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sábado, 4 de janeiro de 2014

A Parábola do Rico e do Lázaro




Um dos gêneros literários que encontramos nas Escrituras Sagradas é a parábola. O nome vem do grego παραβολην (parabolee), cujo sentido básico é o de comparação. É uma forma de ensinar que lança mãos às símiles. Fatos da vida cotidiana são usados por Cristo para ilustrar e transmitir ensinamentos. Fee e Sttuartt a definem como sendo uma história contada com fim de pegar (leia-se envolver), o ouvinte.

Dentro deste gênero temos uma parábola que é alvo de extremas controvérsias, a do Rico e do Lázaro. Primeiramente, Dake afirma em sua Bíblia de Estudo que o verbo haver, que aparece nas versões de Bíblias, é indicador de que a história contada por Cristo é real, do contrário, a mesma seria uma mentira, artificio do qual Cristo jamais se valeu. É fácil concordar que Cristo jamais se valeu de artifícios. Difícil é entender que a historia narrada seja uma descrição da vida futura, como querem os teólogos que seguem a linha dispensacionalista de Dake, e grande parte dos teólogos brasileiros.

O estudo deste texto é importante dentro do estudo geral da Escatologia, assunto sobre o qual falei abertamente neste espaço, aqui, aqui, e aqui. Creio que para entender o estudo anterior a este seja de vital importância tecer algumas considerações sobre este texto. Para tal necessário se faz observar o respectivo texto, e gostaria de ler o mesmo com o leitor do post. 
Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia no luxo todos os dias. Diante do seu portão fora deixado um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas; este ansiava comer o que caía da mesa do rico. Em vez disso, os cães vinham lamber as suas feridas. "Chegou o dia em que o mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão. O rico também morreu e foi sepultado.
No Hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado. Então, chamou-o: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo’. "Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento. E além disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem’. "Ele respondeu: ‘Então eu lhe suplico, pai: manda Lázaro ir à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos. Deixa que ele os avise, a fim de que eles não venham também para este lugar de tormento’. "Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’. " ‘Não, pai Abraão’, disse ele, ‘mas se alguém dentre os mortos fosse até eles, eles se arrependeriam’. "Abraão respondeu: ‘Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos’ (Lc 16. 19 - 31 NVI). 
  
I) Considerações

Face ao que lemos passo às considerações:
  1.   Os que desejam ver nesta história uma descrição natural se esquecem de que à luz do ensino geral das Escrituras a pobreza em si não é uma condição para a salvação, tal como a riqueza não é para a perdição.
  2. A fala de Abraão (Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento), é no mínimo intrigante, visto que face a omissão de qualquer confissão de fé, ou ato de bondade por parte de Lázaro, ela colocaria o acesso à salvação como algo ligado à condição sócio econômica do individuo.
  3. Esta mesma frase, se interpretada fora do contexto geral do ensino de Cristo, pode colocar o Evangelho nos mesmo nível das religiões cármicas. A salvação é fruto exclusivamente da graça, nada tendo a ver com a condição social do indivíduo.
  4. De igual modo ninguém é condenado simplesmente pelo fato de ser rico e desfrutar em vida de tal riqueza.
  5. Ainda temos de considerar que, à luz do ensino bíblico, mesmo um rico que doe os seus bens aos pobres não tem pela simples doação a garantia de vida eterna, uma vez que Paulo mesmo afirmou: Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me vale (I Co 13. 3 NVI).
  6. A visão do mundo futuro esposada pelo autor do texto (diga-se de passagem peculiar ao Evangelista Lucas), reflete e muito a visão grega, e do judaísmo do Novo Testamento. Para ambos os grupos, o inferno, ou melhor, o αδης (hades) era uma região para onde se dirigiam todos os mortos indistintamente. Os de vida moral mais elevada iam para os Elíseos, ao passo que os de conduta perversa recebiam sua punição em um local do mesmo hades, o ταρταρω (tártaroo). A diferença é que no presente texto o Elíseos é chamado de seio de Abraão.
  7. É claro que neste, tal como ocorre em inúmeros casos, palavras gregas são empregadas para expressar conceitos judaicos, e falaremos mais a respeito disto, visto que se interpretarmos αδης no sentido judaico veremos que temos ainda menos razoes para acreditar que o texto em apreço é um texto descritivo.
  8. O pedido do rico para que Lázaro seja enviado á sua antiga casa, a fim de pregar para os seus irmãos, para que os mesmos não tivessem o mesmo fim, reflete a crença mística do judaísmo tardio de que importantes personagens do Antigo Testamento voltariam.
  9. Note que o diálogo se dá entre o rico e Abraão. Se este texto descreve uma história verídica, ou uma realidade objetiva como Dake deseja, devo crer que Abraão é um tipo de guardião, ou gerente do paraíso celeste?
Minha conclusão é de que se o texto for interpretado literalmente estabelece uma série de contradições com o ensino geral do Evangelho. O que me leva a apelar ao contexto da parábola.
II) O Contexto gramatical da parábola

