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terça-feira, 6 de novembro de 2012

JONAS – E AS LIÇÕES DA MISERICÓRDIA DIVINA (parte 2) .






JONAS E AS LIÇÕES DA MISERICÓRDIA DIVINA (parte 2)

O contexto do profeta Jonas pode ser situado de forma histórica. É esta a abordagem predileta da grande parte dos ortodoxos, ao passo que os críticos preferem uma abordagem mais alegórica. Conforme vimos ao longo do estudo anterior Jonas nos apresenta um problema de natureza complexo. Não há uma abordagem que sequer possa ser considerada histórica, mas interpretar o livro com se o mesmo fosse uma fábula, ou novela nos deixa diante de problemas mais sérios.
Em todo o momento o livro descreve um Deus que intervém na natureza e nos homens. Se o que está escrito ali não aconteceu, a Teologia apresentada no livro está firmada em terreno movediço. A abordagem cientifica da Teologia é muito interessante, mas quando esta se propõe a pagar o preço do academicismo, a aplicação prática e vivencial fica extremamente comprometida.
Daí a minha decisão de interpretar o livro como uma narrativa real, mas aplicar as lições extraídas do pensamento crítico. Sob tal perspectiva, Jonas é um profeta que viveu durante o séc. IX a. C, durante o reinado de Jeroboão II em Israel. Foi ele o profeta que profetizou o restabelecimento do território das dez tribos conforme vemos em II Rs 14. 25ss.
Esta perspectiva permite-nos um entendimento mais esclarecido a respeito da resistência do profeta em ir para Nínive pregar a palavra de Deus. o próprio admite que fugiu para Társis, porque sabia que Deus é misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que promete castigar mas depois se arrepende (Jn 4. 2).
Por outro lado, temos de considerar que em um aspecto, críticos e ortodoxos concordam. O livro pode ter a seguinte aplicação: Jonas seria um símbolo da nação de Israel. A esta foi designado o papel de ser luz para as nações (Ex 19. 5, 6; Dt 4. 4 – 7), mas esta não entendeu bem o seu papel e por este motivo fugiu do mesmo. Ainda assim, o povo eleito, à semelhança de Jonas, foi milagrosamente preservado por Deus (Jr 30. 11; 31. 35 – 37). Esta é abordagem seguida, por exemplo, por John MacArthur, e que pode ser conferida em sua Bíblia de Estudo.
Hill e Walton em seu Panorama do Antigo Testamento propõem uma abordagem diferente. Para os autores há erros em se comparar Jonas com Israel. A maior riqueza do livro é perdida quando tal ocorre. Para os mesmos, Jonas é similar á Nínive, ambos são alvos da misericórdia divina, ambos são preservados por Deus (Jonas mediante o arrependimento por sua desobediência, e Nínive mediante o jejum apresentado).

O DEUS REVELADO

Diante de tal abordagem, a lição ganha outras conotações. O foco é retirado da ênfase missionária e colocado sobre Deus, que além de intervir em cada momento, que além de agir, usa de misericórdia com quem ELE quer. No livro,
1.      É Deus quem dirige a palavra a Jonas. A palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai (Jn 1. 1).
2.      O Senhor, porém, fez soprar um forte vento sobre o mar (Jn 1. 4 NVI). Relâmpagos e granizo, neve e neblina, vendavais que cumprem o que ele determina (Sl 148. 8 NVI). Quem ajuntou nas mãos os ventos? Quem embrulhou as águas em sua capa? (Pv 30. 4 NVI). A resposta para esta pergunta é uma: Deus, o Deus revelado no livro de Jonas.
3.      Este é o Deus dos céus, que fez o mar e a terra (Jn 1. 9 NVI). Ao Deus que fez todas estas coisas com as suas mãos nada é impossível, nem mesmo interferir em sua criação para servir ao seu eterno propósito.
4.      Tudo o que ocorreu na tempestade foi de acordo com o desejo divino (Jn 1. 14). A lição que extraímos daqui é a de que nada escapa ao seu controle soberano.
5.      O mesmo Deus que preparou um peixe para engolir Jonas deu ordem para que o mesmo o vomitasse (Jn 1. 17; 2. 10). Tal como ocorre na criação dos céus de da terra, os elementos da natureza obedecem à voz de Deus a fim de cumprir com o propósito do mesmo.
6.      O Senhor faz nascer uma planta para dar conforto ao profeta e ele mesmo manda um verme para acabar com a planta e em seguida, Deus mesmo traz um vento oriental para incomodar Jonas e dar uma lição nele.

Aqui cabe mais uma consideração. A historia é uma ramificação da ciência moderna, e como tal não pode apreender Deus. A razão é bem simples: a ciência é um tipo de conhecimento forjado visando a explicação da natureza e controle da mesma. Qualquer livro de Filosofia e de Filosofia da ciência vai dizer isto. Deus nem se submete ao controle humano, nem está no mesmo nível de compreensão que vemos nos objetos da natureza. Daí a dificuldade de enquadramento de uma Teologia bíblica e ortodoxa nos moldes da ciência moderna.
Jonas afirma que Deus é misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que promete castigar mas depois se arrepende (Jn 4. 2).
Deus é חַנון (piedoso, misericordioso, compassivo) e אַף (tardio em se irar, que respira fundo), aquele que possui uma abundante compaixão, principalmente em relação aos que se arrependem (Jl 2. 13). Traduzido por misericordioso e compassivo na Almeida Revista e Corrigida.
Também É אָרֵך׃ (muito paciente). O mesmo que tardio em irar-se. Traduzido por longânimo na Almeida Revista e Corrigida, e muito paciente na NVI.
A expressão cheio de amor, ou grande em benignidade é equivalente ao termo חֵסֵד (hesed).
Sobre o arrependimento divino em relação ao mal, precisamos considerar que o verbo usado aqui, pelo autor é ןָחַם (naham), cujo sentido é o de sentir-se pesaroso ao ponto de sentir piedade, ou se lamentar. Este pesar tem de ser interpretado à luz das demais perfeições mencionadas pelo profeta.
Estas são as bases do tratamento de Deus para com Israel e o livro as coloca como forma de tratar a todos indistintamente.

A LIBERDADE DIVINA

Se Deus mostrou misericórdia para com o profeta desobediente, não há razão para crermos que ele não deva mostrar a mesma benevolência para com os ninivitas. Para o profeta e para os que seguem a lógica do mesmo o Senhor pergunta: Você tem pena dessa planta, embora não a tenha podado nem a tenha feito crescer. Ela nasceu numa noite e numa noite morreu. Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos rebanhos. Não deveria eu ter pena dessa grande cidade? (Jn 4. 10, 11 NVI).
O desafio do presente texto nos mostra o quanto nossos critérios estão invertidos. Temos zelo por aquilo que nos é útil. Mas Deus zela por tudo aquilo que ele fez, e com base neste zelo afirma: Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia, e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão (Ex 33. 19 NVI). Paulo reflete o mesmo conceito ao falar da soberania divina em Romanos (Rm 9. 15ss).
Assim, por meio do livro Deus quer mostrar que a sua graça, justiça, benevolência, misericórdia, longanimidade e compaixão, estão disponíveis aos que ele quiser demonstrar, independente de nossos critérios e de nossas justiças. Jonas afirma que Deus é misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que promete castigar mas depois se arrepende (Jn 4. 2), dando a entender que ele não queria que tais perfeições fossem aplicadas aos ninivitas, mas Deus ignorou a vontade do profeta  e agiu livremente.
A lição pode ser resumida nas palavras de Paulo Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão (Rm 9. 15 NVI). 

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