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terça-feira, 9 de junho de 2015

O Poder de Jesus Sobre a Natureza e os Demônios



No início do capítulo quatro do Evangelho de Lucas o leitor se depara com o relato da tentação. Neste curioso episódio o tentador desafia sua filiação divina, a experiência de Cristo no Jordão e o amor marcante na sua relação com o Pai. A sequência traz um quadro diferente, no qual os demônios além de conhecerem a identidade de Cristo, ainda confessam o poder do mesmo. Este passa a ser o padrão comum nos encontros de Cristo com as pessoas oprimidas por espíritos malignos.

Quanto ao poder de Cristo sobre a natureza em Lucas ele é perceptível por meio da pesca maravilhosa (Lc 5). A despeito da explicações que possam ser elaboradas para o respectivo fato, a verdade é que tudo o que os discípulos possuem é a Palavra de Cristo para por meio da autoridade da mesma se orientarem a respeito de onde lançariam as redes. Embora o fato a ser observado hoje seja o controle do Cristo sobre a tempestade.

PODER SOBRE OS DEMÔNIOS


Aqui se faz necessário atenção para o seguinte texto:

E estava na sinagoga um homem que tinha o espírito de um demônio imundo, e exclamou em alta voz, Dizendo: Ah! que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: O Santo de Deus. E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal. E veio espanto sobre todos, e falavam uns com os outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem? E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca (Lc 4. 33 - 37 ACF). 
algumas questões terãode serem observadas neste texto:

  1. O fato se dá em uma sinagoga. Este é uma instituição de ensino dos judeus. A mesma se popularizou após o exílio babilônico, e funcionava como um escola cujo fim era a educação dos meninos judeus na torah. 
  2. Jesus entrou nesta sinagoga, leu uma porção do profeta que versava a respeito de sua missão, que cinsisitia em pregar liberdade aos cativos (Lc 4. 19  ACF). 
  3. Uma pessoa possuída por espíritos malignos se manifestou em plena sinagoga. Em sua manifestação o demônio assumiu uma postura diferenciada em relação ao momento da tentação. Nesta ocasião o espírito maligno confessa que Cristo é o Filho de Deus a quem foi dado o poder para os condenar e atormentar. 
  4. Jesus não aceita o testemunho dos espíritos imundos, e os manda calar e saírem das pessoas, evitando assim quaisquer associações entre ele e os espíritos. 
  5. A despeito de sua clara oposição aos espíritos malignos na mentalidade dos fariseus ele era um associado de Belzebú, o príncipe dos demônios. 
  6. A despeito da oposição dos fariseus e demais autoridades políticas e religiosas da época, Jesus era estimado pelo povo, que reconhecia o seu poder em relação aos demônios. 
  7. Seu poder sobre os demônios foi um dos fatores que associados aos milagres mais diversos contribuíram para que sua fama se espalhasse divulgando-se por todos os lugares, em redor daquela comarca. 
Face às colocações supra cabe acrescentar que o ministério de Jesus não se centrava somente em exorcismos. Estes ocorriam dentro de um espectro maior, o ensino de Jesus. É a este que os espíritos malignos reagem a verdade ensinada por Cristo marca a proximidade do Reino. em decorrência do seu poder o espanto tomou conta dos que estavam na sinagoga a ponto de dizerem: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem? E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca (Lc 4. 37 ACF). 

De acordo com Vincent, este é um dos raros textos em que Lucas emprega o termo ακαθαρτοις πνευμασιν (akathartois penumasin), ou espírito impuro como as versões em lígua portuguesa. O poder de Cristo sobre os demônios é descrito por meio de dois termos εξουσια (exousia) e δυναμει (dinamei). A primeira expressão engloba o pleno poder que é confiado a alguém no exercício de uma missão. E Cristo se manifestou para destruir as obras do diabo, ou como disse João: Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo (I Jo 3. 8 ACF).

O poder de Cristo sobre os demônios evidenciava-se também por meio da obediência dos demônios à pessoa de Cristo. Perceba a pergunta das testemunhas: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem? Mais do que isto, os espíritos malignos, além de submissos ao poder de Jesus ainda reconheciam a autoridade e missão messiânica do mesmo.

E também de muitos saíam demônios, clamando e dizendo: Tu és o Cristo, o Filho de Deus. E ele, repreendendo-os, não os deixava falar, pois sabiam que ele era o Cristo (Lc 4. 41 ACF). Este é um quadro bem oposto ao da tentação no deserto. Na referida ocasião o diabo tentou Jesus no sentido de induzir o mesmo à dúvida quanto à sua filiação. Agora eles reconhecem sua missão messiânica. A expressão grega ο χριστος (o Cristo), equivale à expressão מָשִׁ֣יחַ (mashiah), o Ungido.

