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sábado, 27 de junho de 2015

A Igreja em um Mundo Novo



Há alguns anos Jonh Stott escreveu um livro cujo título é: Ouça o Espírito, Ouça o Mundo. Nele o autor, um dos maiores expositores das Escrituras defendia a idéia de que para que evangélicos fossem ouvidos, deveriam ouvir o mundo. Este ouvir consiste na percepção dos anseios do homem moderno, ao passo que a percepção da vontade do Espírito equivale à audição da Palavra. É neste ponto que se pode perceber o desafio que a Igreja tem diante de si.

A dificuldade em ouvir o mundo está no fato de que por meio da cultura e da arte uma nova lógica surgiu e os evangélicos não perceberam, e pior, perderam o bonde. No tocante ao ouvir o Espírito, o desafio está no fato inconteste de que o Espírito fala por meio das Escrituras, que por sua vez impõem um desafio ao cristão: o de transpor o abismo cultural, filosófico, histórico e linguístico.

De minha parte, vejo o lançamento da lição de Escola Bíblica Dominical de jovens da CPAD como uma oportunidade para que professores e leigos discutam tais questões em meio às aulas, e mais, estendam as discussões para além das classes, para os departamentos, redes sociais, e querendo Deus isto farei neste erspaço.

A TRANSIÇÃO DO MUNDO VÉTERO TESTAMENTÁRIO

Com vistas ao entendimento do mundo do Novo Testamento, ncessário se faz um recuo ao perído exílico. Antes do exílio na Babilônia o mundo judaico tinha no templo o seu centro. Este dado fica claro na profecia de Jeremias.
A palavra que da parte do SENHOR, veio a Jeremias, dizendo: Põe-te à porta da casa do Senhor, e proclama ali esta palavra, e dize: Ouvi a palavra do Senhor, todos de Judá, os que entrais por estas portas, para adorardes ao Senhor. Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Melhorai os vossos caminhos e as vossas obras, e vos farei habitar neste lugar. Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este. Mas, se deveras melhorardes os vossos caminhos e as vossas obras; se deveras praticardes o juízo entre um homem e o seu próximo; Se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, nem derramardes sangue inocente neste lugar, nem andardes após outros deuses para vosso próprio mal, Eu vos farei habitar neste lugar, na terra que dei a vossos pais, desde os tempos antigos e para sempre (Jr 7. 1 - 7 ACF). 
Perceba que a segurança no templo era tamanha que o povo compreendeu que enquanto o templo estivesse entre eles teriam a segurança. A profecia de Jeremias vai na contramão ao afirmar que a fidelidade de Deus ao povo e à aliança está ligada ao comportamento do povo, ao invés do templo em si.

Com a vinda do exército caldeu e sucessivamente do exílio, o povo sente a necessidade de uma outra forma de contato com a aliança. A partir daí a instrução torna-se o centro do viver judaico. Alguns autores, dentre os quais, R. K. Harrison afirmam que daí surgem as primeiras escolas que serão protótipos das futuras sinagogas. Este é um exemplo da adaptação.

Do exílio, nasce o fenômeno da diáspora (διασπορας), ou dispersão judaica, o que reforça ainda mais a necessidade de um processo de afirmação de identidade. O judaísmo palestino viveu isto no exílio na Babilônia e na época da dispersão no império persa, culminando com a perseguição imposta por Antíoco Epifâneo, registrada nas visões de Daniel (8), e no livro dos Macabeus.

Consulte o artigo Macabeus no dicionário Wycliffie, e perceberás que ocorreu um conflito entre judeus e helênicos em razão da política de helenização adotada por Antíoco Epifâneo IV.  O conflito chegou ao ponto de que a adoração e os sacrfícios judaicos foram proibidos, a idolatria foi oficializada e as cópias da lei queimadas.

A ação dos macabeus foi de resistência iniciada na cidade de Modin, a Noroeste de Jerusalém, quando o sacerdote Matatias se recusou a adorar aos ídolos. Após um massacre ocorrido em dia de sábado, e isto, porque os judeus se recusaram a lutar neste dia, os sobreviventes adotaram a tática de guerra santa (I Mac 2. 29 - 48).

Na diáspora de cunho helenista, o moviento se deu por outros meios. O livro de Sabedoria de Salomão (tido como apócrifo em contexto evangélico e por deutero canônico por eruditos de variadas confissões), é paraticamente uma apologia do judaísmo sobre as formas de religiosidade cananéia, egípcia e grega.

