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domingo, 2 de dezembro de 2012

Lição da EBD nº 10






Sofonias, e o Grande dia do Senhor

O profeta Sofonias apresenta características distintas em relação aos demais profetas. Primeiro, ao lermos seu livro nos deparamos com uma extensa genealogia, algo que ao ver de todos os comentaristas é incomum na literatura profética. Segundo, sua genealogia o liga ao nome de um dos reis mais piedosos que houve em Judá, o rei Ezequias. O mais curioso, é que foi este soberano que recebeu de Isaías, o oráculo de que as riquezas da Casa do Senhor seriam levadas por Babilônia, e curiosamente sentiu alívio por saber que tal fato não se daria em seus dias (Is 39).
Uma lição que extraímos deste primeiro comentário é a visão "prévia", que Deus tem de todas as coisas que existem. A presciência de Deus, na verdade é um termo antropomórfico, visto que fala do conhecimento divino em categorias temporais. Deus sabe de todas as coisas e pronto. Ele não habita no tempo e no espaço, mas na eternidade, e desta perspectiva ele vê o tempo como um fluxo contínuo.
Retornando ao tema proposto, Sofonias é um profeta contemporâneo de Naum, Jeremias, Habacuque, e da famosa profetisa Hulda. Pelo tom dramático que o profeta emprega para falar do dia do Senhor (Sf 1. 7, 8, 10, 14, 18; 2. 2, 3; 2. 8) cuja expressão em hebraico é: יֹ֣ום יְהוָ֔ה (yom YHWH), a maioria dos intérpretes decidiu colocar o seu ministério profético nos dias anteriores às reformas feitas por Josias.
Ainda assim convém ressaltar que a única evidência interna, afirma tão somente que seu ministério se deu durante o reinado de Josias, conforme lemos: durante o reinado de Josias, filho de Amom, rei de Judá (Sf 1. 1 NVI). Minha singela opinião é a de que seu ministério profético possa sim ter ocorrido durante o período de reforma. A profecia de Hulda é bastante clara a este respeito. por Josias ter se arrependido, "ele morrerá antes que as maldições escritas no livro aconteçam", ou seja, Josias não veria as desgraças que se abateriam sobre a cidade santa (II Rs 22. 19, 20). Em outras palavras, "o destino de Judá já estava selado".
Reornando ao tema do dia do Senhor יֹ֣ום יְהוָ֔ה (yom YHWH), percebemos que este mesmo é de extrema importância para Sofonias, dadas às ocorrências das expressões no livro do referido profeta (Sf 1. 7, 8, 10, 14, 18; 2. 2, 3; 2. 8). O dia do Senhor יֹ֣ום יְהוָ֔ה (yom YHWH), é um dos conceitos chave do livro, e para o desenvolvimento do mesmo, o profeta recorre a uma ampla tradição profética anterior e contemporânea ao mesmo, o que indica que este seja conhecedor dos escritos de muitos profetas.
Em todos os casos, para o profeta Sofonias, o dia do Senhor יֹ֣ום יְהוָ֔ה (yom YHWH) é:
  1. Um dia que está muito próximo. Calem-se diante do Soberano Senhor, pois o dia do Senhor está próximo (Sf 1. 7 NVI). O profeta Isaías mesmo convida o povo nas seguintes palavras: Chorem, pois o dia do Senhor está perto; virá como destruição da parte do Todo-poderoso (Is 13. 6 NVI). Para Ezequiel, o dia está próximo, o dia do Senhor está próximo (Ez 30. 8 NVI). A expressão קָרֹוב֙ (qãrôb) curiosamente é a mesma expressão empregada para designar parentesco. Tal indica que por sua atitude, Judá estava se avizinhando do dia do Senhor.
  2. Sofonias prossegue afirmando: o Senhor preparou um sacrifício; consagrou os seus convidados (Sf 1. 7 NVI). A expressão indica que a batalha de Deus contra as nações produzirá tantos cadáveres que o resultado será um banquete de aves de rapina. Jeremias percebe este sentido da expressão e afirma:  aquele dia pertence ao Soberano, ao Senhor dos Exércitos. Será um dia de vingança, para vingar-se dos seus adversários. A espada devorará até saciar-se, até satisfazer sua sede de sangue. Porque o Soberano, o Senhor dos Exércitos, fará um banquete na terra do norte, junto ao rio Eufrates (Jr 46. 10 NVI). Ambos os profetas empregam aqui a expressão ritual  זֶ֠בַח  (zebhah), cujo sentido é o de sacrifício, holocausto, ou matança.
  3. É um dia de ira. a expressão aqui é יֹ֖ום אַף־יְהוָֽה׃ (yom aph YHWH). אַף־ (aph) é uma expressão usada para designar a face, ou mesmo o nariz de uma pessoa, também pode ser a respiração acelerada, por conta de uma forte emoção.
  4. Este dia da ira do Senhor não deve de ser visto por nós como se fosse um dia futuro apenas. Tal interpretação talvez possa ser aplicada ao Apocalipse, mas não aos profetas, uma vez que estes falavem do futuro deles, não do nosso. Tal pode ser visto nas palavras de Jeremias, para quem o dia da ira do Senhor era o momento da desolação de Jerusalém por causa da invasão babilônica. Como se faz convocação para um dia de festa, convocaste contra mim terrores por todos os lados. No dia da ira do Senhor ( בְּיֹ֥ום אַף־יְהוָ֖ה), ninguém escapou nem sobreviveu; aqueles dos quais eu cuidava e os quais eu fiz crescer, o meu inimigo destruiu (Jr 2. 22 NVI).
Em razão do caráter trágico deste dia apenas um resto, ou remanescente sobrará de Israel. O termo
שְׁאֵרִ֛ית (Shrîth) indica os que escaparam, os que sobraram. Este remanescente se tornará herdeiro do território de Moabe, Amom, e da terra ocupada pelos filisteus. É o que lemos:

Ela pertencerá ao remanescente da tribo de Judá. Ali encontrarão pastagem; e ao entardecer, eles se deitarão nas casas de Ascalom. Pois o Senhor, o seu Deus, cuidará deles; ele restaurará a sorte deles. "Ouvi os insultos de Moabe e as zombarias dos amonitas, que insultaram o meu povo e fizeram ameaças contra o seu território. Por isso, juro pela minha vida", declara o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, "Moabe se tornará como Sodoma e os amonitas como Gomorra: um lugar tomado por ervas daninhas e poços de sal, uma desolação perpétua. O remanescente do meu povo os saqueará; os sobreviventes da minha nação herdarão a terra deles (Sf 2. 7 - 9 NVI).

Este restante do povo é um restante que não cometerá iniquidade. O remanescente (שְׁאֵרִ֛ית) de Israel não cometerá injustiças; eles não mentirão, nem se achará engano em suas bocas. Eles se alimentarão e descansarão, sem que ninguém os amedronte (Sf 3. 13 NVI). É a partir da ideia do resto (שְׁאֵרִ֛ית) que o profeta Sofonias desenvolve a sua temática da restauração do povo eleito, daí ele terminar o seu livro com o seguinte convite:

Cante, ó cidade de Sião; exulte, ó Israel! Alegre-se, regozije-se de todo o coração, ó cidade de Jerusalém! O Senhor anulou a sentença contra você, ele fez retroceder os seus inimigos. O Senhor, o Rei de Israel, está em seu meio; nunca mais você temerá perigo algum. Naquele dia se dirá a Jerusalém: Não tema, ó Sião; não deixe suas mãos enfraquecerem. O Senhor, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você, com o seu amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria (Sf 3. 14 - 17 NVI).

Pr Marcelo Medeiros, em Cristo.

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