Em algumas das ocasiões, estas expulsões de demônios eram chamadas de curas. Como também os atormentados dos espíritos imundos; e eram curados (Lc 6. 18 ACF). Aqui Lucas emprega um termo usualmente traduzido por cura, mas cujo sentido nos escritos clássicos é o de prestar cuidados médicos, θεραπευω (therapeuoo). Sendo que frequentemente os evangelistas a empregam no sentido de curar mesmo. Em alguns momentos Lucas reforçava com a expressão ιατο (iato), para demonstrar que a ação de Jesus não se limitava aos cuidados, mas que se efetivava em cura mesmo (Lc 9. 11).

Um caso do notável poder de Cristo sobre o demônios foi o episódio do gadareno possuído por uma legião de espíritos malignos, conforme pode ser visto nas linhas abaixo
E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que desde muito tempo estava possesso de demônios, e não andava vestido, nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros. E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando, e dizendo com grande voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes. Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava. E guardavamno preso, com grilhões e cadeias; mas, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos. E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios. E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo. E andava ali pastando no monte uma vara de muitos porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e concedeu-lho. E, tendo saído os demônios do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago, e afogou-se (Lc 8. 27 - 33 ACF). 
perceba que:

  1. Os espíritos malignos privaram o homem de sua razão, ao ponto de que este sequer andava vestido, ou tinha vida social. 
  2. A primeira ação dos espíritos que possuíam aquele homem foi a de manifestar o seu temor diante de Cristo. O verbo empregado aqui é προσεπεσεν (prosepesen), que segundo Vincent é uma prostração motivada pelo senso de terror. 
  3. A primeira fala do demônio na boca deste homem é: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes. É declarado aqui que tanto Cristo quando o demônio não se coadunam, e que os espíritos malignos, por maiores males que causem aos homens, sabem que serão julgados por Cristo. 
  4. Os espíritos pedem a permissão para permanecerem naquela região, indo para a manada de porcos, e somente mediante a autoridade de Cristo são atendidos. 

Este é o poder de Cristo sobre os demônios.

O PODER DE JESUS SOBRE A NATUREZA

E aconteceu que, num daqueles dias, entrou num barco com seus discípulos, e disse-lhes: Passemos para o outro lado do lago. E partiram. E, navegando eles, adormeceu; e sobreveio uma tempestade de vento no lago, e enchiam-se de água, estando em perigo. E, chegando-se a ele, o despertaram, dizendo: Mestre, Mestre, perecemos. E ele, levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança. E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem? (Lc 8. 22  - 25 ACF). 
Como explicar a tranquilidade de um homem diante da fúria de uma tempestade? Aqui cabe a observação de que o fato se dáem um Lago com o qual os discípulos de Cristo tinham profunda intimidade, visto que a maioria dos mesmos exercia a sua profissão como pescador no Lago da Galiléia. Contudo, o contraste é gritante. Jesus está dormindo enquanto os seus discípulos estão se desesperando.

Um olhar mais atento para as Sagradas Escrituras revela ao leitor um Deus que tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés (Na 1. 3b ACF). Eliú é ainda mais detalhista que Naum em seu hino de louvor às maravilhas de Deus na natureza.
Da recâmara do sul sai o tufão, e do norte o frio. Pelo sopro de Deus se dá a geada, e as largas águas se congelam. Também de umidade carrega as grossas nuvens, e esparge as nuvens com a sua luz. Então elas, segundo o seu prudente conselho, se espalham em redor, para que façam tudo quanto lhes ordena sobre a superfície do mundo na terra. Seja que por vara, ou para a sua terra, ou por misericórdia as faz vir. A isto, ó Jó, inclina os teus ouvidos; para, e considera as maravilhas de Deus (Jó 37. 9 -14 ACF). 
Os ventos, o frio, a geada, as nuvens, o relâmapago têm sua origem em Deus. Daí a intimidade de Cristo para com os mesmos. Tudo o que o Senhor quis, fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos. Faz subir os vapores das extremidades da terra; faz os relâmpagos para a chuva; tira os ventos dos seus tesouros (Sl 135. 6, 7 ACF).  

Estes textos respondem a pergunta a respeito de Jesus: E eles, temendo, maravilharam-se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem? Perceba que a atitude dos discípulos foi de espanto φοβω (phoboo), de onde vem o termo fobia. Mas para aquele que criou os céus e a terra nada são. 

Em Cristo.


Marcelo Medeiros. 

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