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sexta-feira, 6 de junho de 2014

O ministério de Mestre


Dentre as diversas habilidades que Deus, mediante Cristo deu à Igreja, com vistas ao serviço, encontra-se o dom, carisma, graça, de mestre. Creio que o mesmo seja de suma importância, tanto para o crescimento da Igreja, quanto para o desenvolvimento e a maturidade dos discípulos na fé. Uma Igreja sem mestres é um ajuntamento de pessoas sem filosofia ministerial, sem uma linha teológica claramente definida, e por estes mesmos motivos, sujeita a todo vento de doutrina, e sem perspectivas de um crescimento saudável.
Faço tais considerações por entender que o serviço do ensino não se restringe aos professores de Escola Bíblica Dominical, mas abrange todos os que sejam motivados pela clara ordem de Cristo de ir e fazer discípulos de todas as nações. Tendo tais premissas como base deste estudo, convido o leitor para mais esta reflexão.

I) ENSINAR, O QUE É ISTO

Uma das definições que o Dicionário Michaelis oferece é oferecer condições para que alguém aprenda. Esta definição coaduna com o conceito atual de educação onde educar não se limita a mera transmissão de conteúdos, mas vai além. O caso do ensino cristão é diferente, uma vez que junto dos métodos e conceitos atuais em educação, é necessário que o mestre cristão conte com o poder de Deus, a fim de que o entendimento do educando se abra para a matéria ensinada.
Creio que era isto que Paulo tinha em mente quando afirmou: ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que Deus, antes dos séculos, de antemão destinou para a nossa glória (I Co 2. 7 Bíblia de Jerusalém). Note que contexto contrapõe esta sabedoria à sabedoria deste século, ou sabedoria carnal, indicando com isto, uma outra categoria de saber. E o termo misteriosa e oculta, indica que o acesso à mesma se dá por revelação.
O mestre cristão ensina e fala das coisas de Deus sem com isto empregar categorias carnais, mas usando termos que são ensinados pelo próprio Espirito de Deus (I Co 2. 13). Se alguém pensa que ao apelar para uma linguagem similar a que é empregada pelo homem mundano irá obter sucesso na pregação do Evangelho, esqueça isto. O homem psíquico não aceita o que vem do Espirito de Deus. É loucura para ele, não pode compreender, pois isto deve ser julgado espiritualmente (I Co 2. 14 Bíblia de Jerusalém).
Creio que a fé possa ser defendida em termos racionais, mas não creio que o homem pela pura e simples razão possa entender a atender ao chamado do Espírito puramente mediante argumentos racionais. Afinal, o filósofo Blaise Pascal, bem disse que o coração tem as suas razoes, que a razão desconhece, ele bem sabia que argumentos racionais não convertiam a ninguém e que não era a razão que os impedia de vir à fé, mas suas paixões.
Uma outra questão é o fato inconteste de que o ensino cristão tem como principal objetivo conduzir as pessoas à obediência ao que Cristo ensinou (Mt 28. 19, 20). Uma coisa é ensinar o que Cristo ensinou e mandou ensinar, e outra bem diferente é ensinar as pessoas a obedecerem os mandamentos de Cristo, em outras palavras o proposito do ensino cristão não se esgota na transmissão dos conteúdos mas avança para vivência prática.
Mediante o ensino da genuína palavra de Deus, o Espírito Santo atua na vida do ouvinte e do que ensina, operando purificação e santificação, a fim de que ambos possam vivenciar, praticar aquilo que Cristo ensinou em sua santa palavra. A revelação é a matéria do ensino cristão (II Tm 3. 16, 17; 4. 1, 2), e o proposito divino em dar a mesma para Israel e sucessivamente para a Igreja foi a de que o seu povo a colocasse em prática (Sl 119. 4, 100; Mt 28. 19, 20), isto é o ensino cristão na prática.
 
