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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012






Ageu, o compromisso do povo com a aliança.  
É consenso entre os estudiosos que o nome Ageu (heb. חַגַּ֣י ) tem as suas origens na palavra festivo. Isto é bem interessante, uma vez que, na opinião de Dillard e Longman III,  a maioria dos oráculos proferidos por este profeta se dão durante as festas judaicas.  Aparentemente este profeta pode ser contraditório com Isaías, por exemplo, para quem o centro da adoração não era o templo, mas o compromisso do povo com a Palavra de Deus (Is 66. 1 – 3). Para entendermos melhor a atuação profética de Ageu, precisamos considerar as razões históricas do templo, o contexto do exílio na Babilônia e a postura pós exílica do povo de Deus. As expressões בֵּ֥ית (bet) e כָּבֹ֔וד (Kabod) são os conceitos chave do livro, visto que o primeiro ocorre nove e o segundo três vezes respectivamente.
No princípio os patriarcas se relacionavam com Deus de forma direta edificando altares onde quer que estivessem (Gn 8. 20; 12. 7, 8; 13. 18; 22. 9; 26. 25; 35. 7). Jacó teve uma experiência com Deus à caminho de Harã, após acordar de um sonho no qual o “Deus de seus pais” lhe havia aparecido, ele unge o local e o chama de Betel (heb. בֵֽית־אֵל ), cujo significado é “Casa de Deus”.  Neste primeiro momento a Casa de Deus (heb. בֵֽית־אֵל ) é o lugar da experiência entre Deus e o patriarca. Mas este padrão não perdura.  Ainda no deuteronômio podemos ver as primeiras menções a um lugar no qual Deus faria habitar o seu nome. Os filhos de Israel não deveriam adorar em qualquer lugar, mas exclusivamente em um único lugar veja:
Estes são os decretos e ordenanças que vocês devem ter o cuidado de cumprir enquanto viverem na terra que o Senhor, o Deus dos seus antepassados, deu a vocês como herança. Destruam completamente todos os lugares nos quais as nações que vocês estão desalojando adoram os seus deuses, tanto nos altos montes como nas colinas e à sombra de toda árvore frondosa.  Derrubem os seus altares, esmigalhem as suas colunas sagradas e queimem os seus postes sagrados; despedacem os ídolos dos seus deuses e eliminem os nomes deles daqueles lugares. Vocês, porém, não adorarão ao Senhor, o seu Deus, como eles. Mas procurarão o local que o Senhor, o seu Deus, escolher dentre todas as tribos para ali pôr o seu nome para sua habitação. Para lá vocês deverão ir e levar holocaustos e sacrifícios, dízimos e dádivas especiais, o que em voto tiverem prometido, as suas ofertas voluntárias e a primeira cria de todos os rebanhos. Ali, na presença do Senhor, do seu Deus, vocês e suas famílias comerão e se alegrarão com tudo o que tiverem feito, pois o Senhor, o seu Deus, os terá abençoado. Vocês não agirão como estamos agindo aqui, cada um fazendo o que bem entende (Dt 12. 1 – 8 NVI).
Os altares idólatras deveriam ser derrubados, e toda prática idolátrica dos cananeus rechaçada, a fim de que o povo em momento algum se visse tentado a imitar as nações que Deus mesmo havia expulsado de Canaã. A adoração deveria ocorrer no lugar que Deus escolheu.
Apesar do texto determinar um lugar específico para a adoração, não há no mesmo indícios de que tal local deveria de ser um templo. É Davi com seu zelo  que conjectura a construção de um templo, ao Senhor, o que Deus nem aprova nem desaprova (II Sm 7), a única restrição é que Deus indica que seu filho lhe edificará uma casa, não ele visto que é homem de sangue.
Na dedicação do templo ao Senhor percebemos que ainda que Deus não possa habitar no templo que Salomão fez, todavia este serve como memorial (II Cr 6. 18 - 20). Ao povo como memorial de que Jerusalém é a habitação de Deus, o lugar onde se manifesta a sua imanência. Para Deus um memorial de que os olhos dEle estão atentos à oração que se fará no templo (II Cr 7. 14; 30. 18 - 20).
Nos Escritos dos profetas Deus se volta contra o templo exclusivamente em razão da iniquidade do povo, da quebra desta em relação à sua aliança (Jr 7). É exclusivamente a partir deste contexto que entendemos os oráculos de Ageu em relação à construção do santo templo. Há nove referências em Ageu em relação ao Templo, sendo que em duas a casa de Deus é chamada de templo.
Assim diz o Senhor dos Exércitos: Este povo afirma: Ainda não chegou o tempo de reconstruir a casa do Senhor. Acaso é tempo de vocês morarem em casas de fino acabamento, enquanto a minha casa continua destruída? (Ag 1. 2, 4).
Este oráculo foi proferido pelo profeta por causa da reação do povo em relação a uma adversidade que se levantou. Primeiro, o exílio na Babilônia nem de longe foi como as demais dominações. O povo judeu prosperou na cidade, conforme conselho do profeta Jeremias (Jr 25). Segundo, a geração que foi deportada morreu no exílio. Assim a nova geração não tinha Jerusalém, ou Judá como referência, mas Babilônia, e por este motivo permaneceu lá.