Durante as aulas de hermenêutica no seminário, sucessivas vezes ouvi a frase: texto sem contexto é pretexto para heresia. O ensino implícito ao adagio mais do que popular entre os Evangélicos é o de que se quisermos estabelecer o fiel sentido de um texto, temos de analisar o seu contexto imediato. Isto fica ainda mais fácil quando a discussão se dá entre pessoas que creem na inspiração da Bíblia. Tal crença permite a conclusão mais do que obvia de que os textos não foram inseridos aleatoriamente nos contextos, mas com um proposito supremo.

O contexto em que tal história se insere é o da parábola do administrador infiel. A lição que Cristo quer passar ali é a seguinte:
usem a riqueza deste mundo ímpio para ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas. "Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito. Assim, se vocês não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem lhes confiará as verdadeiras riquezas? E se vocês não forem dignos de confiança em relação ao que é dos outros, quem lhes dará o que é de vocês? "Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará ao outro, ou se dedicará a um e desprezará ao outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro". (Lc 16. 9 - 13 NVI). 
Simples assim. Este ensino possui ampla base e ordem nas Escrituras. Fato é que as riquezas devem ser usadas para a aquisição maior de amigos, a fim de que quando estas faltarem os amigos valham aos seus antigos ajudadores. Este é o uso da mordomia para aquisição e fortalecimento de relacionamentos autênticos.
Mas a história do administrador infiel trouxe reação negativa por parte dos fariseus, uma vez que os mesmos eram avarentos (Lc 16. 14), e Jesus reage afirmando:
Ele lhes disse: "Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus". "A Lei e os Profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele. É mais fácil o céu e a terra desaparecerem do que cair da Lei o menor traço. "Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher divorciada do seu marido estará cometendo adultério" (Lc 16. 15 - 18 NVI). 
Gostaria de observar que:
  1. Jesus condena a hipocrisia e a avareza dos fariseus.
  2. Ao mesmo tempo em que tece severa crítica aos seus interlocutores, ele apela à autoridade da lei, o que não é novidade em seus embates com os mesmos.  
  3. Jesus afirma a sua autoridade como proclamador do Reino de Deus.
  4. A história contada por Jesus, a respeito de um rico, que se vestia de finas vestes, e um mendigo, que desejava se alimentar com as sobras do rico, é a continuação da fala que destaquei supra. Tudo leva a entender que ao mencionar a história, Jesus queria afetar aos fariseus.
Texto e contexto! Simples assim!
  1. A mensagem da lei e dos profetas tinha em seu conteúdo a justiça social, o que era ignorado pelos fariseus (Mt 23. 23).
  2. As boas novas do Reino trazem um conteúdo voltado para os pobres (Mt 11. 5).
  3. Tal como a lei, as palavras de Jesus possuem valor permanente (Mt 24. 34).
  4. Deus não levará em conta o casuísmo farisaico ao lidar com os homens no juízo.
É sob este prisma que o real sentido da história do rico e do Lázaro emerge do contexto bíblico.

II) O contexto teológico da parábola

Já foi comprovado, no presente estudo, que a história do Rico e do Lázaro foi uma resposta de Jesus aos fariseus, face à clara rejeição dos mesmos quanto ao ensino de Cristo no tocante ao uso das riquezas. Algo muito comum, da parte Jesus, é o recurso de se valer de imagens do cotidiano cultural do público para se fazer entendido. Neste caso, Cristo se vale da compreensão do judaísmo rabínico a respeito da vida após morte.