A menção que faço deste livro no presente espaço se dá pelo fato de ver o mesmo como uma tentativa de diálogo com a cultura grega. Primeiro pela equiparação do λογος com a Sabedoria judaica conforme de se pode ver no capítulo 7, depois pela assimilação de conceitos dantes obscuros no judaísmo, como o de imortalidade.

É deste modo que o judaísmo aparece como um fenômeno plural já na época de Jesus. O que se pode verificar nas duas pricipais seitas que compunham o sinédrio: Fariseus e Saduceus. Os primeiros criam em ressurreição, na vida futura, e na tanak. Os últimos não criam em ressurreição, vida futura, e aceitaval apenas a Torah. Foi neste ambiente plural, sincrético que apareceram doi homens cuja singularidade não pode deixar de ser destacada no presente estudo João Batista e Jesus.

O JUDAÍSMO E O MUNDO DO NOVO TESTAMENTO

O judaísmo palestino era o mais sincrético e pluralizado. Sincrético pela absorção de conceitos e categorias oriundas de outras culturas, conforme exposto linhas acima. Plural pelo fato de ser dividido internamente em seitas. Essênios, Fariseus, Saduceus, Zelotas, são exemplos de algumas destas seitas políticas que se faziam presentes no cotidiano do judeu.

Os essênios poderiam facilmente serem considerados os precursores do movimento eremita, ou monástico. Era uma seita que tinha sua habitação nas proximidades do mar morto. Julga-se que João Batista tenha sido criado por eles. A hipótese tem sua confirmação no ato do batismo, um tipo de ablução praticada pelos essênios. 

Eles se consideravam o remanescente do verdadeiro Israel. Não são mencionados no Novo Testamento, e possivelmente tal ausência se deva justamente pelo isolamento dos partidários desta seita. Caso seja verdadeira e algum dia a hipótese de João ter sido criado por esta seita se confirme, um questionamento a ser respondido será: como este emergiu do isolamento para a convivência? Ele e Jesus atingiram o mesmíssimo público: prostitutas, publicanos e alguns dos fariseus. 

Outro grupo pontual é o dos fariseus. a hipótese mais provável da origem dos mesmos é que sustenta que eles apareceram no período dos Macabeus. Mesmo quando se recorre às demais hipóteses, percebe-se que o movimento farisaico é estritamente ligado à questão do zêlo. No início eles tiveram o apoio das massas populares e foi assim que foram sendo fortalecidos politicamente. 

Inicialmente adotaram uma política de resistência aos governos estrangeiros, mas que foi sendo mudada. A primeira mudança veio quando "após fazerem parte do movimento dos macabeus), eles concquistaram breve autonomia política. Esta fracassou quando veio a dominação romana. A partir daí deixaram de ser opositores e adotaram uma política neutra. 

No período de Jesus eram mais casuístas, legalistas e sempre são descritos no evangelhos de forma negativa. Na verdade eles aprenderam a amar mais a glória dos homens do que a glória de Deus. Exatamente por este motivo eles se colocavam nas praças e faziam longas orações, jejuavam com os rostos desfigurados, e davam esmolas; tudo para serem vistos pelos homens. Mas foram estes mesmos fariseus que reestruturaram o judaísmo após a destruição de Jerusalém e iniciaram a tradição rabínica. 

Os saduceus poderiam ser comparados aos céticos da atualidade. Eles não aceitavam nada que fosse pertinente à tradição oral. Para os mesmos somente a toráh, ou o pentateuco eram válidos. Não criam em anjos, ressurreição. Mas se aliaram aos fariseus para condenar a Jesus, e juntos com o grupo rival compunham o sinédrio.

Os zelotas eram um grupo de judeus zelosos que ao contrário dos fariseus fugiam da neutralidade política. Especula-se que este mesmo grupo tenha obitido a aprovação de Cristo, que por sua vez foi um revolucionário de esquerda. Tal hipótese baseia-se no fato de que Jesus tenha recebido em seu colegiado apostólico um Simão Zelota. Mas o comportamento de Jesus nos Evangelhos é totalmente contrário a ação dos zelotas, uma vez que estes apelavam para a violência em seu zelo.