Vocês esperavam muito, mas, para surpresa de vocês, acabou sendo pouco. E o que vocês trouxeram para casa eu dissipei com um sopro. E por que fiz isso?, pergunta o Senhor dos Exércitos. Por causa do meu templo, que ainda está destruído, enquanto cada um de vocês se ocupa com a sua própria casa. Por isso, por causa de vocês, o céu reteu o orvalho e a terra deixou de dar o seu fruto (Ag 1. 9, 10 NVI).
Jerusalém estava reduzida a um estado de penúria e profunda pobreza, é isto que confirmamos ao ler estas palavras: Aqueles que sobreviveram ao cativeiro e estão lá na província, passam por grande sofrimento e humilhação. O muro de Jerusalém foi derrubado, e suas portas foram destruídas pelo fogo (Ne 1. 3). A situação acima descrita fez com que cada um se voltasse para a satisfação imediata das suas necessidades, deixando a casa de Deus de lado. Este estado de penúria é descrito pelo cronista (Ne 5. 1 - 5). Sem recursos como construir o templo do Senhor? Como fazer para que ele venha a ter a mesma glória dos tempos antigos?
É este questionamento que Ageu responde em seu segundo oráculo. O oráculo em questão veio ao profeta durante a festa dos tabernáculos e o profeta commeça com a seguinte pergunta: Quem de vocês viu este templo em seu primeiro esplendor? Comparado com ele, não é como nada o que vocês vêem agora? (Ag 2. 3 NVI). Mas o que Deus vai fazer para que o templo seja reconstruído? nas seguitnes palavras do profeta:
A resposta vem Esta é a aliança que fiz com vocês quando vocês saíram do Egito: "Meu espírito está entre vocês. Não tenham medo". Assim diz o Senhor dos Exércitos: "Dentro de pouco tempo farei tremer o céu, a terra, o mar e o continente. Farei tremer todas as nações, que trarão para cá os seus tesouros, e encherei este templo de glória", diz o Senhor dos Exércitos. "Tanto a prata quanto o ouro me pertencem", declara o Senhor dos Exércitos. "A glória deste novo templo será maior do que a do antigo", diz o Senhor dos Exércitos. "E neste lugar estabelecerei a paz", declara o Senhor dos Exércitos (Ag 2. 5 - 9 NVI).
  1. A pesquisa on line indica que pelo menos doze vezes a expressão Senhor dos Exércitos יְהוָ֥ה צְבָאֹֽות׃ (YHWH tsabaot), que pode ser traduzida tanto como Senhor dos exércitos, ou Senhor Todo Poderoso, aparece no presente livro (Ag 1, 2, 5,7, 9, 14; 2. 4, 6, 7, 8, 9, 11, 23).
  2. O profeta apela para a história do povo. Quando o povo saiu do Egito, Deus deu graça a este mesmo povo para que os egípcios lhes entregassem todos os seus bens (Ex 3. 22; 12. 32 - 38; Sl 105. 37).
  3. De acordo com o profeta, o Senhor dos Exércitos יְהוָ֥ה צְבָאֹֽות׃ (YHWH tsabaot) fará uma obra similar à que faz com os isrraelitas no período do ele mesmo vai abalar as nações da terra e trazer as riquezas destas para a construção da sua casa, de forma que a glória deste novo templo será maior do que a do antigo.
  4. Esta profecia terá o seu real cumprimento cerca de uns quinhentos anos depois. Herodes, o Idumeu, com vistas ao fortalecimento de sua política diante dos judeus vai empreeder o maximo de recursos para a reconstrução do templo. É somente durante este período que as palavras A glória deste novo templo será maior do que a do antigo ganharão corpo e concretude.
Aqui se faz necessário o entendimento de um outro conceito chave na profecia de Ageu, כְּבֹוד֩ (kabod). O sentido deste termo tanto pode ser: 1) riqueza, uma vez que ao que t udo indica, é com este sentido que Davi emprega o termo quando ora ao Senhor: A riqueza e a honra vêm de ti; tu dominas sobre todas as coisas. Nas tuas mãos estão a força e o poder para exaltar e dar força a todos (I Cr 29. 12 NVI).
Ligado ao conceito acima, temos כְּבֹוד֩ como 2) pompa, majestade e poder. É neste sentido que Ageu o emprega quando pergunta: Quem de vocês viu este templo em seu primeiro esplendor? Comparado com ele, não é como nada o que vocês vêem agora? (Ag 2. 3 NVI). 
3) A glória de Deus. Tanto que nos Salmos, o Senhor dos Exércitos יְהוָ֥ה צְבָאֹֽות׃ (YHWH tsabaot) é descrito como o Rei da Glória מֶ֖לֶךְ הַכָּבֹ֣וד  (melk Kabod) . Neste mesmo Salmo encontramos a tão preciosa afirmação de que do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem (Sl 24. 1 NVI). Ela se contextualiza e se harmoniza de forma extraordinária com o que Ageu profetizou ao povo sem recursos para construir o templo do Senhor.
As lições de Ageu para nós são simples: a) Não devemos permitir que nossas condições materiais condicionem nossa atuação na obra, b) Deus é o provedor e sustentador de todas as coisas, inclusive de sua obra, é Ele quem provê os meios para que a mesma siga em frente. Vivamos esta realidade em nossas vidas.
 
 

2 comentários:

  1. Pr Marcelo Medeiros, é membro da ADECIN, estudioso e grande defensor da Bíblia Sagrada. Belo comentário.

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    1. Grato pela apreciação e colaboração. É uma honra para nós. Que Deus o abençoe mais e mais.

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