Na medida em que lemos os textos sapienciais, percebemos que a vida após morte era um mistério para o judaísmo anterior ao exílio. A palavra grega αδης (hades), foi amplamente empregada pelos tradutores da Bíblia hebraica para se referirem ao שְׁאֹ֑ול (Sheol), que por sua vez é descrito com sendo a terra de sombras e densas trevas, para a terra tenebrosa como a noite, terra de trevas e de caos, onde até mesmo a luz é trevas (Jó 10. 21, 22 NVI). Em seu grito de dor Jó concebe o שְׁאֹ֑ול como sendo um lugar onde todos se igualam, e igualmente encontram repouso, veja: 
Agora eu bem poderia estar deitado em paz e achar repouso junto aos reis e conselheiros da terra, que construíram para si lugares que agora jazem em ruínas, com governantes que possuíam ouro, que enchiam suas casas de prata. Por que não me sepultaram como criança abortada, como um bebê que nunca viu a luz do dia? Ali os ímpios já não se agitam, e ali os cansados permanecem em repouso; os prisioneiros também desfrutam sossego, já não ouvem mais os gritos do feitor de escravos. Os simples e os poderosos ali estão, e o escravo está livre de seu senhor (Jó 3. 13 - 19 NVI). 
Este pensamento tem o seu eco nos salmos onde vemos os salmistas afirmando: Quem morreu não se lembra de ti. Entre os mortos, quem te louvará? (Sl 6. 5 NVI). Ao receber livramento o Rei Ezequias entoou o seguinte louvor: pois a sepultura não pode louvar-te, a morte não pode cantar o teu louvor. Aqueles que descem à cova não podem esperar pela tua fidelidade (Is 38. 18 NVI). Ainda mais contundente é a forma com a qual se descreve o inferno neste texto:
Acaso mostras as tuas maravilhas aos mortos? Acaso os mortos se levantam e te louvam? Será que o teu amor é anunciado no túmulo, e a tua fidelidade, no Abismo da Morte? Acaso são conhecidas as tuas maravilhas na região das trevas, e os teus feitos de justiça, na terra do esquecimento? (Sl 88. 10 - 12 NVI).
Nestes textos o inferno, ou שְׁאֹ֑ול (Sheol) é descrito como:
  1. um lugar onde todos os seres humanos descansam, independente de sua condição moral,
  2. O mundo dos mortos,
  3. O abismo da morte,
  4. região de trevas e,
  5. Terra dos esquecimento, um lugar onde Deus não é louvado.
Com isto podemos afirmar, junto com Marvin Richardson Vincent e Hans Bietenhard que foi pela da visão grega e persa, que por sua vez desembocou na literatura apocalíptica que o rabinismo desenvolveu um pensamento elaborado sobre a vida no além. Fora das incursões especulativas dos textos poéticos não temos nada de concreto no Antigo Testamento a respeito da vida após a morte. É destas constatações que concluo que ao responder aos fariseus sobre a questão do emprego do dinheiro como meio para se alcançar um fim maior, que Jesus proferiu uma história nos moldes do pensamento da época.

O Novo Testamento também não é prodigo em informações a respeito da vida após a morte. Paulo fala em duas ocasiões em estar com Cristo (Fp 1. 23; II Co 4. 14 - 5. 10), e ao meu ver tal concepção, a despeito das influencias de pensamento do rabinismo, se coaduna com a cosmovisão poética e profética. Na medida em que o tempo se passou, e com a revelação progressiva, a ressurreição foi ganhando espaço no pensamento judaico (Is 26. 19; Dn 12. 2), o mundo dos mortos foi sendo visto como algo tão temporário que sequer merecia atenção.

O mesmo ocorre com Paulo quando este fala de estar com Cristo. Sua perspectiva não é a vida em um ambiente edílico e condição de uma alma, ou espirito desencarnado, mas dealguém que terá o seu corpo mortal transformado na imagem do corpo de Cristo (II Co 5. 1, 2; Fp 3. 20, 21). Enquanto tal promessa não se concretiza, ele estará com Cristo, e nem a vida, nem a morte podem interromper tal comunhão, que ele já desfruta com o Senhor (Rm 8. 35 - 39). Há que se lembrar que o alvo supremo de Paulo não é ser despido, mas revestido, e voltaremos a este assunto neste blog.

