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quarta-feira, 25 de junho de 2014

O ministério de Presbítero, Bispo e Ancião



A Igreja do Senhor começou com a liderança dos doze apóstolos nomeados diretamente por Cristo (At 1. 14 - 22). Mas em pouco tempo sentiu a necessidade de eleger ministros encarregados da distribuição diária dos bens que eram depositados aos pés dos apóstolos com vistas à repartição e o bem comum.
Avançado na leitura dos Atos dos Apóstolos, é possível a percepção de que tempos após a eleição dos diáconos, foi igualmente necessária a eleição dos presbíteros. E, havendo-lhes, por comum consentimento, eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido (At 14. 23 ACF).
Ao contrário de algumas hipóteses teológicas modernas, o relato de Lucas demonstra que bem cedo ocorreu a eleição de presbíteros na Igreja primitiva. No contexto supra, a eleição dos mesmos se dá em clima de forte perseguição dos judeus contra a fé cristã, e em meio ao trabalho de exortação apostólica à perseverança na fé, daí a necessidade estudo a respeito do ministério do presbítero.

I) O QUE É UM PRESBÍTERO

O termo grego πρεσβυτερους (presbyteroys) é usualmente empregado para indicar:
  1. Os membros do sinédrio judeu. Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos (πρεσβυτερων), e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia (Mt 16. 21 ACF). Ver também (At 4.5, 8, 23).
  2. Os anciãos de uma determinada cidade. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos [πρεσβυτερους] dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo (Lc 7. 3 ACF).
  3. Os vinte e quatro anciãos de Apocalipse.
  4. Os anciãos nomeados pelas Igrejas com vistas ao governo da mesma e à administração da Palavra de Deus (I Tm 5. 17, 18). O que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos [πρεσβυτερους] por mão de Barnabé e de Saulo (At 11. 30 ACF).
No primeiro caso, o presbítero é um membro do sinédrio que tinha, dentre outras funções, o poder de deliberação a respeito a respeito de determinados assuntos. Jesus foi julgado por um presbitério, de natureza política e religiosa, como no caso de Israel.
O segundo caso provavelmente trate de um ancião que fazia parte do conselho deliberativo de uma aldeia judia, e que foi nomeado pelo centurião romano a fim de interceder a Cristo, pela cura do servo da autoridade. No último caso membros da Igreja que são dotados de experiência, e como tais ajudam nas deliberações eclesiásticas.
Mas o sentido geral do termo é o de ancião, que independente da esfera em que atua é chamado para dar a sua contribuição para o meio, seja religioso, secular, politico. A visão que as sociedades de cultura oral tinham em relação ao ancião, era outra, para não dizer que antagônica em relação à atual. Naqueles tempo o velho era visto não como obsoleto, mas como um tesouro de conhecimento e de sabedoria. Em ambiente cristão é recomendado que se dê ao ancião um tratamento respeitoso. NÃO repreendas asperamente o ancião, mas admoesta-o como a pai; aos moços como a irmãos; as mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza (I Tm 5. 1, 2 ACF). O termo ancião aqui é πρεσβυτερω (presbyteroo) e não creio que neste caso Paulo esteja falando de obreiros. As mulheres idosas são referidas no texto original como πρεσβυτερας (presbyteras).
Pedro, de igual modo recomendou tratamento respeitoso aos anciãos, embora não creia que neste caso sejam presbíteros. Para todos os efeitos, o apostolo pede: Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos (I Pe 5. 5 ACF). Neste caso a sujeição é um exercício de humildade, que também tem de ser exercida pelos mais velhos, pois Deus resiste ao soberbo.
É mais do certo que as coisas evoluem, mas o pior tipo de arrogância é aquela que toma o sujeito de uma forma tal que o impede de ouvir a opinião de terceiros, de modo que ele veja exclusivamente a si mesmo como certo. Jovens dotados de informação são os mais tentados a este tipo de situação, principalmente os que são nativos digitais. Mas o conselho da Palavra é humildade, e só.

II) E O BISPO?

Bispo é um termo caro em nosso país, e isto, se dá pelo fato inconteste de que a nossa cultura é moldada pela matriz cultural católica. Daí a compreensão dicionarizada de que o bispo seja um prelado que tem a seu cargo a direção de uma diocese. Mas no sentido bíblico o termo επισκοπον (episkppon) denota alguém que exerce a função de supervisão, embora haja acordo em afirmar que επισκοπονπρεσβυτερους sejam sinônimos. O texto que narra a espedida de Paulo de Éfeso é claro a este respeito. 
Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue (At 20. 28 ACF). Este texto expõe com clareza a ideia que Paulo tinha dos Bispos. Estes são pastores que o Espírito Santo constituiu sobre o rebanho com a finalidade de apascentar o mesmo. Este vigiar inclui a supervisão sobre o rebanho, a fim de que o mesmo não venha a ser enredado por falsos mestres. 
Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós (At 20. 29 - 31 ACF). 
Uma leitura atenta da carta de Paulo à Timóteo, revela que a principal preocupação de Paulo é com o falso ensino, cujas raízes podem ser encontradas na especulação humana, no desvio da fé, na cauterização da mente de alguns, na perda da pureza cristã (II Tm 1. 4 - 6), na ação dos demônios (I Tm 4. 1 - 5), na vaidade e na arrogância (nem sempre intelectuais), e na falsa percepção de que a piedade possa ser fonte de lucro (I Tm 6. 3 - 10). 
O papel do bispo não consiste em ser um artista, alguém que está ali para ser ovacionado pela multidão, mas sim em ser um guardião contra os lobos que possam vir a devorar o rebanho. E neste mister, não são poucos os que além de falharem em sua missão ainda expõem o rebanho a ação dos falsos mestres ao permitirem que estes tenham acesso aos púlpitos (aqui, e aqui). Resultado, nossos púlpitos, estão se transformando em picadeiros. 
Bispo é um pastor que recebeu do Espírito Santo a incumbência de zelar pelo rebanho de Deus. Temo que a influência católica tenha feito grande estrago no que tange a simples compreensão bíblica do encargo de bispo. O reverendo Augustus Nicodemus Lopes escreveu um artigo intitulado a alma católica dos evangélicos no Brasil, em que ele fala da distorção brasileira em torno de cargos. 
Na Igreja Católica, o sistema papal impõe a autoridade de um único homem sobre todo o povo. A distinção entre clérigos (padres, bispos, cardeais e o papa) e leigos (o povo comum) coloca os sacerdotes católicos em um nível acima das pessoas normais, como se fossem revestidos de uma autoridade, um carisma, uma espiritualidade inacessível, que provoca a admiração e o espanto da gente comum, infundindo respeito e veneração. Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos auto-nomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira. A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções (aqui).
Se houver séria intenção de resgatar o conceito reformado de sacerdócio universal dos crentes creio que necessário se faz atentar paras as observações supra.  Em Cristo. 

Pr Marcelo Medeiros. 

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