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sábado, 18 de janeiro de 2014

As pragas divinas e as propostas ardilosoas do Faraó

 
Na lição passada vimos que Deus capacitou Moisés com conhecimento, com experiências de vida e profundas provas de que seu chamado tinha no próprio Deus a razão de ser. Ao chamar o seu servo e profeta, Deus lhe avisou que o Faraó não deixaria o povo sair, e mais que usaria o endurecimento do mesmo para multiplicar os sinais e exaltar o seu nome sobre toda a terra. Veja o que Deus disse para Moisés:
Dou-lhe a minha autoridade perante o faraó, e seu irmão Arão será seu porta-voz. Você falará tudo o que eu lhe ordenar, e o seu irmão Arão dirá ao faraó que deixe os israelitas saírem do país. Eu, porém, farei o coração do faraó resistir; e, embora multiplique meus sinais e maravilhas no Egito, ele não os ouvirá. Então porei a minha mão sobre o Egito, e com poderosos atos de juízo tirarei do Egito os meus exércitos, o meu povo, os israelitas. E os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando eu estender a minha mão contra o Egito e tirar de lá os israelitas (Ex 7. 1 - 5 NVI). 
 O texto afirma que mesmo diante dos sinais Faraó se faria endurecido, mas que o Senhor aproveitaria tal endurecimento para mostrar o seu poder e seu nome diante de toda a terra. É com esta ótica que analisaremos a temática proposta pela lição da Escola Bíblica Dominical.
 
I) Os sinais e as maravilhas (o pano de fundo hermenêutico).
 
Quando Deus renovou a sua aliança com Abraão, ele já havia lhe revelado que a saída do povo do Egito se daria mediante a realização de grandes sinais, que para o povo que os escravizou seriam castigos (Gn 15. 14). É isto o que lemos quando vemos Deus falando com Moisés: Eu os livrarei do trabalho imposto pelos egípcios. Eu os libertarei da escravidão e os resgatarei com braço forte e com poderosos atos de juízo (Ex 6. 6 NVI). A expressão para juízo aqui é שְׁפָטִ֖ (shepet), e tem como sentido a manifestação de uma sentença de Deus sobre o povo.
Outra expressão chave neste contexto é o termo hebraico הָאֹ֣ת (hoth) e suas variantes o significado do mesmo é marco, um símbolo, e que na teologia bíblica são milagres que visam comprovar a mensagem de Deus para o seu povo. E neste caso o sinal serve tanto para despertar a fé do povo e conferir credibilidade o ministério de Moisés (Ex 4. 8, 9 NVI), quanto para a glorificação do nome do Senhor. Mas o sinal também serve de advertência (Nm 17. 10). Fato é que Deus realizou em pleno Egito sinais e maravilhas, contra o faraó e todos os seus conselheiros (Sl 135. 9 NVI), Ele mostrou os seus prodígios no Egito, as suas maravilhas na região de Zoã (Sl 78. 43 NVI).
Outro termo de suma importância é מֹופְתַ֖ (môpheth). Significa prodígio, sinal, milagre extraordinário. Elifaz afirma que Ele realiza maravilhas insondáveis, milagres que não se pode contar (Jó 5. 9 NVI). E com isto Jó concorda, visto que este também afirma:  Deus realiza maravilhas que não se podem perscrutar, milagres incontáveis (Jó 9. 10 NVI). Chamamos de insondável aquilo que não é possível sondar, a que não se pode achar o fundo: abismo insondável. No sentido figurado é tudo o que não se pode penetrar, compreender. O termo perscrutar aqui é o mesmo que indagar, investigar, averiguar minuciosamente, penetrar. Esta é a principal marca dos milagres de Deus. Daí o fato que sejam impenetráveis ao saber cientifico, pois caso o fossem já não seriam mais fatos extraordinários.
Deus fez tais sinais com o fim de que o seu nome fosse proclamado em toda a terra. Veja o que Deus diz ao Faraó, por meio de Moisés:
Porque eu já poderia ter estendido a mão, ferindo você e o seu povo com uma praga que teria eliminado você da terra. Mas eu o mantive de pé exatamente com este propósito: mostrar-lhe o meu poder e fazer que o meu nome seja proclamado em toda a terra (Ex 9. 15, 16 NVI). 
Em outras palavras, se Deus quisesse teria exterminado com Faraó de uma única vez. Mas como suas maravilhas são insondáveis e seus caminhos inescrutáveis, Ele fez da forma que está registrado, a fim de fazer o seu nome proclamado em toda a terra. A ideia é reforçada por meio deste texto aqui:
Diga aos israelitas que mudem o rumo e acampem perto de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar. Acampem à beira-mar, defronte de Baal-Zefom. O faraó pensará que os israelitas estão vagando confusos, cercados pelo deserto. Então endurecerei o coração do faraó, e ele os perseguirá. Todavia, eu serei glorificado por meio do faraó e de todo o seu exército; e os egípcios saberão que eu sou o Senhor (Ex 14. 2 - 4 NVI).
Deus se fez conhecido de forma irrefutável aos egípcios por meio dos sucessivos endurecimentos do Faraó, e das respostas que ele mesmo deu através dos sucessivos sinais que deu e milagres que realizou.  Mesmo diante dos atos de rebeldia do povo junto ao mar, diz o salmista, no Egito, os nossos antepassados não deram atenção às tuas maravilhas; não se lembraram das muitas manifestações do teu amor leal e rebelaram-se junto ao mar, o mar Vermelho. Contudo, ele os salvou por causa do seu nome, para manifestar o seu poder (Sl 106. 7, 8 NVI).  O que Deus tinha em vista era a sua glória. O que nos leva ao endurecimento do Faraó.  
 
