suas obras (Pv 12. 14 Bíblia de Jerusalém), e: pelo fruto da sua boca o homem se nutre do bem, mas a vida dos traidores é apenas violência (Pv 13. 2 Bíblia de Jerusalém).
  2. A qualidade do homem é vista pela qualidade daquilo que ele fala. Algo confirmado na literatura de Sabedoria, conforme pode ser vista na seguinte fala: a boca do justo é prata escolhida, o coração dos ímpios vale pouco. Os lábios do justo apascentam a muitos, os estultos morrem por falta de juízo (Pv 10. 20, 21 Bíblia de Jerusalém).
  3. Todavia, há homens que conseguem disfarçar a qualidade real de sua natureza por meio de palavras que não expressam sua real condição. Mas há um perfil de homem que ama o mal e odeia os mandamentos divinos, a despeito do quanto o citam de cor. São estes que abrem a boca para o mal e cujos lábios tramam fraude (Sl 50. 19).
  4. Os fariseus se enquadram nesta categoria de homens, jamais falavam segundo a retidão do seu coração.
  5. Ao ofenderem a Cristo, afirmando que o mesmo expulsava demônios por Belzebu, os fariseus revelaram a sua verdadeira natureza, aquilo que de fato estava em seus corações. O fruto mostra o cultivo da árvore, assim a palavra do homem, os pensamentos do seu coração (Eclo 27. 6 Bíblia de Jerusalém), ou como disse o próprio Cristo: porque a boca fala daquilo que o coração está cheio (Mt 12. 34 Bíblia de Jerusalém). 
  6. Jesus disse que o que sai da boca provém do coração, e é isso que torna o homem impuro (Mt 15. 18 TEB), dando a entender que a língua do homem possui poder muito maior no processo de impureza do homem do que lavar, ou deixar de lavar as mãos. 

Este é, em breves palavras o ensino do Espírito Santo e de Cristo a respeito da língua, conforme se vê nos Evangelhos.

A LÍNGUA NA CARTA DE TIAGO
Se alguém se julga religioso, sem refrear a língua, mas enganando-se a si mesmo, vã é a sua religião (Tg 1. 26  Tradução Ecumênica Brasileira). 
O texto em que Tiago faz tal afirmação, se situa em um contexto de cumprimento da Palavra de Deus, no caso a que está sendo ensinada (Tg 1. 19 - 25 [aqui]). Todavia, tanto o cumprimento da Palavra, da essência da lei, quanto das advertências da sabedoria dependem estritamente de uma nova natureza no homem. Tal se dá quando o crente é gerado de novo pala Palavra da Verdade, a fim de vir a ser uma nova criatura (aqui e aqui). SOMENTE HOMENS REGENERADOS PODEM REFREAR SUAS LÍNGUAS.

Segundo Tiago, todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo (Tg 3. 2 NVI). Esta é uma verdade muito bem colocada pelo próprio Cristo quanto afirmou: não é o que entra na boca do homem que o torna impuro, mas o que sai da boca, eis o que torna o homem impuro (Mt 15. 11 TEB). As razões já foram elencadas supra, mas creio que ser didático repetir que a língua reflete a realidade da natureza pecaminosa. Para Tiago, a língua também é um fogo, um mundo do mal; a língua está instalada entre os nossos membros e mancha o corpo inteiro, abrasa o ciclo da natureza, sendo ela mesma abrasada pela geena (Tg 3. 6, TEB).

Há pessoas cuja linguagem fomenta ainda mais o clima de guerra que possa existir. O patife fomenta a maldade, nos seus lábios há como fogo devorador (Pv 16. 27 TEB). Tenho afirmado ao longo deste estudo que a língua apenas reflete a natureza real dos homens, este é o ensino das Sagradas Escrituras. Tanto que a Bíblia afirma que a boca do justo é prata escolhida, o coração dos ímpios vale pouco. Os lábios do justo apascentam a muitos, os estultos morrem por falta de juízo (Pv 10. 20, 21 Bíblia de Jerusalém).

Tiago coloca para o cristão zeloso um sério problema, ao afirmar: Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo (Tg 3. 2 NVI), e: mas a língua, homem algum consegue domá-la, flagelo que não para, cheio de veneno mortal (Tg 3. 8 TEB). Na tradição sapiencial uma menção aos homens  ímpios que premeditam o mal. Segundo Davi, eles afiaram sua língua como a serpente, têm veneno de víbora entre os lábios (Sl 140. 4 [3] TEB). Diante de tal constatação, que cuidado tomar com a língua? Como parar a mesma?

A tradição sapiencial bíblica indaga: Alguém ama a vida? Alguém quer ver dias felizes? Guarda a tua língua do mal e os teus lábios das maledicências (Sl 34. 13, 14 TEB). Mas como evitar o pecado com os lábios? Simplesmente buscando ao Senhor. Davi era alguém tão consciente dos perigos da língua que orou dizendo: que as palavras da minha boca e o murmúrio do meu coração sejam aceitos em tua presença, Senhor, meu rochedo e meu defensor (Sl 19. 15 [14] TEB), ainda em outra ele ora dizendo: Senhor, põe um guarda à minha boca, vigia a porta dos meus lábios (Sl 141. 3 TEB). Esta tem sido a minha oração diária e quero convidar o leitor a que faça a mesma todos os dias.

Em Cristo, Marcelo Medeiros

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