Fato, é que das duas maiores mentes reveladas no Novo Testamento, nem Paulo, e muito menos Jesus deram sobejas, ou parcas informações a respeito da vida após a morte, do paraíso, ou do inferno. Creio que boa parte de nossa cultura e pensamento a respeito destes assuntos se baseia mais em informações oriundas da cultura pagã. Jesus, ao menos ousou se dirigir aos fariseus nos termos desta cultura, mas Paulo só fez uma afirmação a respeito do paraíso, que as coisas que ele vira lá, eram ilícitas de se contar aos homens, dada a inefabilidade de tais realidades.

III) Observações exegéticas sobre a parábola

Ao fazer uma exegese do texto em si obtemos alguns elementos que nos permitem uma exegese mais apurada. Os versos iniciais contrastam o estilo de vida de dois homens socialmente díspares. De um lado temos um homem rico e do outro um pobre, na verdade um mendigo. O termo grego πτωχος (ptoochos) era usado para expressar toda forma de carência, e foi usado por Cristo, na primeira bem aventurança,  para se referir aos que possuem noção de sua pobreza e indigência espiritual. Sendo que neste último caso πτωχοι τω πνευματι (ptoochoi too pneumati), ocorre em uma forma diferente, mas retendo o mesmo sentido.

Digno de nota é a ocorrência do nome Lázaro, que em grego é λαζαρος, mas que Vincent entende como sendo uma forma abreviada do nome Eleazar, cujo sentido é Deus é meu socorro. Por mais que se tente ver aqui indícios de que tal texto não se trata de uma parábola, quando se interpreta os elementos que compõem a história, torna-se perceptível que se trata de uma peça literária, cujos elementos apontam para o contexto global do ensino de Cristo, conforme dissemos supra.

Foi aos pobres que Cristo anunciou o Evangelho. Não que isto fosse condição para a salvação, mas que na teologia bíblica geral o pobre desde cedo foi associado com o humilde, ou com o manso. Merece destaque o termo עֲנָוִ֗ ('anaw), a raiz do termo hebraico עֲנִיֶּ֛ ('ani), cujo sentido é do pobreza (Dt 15. 11). O pobre em Israel era aquele que não possuindo terra para trabalhar vivia em total estado de indigência, podendo vir a mendigar. Fato é que o pobre do contexto bíblico é bem diferente do pobre do contexto social atual (ver aqui).

No contexto geral do Evangelho de Lucas não há espaço para a crença errônea de que somente os pobres, no sentido econômico do termo, herdam o Reino de Deus. Um fato preponderante é a conversão de Zaqueu, cujo desprendimento de suas riquezas e posses é o maior sinal de sua salvação (Lc 19. 8 - 10). E uma peculiaridade neste evangelista é a colocação da historia de Zaqueu após o relato do encontro de Jesus com o jovem rico.

A partir de tais observações, sou levado a crer que os homens descritos por Cristo na parábola do Rico e de Lázaro, na verdade soa símbolos de dois perfis de pessoas. Aqueles que buscam a suficiência nos bens desta vida, e como recompensa vão para o hades, e os que buscam seu socorro exclusivamente em Deus. Cabem aqui algumas observações a respeito do paraíso, ou do céu conforme descrito na parábola (que fazem questão de que não seja uma parábola, mas uma história descritiva).

Observe, meu caro leitor que o paraíso é descrito como seio de Abraão, curioso não é? Isto talvez ocorra em função da fusão conceitual que se fez no período interbíblico entre os conceitos de Éden, paraíso e seio de Abraão, mas cabe ressaltar aqui que o encostar no seio é um ato de intimidade e proximidade extremas. Assim, Jesus coloca aquele, que aos olhos do povo e dos fariseus era visto como desprezado, o mendigo Lázaro, próximo a Abraão, ao passo que a riqueza e a tão desejada prosperidade, estão no inferno. Já observamos que no contexto gramatical da parábola, Cristo está dando uma resposta aos fariseus, que são descritos como avarentos e como pessoas que gostam de se trajar com pompa. Curiosamente, é desta forma que o rico é descrito. São fatores como este que me fazem crer que os mesmos fariseus que debochavam de Cristo, foram pegos pela história contada.