II) O endurecimento do Faraó

No relato do chamado de Moisés Deus fala: Eu sei que o rei do Egito não os deixará sair, a não ser que uma poderosa mão o force. Por isso estenderei a minha mão e ferirei os egípcios com todas as maravilhas que realizarei no meio deles. Depois disso ele os deixará sair (Ex 3. 19, 20 NVI). Aqui a responsabilidade é colocada sobre o Faraó. Mas no mesmo contexto da chamada observamos Iahweh falando com seu servo nos seguintes termos:
Quando você voltar ao Egito, tenha o cuidado de fazer diante do faraó todas as maravilhas que concedi a você o poder de realizar. Mas eu vou endurecer o coração dele, para não deixar o povo ir. Depois diga ao faraó que assim diz o Senhor: Israel é o meu primeiro filho, e eu já lhe disse que deixe o meu filho ir para prestar-me culto. Mas você não quis deixá-lo ir; por isso matarei o seu primeiro filho! (Ex 4. 21 - 23 NVI). 
Aqui fica claro que além de endurecer o coração do soberano egípcio Deus levaria os fatos a um clímax tal que culminaria com a morte do primogênito do Faraó. Aqui fica estabelecido que existe uma interação entre a soberania divina e a responsabilidade humana, ainda que não saibamos como isto se dá.
A nota da Bíblia de Estudo Pentecostal afirma que Deus endureceu o coração do Faraó, como castigo porque seu coração já estava duro (nota de estudo de Ex 7. 3). Sendo que a despeito dos texto citados pelo comentarista da nota, não temos uma comprovação bíblica direta de que tal tenha se dado desta forma.
Um comentário muito interessante é o feito Finis Dake. A despeito de toda má fama que esta Bíblia de Estudo possua, dadas as ideias de seu comentarista, o fato inconteste é que ao meu ver ele é mais honesto, veja o que ele diz:
Deus deu a Faraó a oportunidade de resisti-lo, e endureceu o seu coração (Ex 4. 21; 9. 12; 10. 1, 20, 27; 11. 10; 14. 8; Rm 9. 16) da mesma forma que o Evangelho salva, ou condena, abranda, ou endurece, e vivifica ou mata os que o ouvem hoje. Qualquer castigo, ou calamidade que não despedace a natureza humana e subjuga a vida só a endurece. Como o sol que endurece o barro e amolece a cera, assim acontece com a verdade. O resultado não está no sol (em Deus), mas nas matérias.
Não fosse tal conclusão eu daria o argumento de Dake como perfeito. Mas ele deixa mesmo assim escapar que há uma articulação entre o sol e a matéria, tal como ocorre entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana. Deste modo, fico com o argumento de MacArthur, para quem a interação entre a responsabilidade humana e a soberania de Deus precisam ser mantidas.
Sendo assim em dez ocasiões é afirmado que Deus endureceu o coração de Faraó (Ex 4. 21; 7. 3; 9. 12; 10. 1, 20, 27; 11. 10; 14. 4, 8, 17), e outras dez vezes encontramos o coração de Faraó se endurecendo (Ex 7. 13, 14, 22; 8. 15, 19, 32; 9. 7, 34, 35; 13. 15). Este equilíbrio tem de ser mantido, é o fato é que conforme Paulo disse aos Romanos, Deus tem misericórdia de quem ele quer, e endurece a quem ele quer (Rm 9. 18 NVI). Ao que parece o Faraó não foi o único caso. Veja o que foi dito a respeito de um rei gentio: Seom, rei de Hesbom, não quis deixar-nos passar; pois o Senhor, o Deus de vocês, tornou-lhe obstinado o espírito e endureceu-lhe o coração, para entregá-lo nas mãos de vocês, como hoje se vê (Dt 2. 30 NVI). É neste contexto que precisamos ler as propostas de Faraó.

