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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O livro do Êxodo e o Cativeiro de Israel no Egito


Estou chegando atrasado aos comentários de lições de Escola Bíblica Dominical das Casas Publicadoras das Assembleias de Deus. Mas creio que a despeito do atraso, se faz importante tecer algumas considerações a respeito de questões textuais concernentes à primeira lição, a fim de proporcionar ao leitor elementos que contribuam para edificação e enlevo espiritual dos educandos que frequentam esta tão maravilhosa instituição. Passemos então às considerações.

I) O nome do Livro
Estes pois são os nomes dos filhos de Israel, que entraram no Egito com Jacó; cada um entrou com sua casa (Ex 1. 1 ARCF).

 
Em nossas Bíblias o segundo livro recebe o nome de Êxodo, do grego ἑξοδους. Tal se dá em função dos tradutores da septuaginta terem nomeado o mesmo em função do principal tema, que é a saída do povo de Israel do Egito. Mas em Hebraico o nome do livro é concomitante com as primeiras palavras do mesmo é וְאֵ֗לֶּה שְׁמֹות (wi'lleh Shemott), cuja tradução é estes são os nomes. A seguir o livro de fato nomeia os filhos de Israel no Egito, preparando com isto a mentalidade do leitor para a informação que virá após, o crescimento dos filhos de Israel na terra do Egito.
 
II) Analise literária
 
A forma como o livro começa, fornece ao leitor atento a clara percepção de que na verdade o Êxodo é uma continuação do relato do Gênesis, onde vemos a mesma fórmula do primeiro verso do Êxodo. E estes são os nomes dos filhos de Israel, que vieram ao Egito, Jacó e seus filhos: Rúben, o primogênito de Jacó (Gn 46. 8 ARCF). Aqui também aparece a expressão וְאֵ֗לֶּה שְׁמֹות (wi'lleh Shemott). Não se pode menosprezar a informação de que todas as almas que vieram com Jacó ao Egito, que saíram dos seus lombos, fora as mulheres dos filhos de Jacó, todas foram sessenta e seis almas (Gn 46. 26 ARCF), que foram adicionadas aos filhos de José, e ao próprio José, somando então, junto com Jacó, setenta pessoas. Neste sentido, Êxodo é uma continuação de Genesis.
O livro de Êxodo é um dos mais híbridos (em termos literários) que temos na Bíblia. Nele encontramos: genealogia, narrativas, poesia, cânticos, orações, leis, teologia, ficando ao leitor e ao estudioso a árdua tarefa de escolher um estiolo em que classificar este livro. Os autores clássicos o classificam como História profetizante, ou teológica. Isto fica evidencia do na medida em que ao ler o Gênesis, o leitor atenta para a mensagem profética de Deus para Abraão. Ao renovar a aliança com o patriarca em apreço, Deus lhe diz:
Saibas, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia (Gn 15.13 - 16 ARCF)
De fato a continuidade do Gênesis nos mostra a descendência de Abraão descendo ao Egito com fins de preservação da posteridade (Gn 50. 20 - 23), mas em cada patriarca houve a certeza de que Deus haveria de visitar a geração futura com vistas a livrar a mesma da condição escrava, que é descrita por meio de dois verbos עֲבֹ֖ד (ebadhah), e עָנח ('anah). O primeiro é trabalhar como escravo, e o segundo significa afligir. Logo, a estada do povo de Israel no Egito foi de fato um cativeiro. Contudo, a profecia não termina aí. Deus também fala da libertação, e da saída de Israel com grandes riquezas.
 
III) Contexto histórico
Com fins de preservação da descendência de Israel, José foi vendido como escravo ao Egito. Ele mesmo reconheceu isto em meio a uma conversa com os irmãos, quando afirmou: Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida (Gn 50. 20 ARCF). O êxodo segue esta narrativa afirmando que Faleceu José, e todos os seus irmãos, e toda aquela geração. E os filhos de Israel frutificaram, aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles (Ex 1. 6, 7 ARCF). Aqui se descreve um crescimento exponencial, visto que de setenta pessoas eles progrediram para mais de meio milhão.
A opressão do povo começa quando se levanta um novo rei sobre o Egito. O texto afirma: E levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José (Ex 1. 8 ARCF) Como este rei não conheceu a José? A hipótese levantada por MacArthur é que este rei era possivelmente um hicso, e por este mesmo motivo não conheceu a José. O verbo hebraico יָדַ֖ע (Yadhah) é muito mais do que conhecimento (no sentido de informação), o verbo significa travar relacionamento, daí que a hipótese de MacArthur faça sim sentido.
Outra tese é a levantada por Werner Keller no clássico "E a Bíblia Tinha Razão". Para este autor, seria inviável um faraó egípcio ceder a um estrangeiro um lugar de honra em sua corte. Daí que ele e os defensores de uma data mais tardia do cativeiro egípcio e do êxodo defendam que o faraó contemporâneo de José tenha sido um hicso, e que no período do cativeiro o Egito os tenha expulsado passando a ver os hebreus como aliados dos invasores estrangeiros.  
Os que advogam uma data mais recente apoiam o pensamento de Werner Keller, ao passo que os que advogam uma data mais remota esposam o pensamento de MacArthur. O que tem de ficar claro é que a expressão לֹֽא־יָדַ֖ע (lo yadah), indica uma falta de familiaridade, que um relacionamento pessoal poderia ter proporcionado,  por parte do faraó com José. A imposição de trabalho foi o método do processo de escravidão.
Mas Deus que jamais esquecera a promessa feita ao seu servo Abraão, foi preparando em meio a este contexto alguém que seria o libertador, digo, o instrumento para a libertação do seu povo, visto que no plano divino constava que a nação de Israel sairia do Egito com grandes riquezas.
 
Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros.

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