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sábado, 13 de junho de 2015

A Última Ceia



A páscoa é uma des três principais festas judaicas ordenadas na lei mosaica, o fato de a mesma ter sido celebrada por Cristo momentos antes de sua prisão conferiu novo significado à mesma. Daí em diante esta passa a ser uma ordenança visando "trazer à memmória dos fiel a pessoa, obra, e vida de Cristo". 

Mas que Cristão algum caia na tentação de ver a Ceia do Senhor como uma mera ordenança. Existe todo um contexto cultural, teológico em que semelhante ordenança foi dada, e assim, necessário se faz com que o mesmo seja devidamente considerado a fim de que o propósito da ceia do Senhor seja devidamente cumprido. Este é o tema do presente estudo. 

A PÁSCOA

Existem sérias dúvidas a respeito do vocábulo que dá origem ao termo páscoa. alguns autores propõem que este termo seja derivado de paschu, que indica a paz e segurança resultante da instituição de um pocto entre duas partes. Neste caso o pacto de Deus com Israel seria o de preservação dos efeitos da passagem do destruidor pelo Egito. 

O termo egípcio p'shc também entra na disputa, sendo que neste caso como golpe, e seria uma alusão ao duro golpe dado pelo Senhor na terra do Egito ao ferir os primogênitos do povo opressor. 
O que feriu o Egito nos seus primogênitos; porque a sua benignidade dura para sempre; E tirou a Israel do meio deles; porque a sua benignidade dura para sempre; Com mão forte, e com braço estendido; porque a sua benignidade dura para sempre (Sl 136. 10 - 12 ACF).
Pasha é o termo usualmente aceito por fazer menção à passagem do destruidor pela terra do Egito e ao livramente que os primogênitos de Israel receberam nesta ocasião. 
E eu passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todo o primogênito na terra do Egito, desde os homens até aos animais; e em todos os deuses do Egito farei juízos. Eu sou o Senhor. E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito (Ex 12. 12, 13 ACF). 
Usualmente uma celebração judaica comemorativa em razão do livramento dos primogênitos na noite em que o destruidor passou pelo Egito e pela libertação do povo de Israel. Inicialmente ele foi comemorada de acordo com a descrição feita no texto de Ex 12, e conforme explicitado pelo autor na própria revista. 

Contudo com o passar do tempo a cerimônia se desenvolveu. De uma festa familiar ela passou a ser uma festa de peregrinação até o local do templo, conforme visto no Deuteronômio. 
Não poderás sacrificar a páscoa em nenhuma das tuas portas que te dá o Senhor teu Deus; Senão no lugar que escolher o Senhor teu Deus, para fazer habitar o seu nome, ali sacrificarás a páscoa à tarde, ao pôr do sol, ao tempo determinado da tua saída do Egito. Então a cozerás, e comerás no lugar que escolher o Senhor teu Deus; depois voltarás pela manhã, e irás às tuas tendas. Seis dias comerás pães ázimos e no sétimo dia é solenidade ao Senhor teu Deus; nenhum trabalho farás (Dt 16. 5 - 8 ACF). 
Em todas as cerimônias litúrgicas era feita uma refeição, com a memória dos feitos do Senhor na terra do Egito, porções de vinho eram tomadas entre as refeições. A diferença subistancial, conforme ressaltado neste estudo era que quando o povo era nômade a festa tinha o caráter de uma refeição mais familiar. Tão logo o povo passa a ser sedentário, a festa adquire caráter mais instittucional, com celebrações de sacrifícios (por parte dos sacerdotes). 

Durante a celebração era cantada a primeira parte do Hallel (Sl 113 - 114), após a refeição era cantada a segunda parte do Hallel (Sl 115 - 118). É provável que este tenha sido o hino que os Evangelhos afirmam ter sido cantado por Cristo após a celebração da páscoa. Partindo da última páscoa celebrada com Cristo, é instiuída a ceia do Senhor, ou Eucaristia. 

O SENTIDO DE CEIA
E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; Porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus. E, tomando o cálice, e havendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós; Porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até que venha o reino de Deus. E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós (Lc 22. 15 - 22 ACF). 
A ceia é literalemente uma refeição, geralmente a última realizada durante à noite. Mas dentro do contexto cultural bíblico fazer uma refeição com outra pessoa era um sinal de que ambos gozavam de paz, intimidade e comunhão. Um exemplo clássico, tanto do selo de uma aliança, quando do estabeleciento de paz entre duas partes é o caso de Abimeleque e Isaque, que selaram a paz em um banquete. 
E Abimeleque veio a ele de Gerar, com Auzate seu amigo, e Ficol, príncipe do seu exército. E disse-lhes Isaque: Por que viestes a mim, pois que vós me odiais e me repelistes de vós? E eles disseram: Havemos visto, na verdade, que o Senhor é contigo, por isso dissemos: Haja agora juramento entre nós, entre nós e ti; e façamos aliança contigo. Que não nos faças mal, como nós te não temos tocado, e como te fizemos somente bem, e te deixamos ir em paz. Agora tu és o bendito do Senhor. Então lhes fez um banquete, e comeram e beberam; E levantaram-se de madrugada e juraram um ao outro; depois os despediu Isaque, e despediram-se dele em paz (Gn 26. 26 - 31 ACF). 
Há que se observar neste texto que: 

  1. Em razão do crescimento de Isaque Abimeleque o repeliu de si. 
  2. Após a decisão tomada, este voltou atrás por haver percebido que o Senhor era com ele. Logo, a presença de Deus é fator determinante no estabelecimento da paz. 
  3. Diante da contatação de que Deus era presente na vida de Isaque, é proposto um juramento אָלָ֛ה ('ãlãh), cujo sentido pode ser de maldição, ou de juramento, pacto, concerto. 
  4. O emprego de אָלָ֛ה ('ãlãh) com este sentido é reforçado pelo uso da terminologia בְרִ֖ית (b'rith), que denota, uma aliança, ou acordo entre duas pessoas
  5.  Os termos do acordo entre Isaque e Abimeleque foram estes: que não nos faças mal, como nós te não temos tocado, e como te fizemos somente bem, e te deixamos ir em paz
  6. A aliança foi selada com um banquete entre as partes contratantes. 
  7. Foi isto que deus fez por nós através de Cristo Jesus. Ele estabeleceu a paz (Rm 5. 1; Ef 2. 14, 17; Cl 1. 20), firmou conosco uma aliança (Jr 31. 31 - 35). 
Os Evangelhos sugerem que Cristo de fato comeu sucessivas vezes com os seus discípulos, indicando com isto a comunhão que possuía com os mesmos. A parceria foi selada em meio a uma aliança ratificada na última páscoa que celebraram juntos. Deste ato nasce aquilo que o Critão conhece como "ceia do Senhor", ou 'Eucaristia" (ações de graças). Para o evangélico, um memorial, para católicos um sacramento (meio de se conferir graça). 

Mesmo vendo a ceia sob o prisma memorial, esta não pode de forma alguma ser desconctada de seu nascituro cultural. A ceia tem de ser mais que uma expressão litúrgica, ela tem de ser a expressão de aliança, paz e comunhão de Deus com o seu povo e dos membros deste uns com os outros. Afinal, a páscoa e a ceia dos cristãos primitivos era uma refeição carregada com estes significados, que não podem ser esvaziados pelas formalidades litúrgicas. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

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