O céu não pode ser resumido a um lugar de compensação aos que sofreram nesta vida, embora a mensagem das Escrituras mostrem que os perseguidos por causa da justiça haverão de herdar o Reino de Deus e de Cristo, e que terão seus olhos enxugados de toda a lágrima (Is 35. 10; 60. 20; 65. 19; Ap 21. 4). Convém ressaltar que estas coisas somente serão possíveis pelo fato de que Deus será tudo em todos. em outras palavras, o paraíso, o céu, é a presença de Deus, coisa que a história omite.

Mais forte ainda é o pedido do rico que envie Lázaro aos seus familiares a fim de que o mesmo os advirta, para que aqueles não tenham o mesmo destino que o rico teve. E a resposta do pai Abraão (que diga-se de passagem, não viveu para conhecer Moisés, nem sua atividade como legislador), é que os parentes do rico têm Moisés e os profetas, se quiserem que os ouçam, e que em não ouvir a nenhum dos dois não ouvirão também que volte dos mortos.
  
IV) O que a parábola realmente diz
Falamos supra que nem a riqueza, nem a pobreza constituíam condições para que o homem fosse salvo, ou perdido, mas á luz do ensino do Evangelho de Cristo, a consciência, por parte do homem de sua pobreza espiritual e consequentemente de sua dependência de Deus são fatores condicionantes de acesso ao reino. Lázaro é a representação dos que dependem exclusivamente de Deus, ao passo que o rico representa o autossuficiente, que em razão de sua suficiência própria se exclui do Reino.

Diante do exposto, as riquezas da injustiça, sim toda riqueza, na verdade é injusta, e por este motivo, devem ser empregadas no alívio das dificuldades alheias. A doutrina que Cristo traz não é dele, mas tem sua fonte na própria lei e nos profetas (Dt 15. 11ss; Is 58). Os que agem em conformidade com tais preceitos são os verdadeiros filhos de Abraão (Lc 3. 8 - 11), e como tais legítimos herdeiros do Reino (Lc 13. 25 - 30). As nossas obras não nos salvam, mas evidenciam que a salvação chegou em nossa vida.

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

5 comentários:

  1. Olá, Marcelo.

    A Parábola do Rico e do Pobre nos revela que a avareza e falta de amor leva a pessoa ao inferno. O rico perdeu sua salvação porque tinha condições de ajudar o pobre, dando-lhe o que comer, vestir e moradia melhor, mas usou seus bens apenas para prazeres pessoais.

    É claro que ninguém é salvo por praticar boas obras, mas por já ser salvo pratica-as. A pessoa egoísta e avarenta demonstra sua condição de condenada, e é isso que a parábola ensina.

    Abraço.

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    Respostas
    1. Eliseu Antônio Gomes, creio que este mesmo é o sentido da parábola, e que em meio aos detalhes exegéticos, tentei transmitir. O problema é que tem gente que insiste em ver o mesmo como uma descrição exata da vida após morte. O que faz com que o sentido do texto (no caso do ensino de Cristo), se perca. Foi esta a minha preocupação.

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  2. Lindo! Que pérolas valiosas,eu ouvi e aprender a palavra de Deus,o melhor é ter pessoas como você Pr Marcelo que conpratilha conosco,Obrigada.Maria cicera Torres

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  3. Muito bem sucedido em localizar o leitor na História assim como mostrar a forma de entendimento dos Judeus da Época e como Jesus os respondeu conhecendo os seus corações , e ai que vem o grande Mistério , a mesma resposta do Mestre atravessa o tempo as teorias , os regimes Econômicos e nos responde também . Gostei muito quando você falou sobre uma das poucas vezes que Ele apresenta o Inferno , e faz o homem questionar um pouco sobre o que ha de suceder após a morte física .

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  4. Amei sua explicação. De conteúdo mega importante é muito sábia toda a explanação.

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