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domingo, 27 de julho de 2014

2014, uma triste constatação


Pior do que a frustração de uma Copa horrorosa, e do que a acachapante derrota do Brasil, por um placar absurdo, foram as baixas que tivemos na área artística e intelectual, e foram tão bem lembradas por Marina Silva de neste artigo extremo bom gosto. Há dias tento ensaiar uma palavra que expresse o que sinto com a morte de homens que foram, são e continuarão sendo fonte de inspiração para milhares de escritores, inclusive eu, que sou um  mero aspirante a, mas não encontro, ou não encontrava, até que ao ler a produção supra encontrei inspiração. 

As pessoas me perguntam como consigo ler tanto, e eu que não me vejo como um leitor de dois livros por dia, respondo que a leitura começa com o gosto, algo parecido com o apetite que nos leva a saborear comidas agradáveis. Mas a morte de Ariano Suassuna, Rubem Alves, e João Ubaldo Ribeiro, entre tantos outros que se foram este ano, me fez entender uma coisa a respeito de ícones como os referidos supra. São pessoas que dão a mim e a milhares de leitores voz. É simples ler uma obra deles percebo ali o que desejaria dizer, mas não tinha as palavras para tal. 

Antes da invenção do livro, a morte de tais homens era como a queima de uma biblioteca, mas aí veio o livro e os sábios passaram a ter voz, e desde então a morte passou a ser o silêncio, o emudecimento da voz e o livro o eco de tudo o que fora dito. Confesso que a morte destes autores me traz significativa dor, uma vez que constato a minha própria mortalidade. O eco da voz deles e de tanta gente que partiu é o meu consolo, percebo que a morte não pode nos silenciar de todo, o eco fica. 

Qohelet, um sábio pregador da congregação judaica disse certa vez que as palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos, bem fixados pelos mestres das assembleias, que nos foram dadas pelo único Pastor (Ec 12. 11 ACF), e que não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne (Ec 12. 12 ACF), concordo, mas entendo que é um enfado necessário para lidar com a dor da existência. E mesmo que o estudo traga enfado, o mesmo há de ser visto como uma enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar (Ec 1. 3 ACF). 

Daí que eles se foram, mas coaduno com Marina Silva quando esta diz que o Brasil de outras vozes, de outros pensadores que prossigam pregando as firmes estacas do sumo pastor. Até quando? Até que eu e você deixemos de ver em parte e de vaticinar em parte e possamos juntos ver face à face. 

Marcelo Medeiros

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