III) As pragas divinas e as propostas do Faraó

Durante as primeiras pragas os magos egípcios conseguem imitar os sinais de Moisés (Ex 7. 22; 8. 7), e na medida em que se avança na leitura, percebe-se que tais sinais servem de pretexto para que o soberano egípcio se endureça ainda mais, mas na praga dos piolhos, a terceira, os próprios magos reconhecem se tratar do dedo de Deus, e a despeito do reconhecimento da corte religiosa, o coração do Faraó se endurece, como o Senhor já havia dito para Moisés (Ex 8. 18, 19).
a praga das moscas produz alguma negociação entre o Faraó e Moisés. Primeiro ele propõe que o povo ofereça sacrifícios e cultos a Deus no próprio Egito, ao que Moisés responde: Isso não seria sensato, respondeu Moisés; os sacrifícios que oferecemos ao nosso Deus são um sacrilégio para os egípcios. Se oferecermos sacrifícios que lhes pareçam sacrilégio, isso não os levará a nos apedrejar? (Ex 8. 26 NVI).
A segunda proposta do Faraó é que o povo não vá muito longe, e que Moisés ore pelo Faraó para que as moscas saiam (Ex 8. 28 - 31). Mas uma vez aliviado, o soberano não permite ao povo sair, e endurece o coração. O que faz com que advenham as seguintes pragas: peste nos animais (quinta), úlceras (sexta), chuva de pedras (sétima), seguidas de sucessivos endurecimentos, o que nos remete ao texto no qual Deus afirma que tais endurecimentos servem ao seu proposito de multiplicar os sinais e fazer seu nome conhecido em toda a terra.
Na oitava praga o Faraó propõe que apenas os homens saiam (Ex 10. 7, 8). Ao que Moisés responde: Temos que levar todos: os jovens e os velhos, os nossos filhos e as nossas filhas, as nossas ovelhas e os nossos bois, pois celebraremos uma festa ao Senhor (Ex 10. 9 NVI). Mas o governante da terra de Cam não permite, o que redunda na oitava praga, a dos gafanhotos. Diante de tal assolação o Faraó faz mais uma proposta, a saber: que o povo deixe o seu rebanho (Ex 10. 24), ao que Moisés e Arão respondem: os nossos rebanhos também irão conosco; nem um casco de animal será deixado. Temos que escolher alguns deles para prestar culto ao Senhor nosso Deus e, enquanto não chegarmos ao local, não saberemos quais animais sacrificaremos (Ex 10. 26 NVI).
Se você estiver lendo este estudo e acompanhado o seu respectivo contexto terá prestado atenção ao fato de que cada proposta acompanha um ato de endurecimento do coração, que por sua vez serve ao proposito maior de Deus em multiplicar os sinais na terra do Egito, para com isto fazer o seu nome conhecido, conforme visto ao longo do presente estudo. Até que vieram as pragas das trevas e da morte dos primogênitos. A lição que gostaria de ressaltar aqui é que se Moisés, a apesar de todos os sinais que Deus lhe deu encontrou oposição de Janes e Jambres, nós também encontraremos, e junto da oposição deliberada e do endurecimento dos mesmos vem a rebeldia do povo (II Tm 3. 8 - 4. 5), mas devemos permanecer na Palavra de Deus, tal como Moisés.

Em Cristo, Pr Marcelo Medeiros

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