Os herodianos eram partidários de Herodes, contudo sem significativa organização partidária. Eram simplesmente pessoas leais a Herodes e são mencionados no Evangelho em duas ocasiões, ambas de forma negativa. Representam os que possuem fidelidade partidária e ideológica a qualquer custo, ainda que seja o do bom senso. Foi neste mundo plural e ao mesmo tempo sincrético que João Batista e Jesus atuaram e deixaram para nós exemplo de práxis do Reino.

JOÃO BATISTA, JESUS E A PRÁXIS DO REINO

O isolamento de João Batista e o seu batismo são interpretados como indicadores de sua herança essênia, e de fato o são. Mas a abrangência de sua pregação não tem nada a ver com este grupo sectário cuja vivência sequer é registrada nos Evangelhos e chegou a nós por meio da descoberta dos escritos que a seita produziu.

Contudo a pregação de João tinhe o seu foco no arrependimento (metanóian [μετανοιαν]) em razão da proximidade do Reino de Deus e do juízo revelado na Vinda do mesmo (Mt 3. 1- 12). A mensagem teve plena adesão do grupo mais improvável da época.
Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para o crer (Mt 21. 31, 32ACF)
João não precisou ser descoladão, ou malucão para conquistar as prostitutas e os publicanos. Ele tão somente pregou uma mensagem de arrependimento. A despeito de seus hábitos ascéticos sua mensagem penetrou ouvidos e corações. O segredo? Ele teve a Palavra do Senhor sobre sua vida.
E no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos presidente da Judéia, e Herodes tetrarca da Galiléia, e seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias. E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados; Segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; Endireitai as suas veredas. Todo o vale se encherá, E se abaixará todo o monte e outeiro; E o que é tortuoso se endireitará, E os caminhos escabrosos se aplanarão; E toda a carne verá a salvação de Deus (Lc 3. 1 - 6 ACF). 
com uma pregação inflamada pelo Espírito de Deus ele atraiu a si fariseus, prostitutas, publicanos, soldados, lhes ordenou arrependimento, anunciou o juízo que estava por vir aos que não se arrependessem de seus pecados, e indicou de forma mais prática e lúcida possível como a metanóian [μετανοιαν] se manifesta em termos práticos.
Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo. E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois? E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira. E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer? E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado. E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo (Lc 3. 7 - 14 ACF). 
Sem nanhum traço de deslumbramento João desfez as expectativas do povo quanto à sua identidade messiânica, e anunciou o batismo do Espírito e o de juízo aos que não se convertessem
E, estando o povo em expectação, e pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo, Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele tem a pá na sua mão; e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga (Lc 3. 15 -17 ACF).
O saldo final da vida de João pode ser visto no temor que este inspirou em ímpios como Herodes (Mt 14. 5) e nos saduceus (Mt 21. 24 - 26). Mas também foi dado pelo próprio Cristo, para quem aquele era mais do que um profeta, um mensageiro que fora mandado como prenúncio da obra messiânica.
 E, partindo eles, começou Jesus a dizer às turbas, a respeito de João: Que fostes ver no deserto? uma cana agitada pelo vento? Sim, que fostes ver? um homem ricamente vestido? Os que trajam ricamente estão nas casas dos reis. Mas, então que fostes ver? um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta; Porque é este de quem está escrito:Eis que diante da tua face envio o meu anjo,que preparará diante de ti o teu caminho. Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele (Mt 11. 7 - 11 ACF). 
Contrariando as regras atuais de marketing João alça a uma escala jamais alçada por nenhum dos pregadores marketeiros da atualidade. Dele Jesus diz: entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista. E só tem um caminho para superar João Batista SER O MENOS NO REINO DOS CÉUS.

Nem a vida ascética, nem a vida imersa na comunidade são garantia de aceitação. Se há uma verdade a ser absorvida por nós cristãos e evangélicos é que o estilo de vida cristão é ofensivo aos que não são da luz, de modo que tanto Jesus quanto João Batista foram rejeitados por sua geração.
Mas, a quem assemelharei esta geração? É semelhante aos meninos que se assentam nas praças, e clamam aos seus companheiros, E dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes. Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por seus filhos (Mt 11. 16 - 19 ACF). 
Repara que Cristo não pede atenção aos seu estilo de vida, mas às suas obras, e pronuncia um juízo contra os que a despeito dos sinais não creram. Este é o maior desafio que teremos pela frente

Continua........


Marcelo Medeiros. Em Cristo.
 


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