II) ENSINO, UMA ORDENANÇA PARA TODOS
 
O ensino das Escrituras Sagradas é uma ordem dada a todos os crentes, e pretendo provar isto neste estudo lançando mãos de apenas dois textos do Novo Testamento. Reconheço que no Antigo Testamento, aparecem ordens para que os pais instruam seus filhos (Dt 6. 5 - 8), e que o Novo Testamento reforça tal apelo (Ef 6. 4, 5); que Deus instituiu o modelo sacerdotal de ensino (Ml 2. 7, 8), mas por ora irei centrar minhas forças no contexto do Novo Testamento e da ordem de Cristo aos seus discípulos. O texto conforme traduzido pela versão Almeida Corrigida e Fiel nos satisfaz.
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém
(Mt 28. 19, 20 ACF). 
A expressão fazei discípulos é (na humilda opinião deste escritor) a tradução mais exata do verbo grego μαθητευω (matheteoo), e que no texto aparece na seguinte forma: μαθητευσατε (matheteisaste), cuja tradução mais adequada é realmente fazer discípulos. O mais curioso é que o discipulado precede o batismo, que por sua vez é precedido pelo reforço no ensino, visando a obediência por parte do discípulo.
O discipulado equivale ao ministério do ensino, uma vez que Cristo ordena: Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado. Aqui é possível observar a ocorrência do verbo grego διδασκω (didaskoo), cuja forma aqui é διδασκοντες (didaskontes), o que reforça a ideia esboçada acima de que a essência do discipulado é o ensino. Mas todo ensino demanda conteúdo, e aqui cabe a pergunta: qual é o conteúdo do discipulado? A resposta para esta questão é bem simples, o que Cristo ensinou e que ficou registrado pelas testemunhas dos seus ensinos.
Não basta ensinar o que Cristo mandou, é necessário que se ensine a guardar o que Cristo mandou, ou seja os mandamentos de Cristo. Em primeiro lugar, quero observar aqui que a expressão guardar, do grego τηρησις (teresis), neste contexto, tem a ver com a observância de mandamentos, sendo que a mesma palavra é aplicada à custodia de prisioneiros.
No antigo Testamento O Pai teve o cuidado de ensinar aos judeus a fazerem orlas em suas vestes, e que estas servissem de memorial ao seu povo a fim de que os mesmos se lembrassem de cumprir com todas as ordenanças que haviam recebido de Iahweh. Na nova aliança, Deus tem dado o seu Espírito para que o seu povo se lembre do que Cristo ensinou (Jo 14. 26). Aqui é preciso que se observe que Cristo foi didático em seu ensino, a fim de que quando seus discípulos se vissem desafiados pela vida não se surpreendessem (Jo 16. 1 - 4), mas que confiassem no outro consolador prometido por ele (Jo 16. 5 - 10).
Minha ultima observação em complementação primeira é a de que os mandamentos que Cristo deu aos seus discípulos é que devem ser guardados. Nada mais. E o mandamento de Cristo é simples, afinal, ele mesmo diz: O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei (Jo 15. 12 ACF). Lucas acrescenta que Cristo deu mandamentos pelo Espírito Santo aos seus discípulos (At 1. 1, 2), e embora não tenha detalhes destes mandamentos, creio firmemente que os mesmos possam ser rastreados mediante o ensino dos seus apóstolos. No próximo tópico analiso o segundo texto, conforme prometido acima.
 
III) ENSINO NA IGREJA PRIMITIVA
 
Ao ler atentamente o livro de Atos dos Apóstolos, fica evidente que os discípulos levaram à sério a ordem de Jesus no tocante ao ensino e discipulado. Um fator que salta aos olhos do leitor atento é que vida regra, os crentes eram chamados de discípulos, e J. M. Price, aponta que por aproximadamente cinquenta e duas vezes isto ocorre, indicando que a prática da Igreja primitiva era profundamente compromissada com o ensino.
Não foi somente uma prática primitiva, mas apostólica. Neste post falo com maiores detalhes a respeito da metodologia empregada pelos mesmos na consecução dos objetivos traçados pelo mestre. Cito o referido post a fim de reforçar o discipulado enquanto prática primitiva. Lucas registra que os apóstolos ensinavam todos os dias no templo e nas casas, e conciliavam o ensino com o anúncio da boa nova (evangelização). Talvez você coloque a seguinte questão: sim, mas eram os apóstolos, ao que respondo: não! Paulo ordenou o ensino comunitário, aquele que pode ser exercido por todos.
A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração (Cl 3. 16 ACF).
Perceba que é a Palavra de Cristo, que tem de habitar em nós, e este habitar deve ser abundante, do grego πλουσιως (ploysioos), indica algo que se possui com abundância. É necessário que se observe que ninguém se torna um verdadeiro discipulador sem que a Palavra esteja em abundância sobre a vida do mesmo.
Esta palavra além de ser abundante tem de estar permeada com toda a sabedoria, que no contexto bíblico não se limita ao acumulo de saberes, mas demanda uma vida prática (Tg 3. 13 - 17). É esta sabedoria que proporciona o aconselhamento mútuo, tão apreciado por Paulo neste texto. Aqui não se trata de experiência, mas da junção equilibrada entre a palavra de Cristo, que é a sabedoria de Deus para o seu povo (I Co 1. 30, 31), e a sabedoria que vem do alto (Tg 1. 5). 
Talvez as colocações feitas acima tenham colocado o leitor do presente diante do seguinte dilema: não sinto que tenha sido chamado para o ministério do ensino, como posso exercer o chamado de Jesus para o discipulado conforma as condições previamente estabelecidas pela Bíblia? Minha resposta é bem simples. Paulo pede aos crentes que se encham da palavra, este é o primeiro passo.
O segundo é o entendimento de que as nossas canções devem estar permeadas. Daí a necessidade de músicos, cantores, compositores e ministros de música que sejam leitores da Bíblia e que conscientemente usem a sua arte como veículo da Palavra de Deus, a fim de que o povo seja saturado com a mesma.
Talvez o leitor não tenha a didática para o ensino formal, mas e daí? Pedro recomenda: Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; [...] para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém (I pe 4. 11 ACF). O conteúdo das conversas dos cristãos tem de ser guiado pelas Escrituras. E falar as palavras de Deus é o resultado de um coração saturado conteúdo bíblico.

IV) O MINISTÉRIO DE MESTRE

O dom de mestre é relatado em quase todas as litas de dons espirituais da Bíblia (Rm 12. 7; I Co 12. 28; Ef 4. 11), e creio que tal seja indicador inconteste da importância do dom, que pode se manifestar por meio da palavra da sabedoria, e da palavra do conhecimento (I Co 12. 8), bem como do aconselhamento (Cl 3. 16).
O papel do ministro que foi chamado por Cristo para exercer o ministério de mestre é o de preparar outros crentes para o exercício do discipulado, bem como filtrar os conteúdos que são ensinados na Igreja, com vistas a preservação da mesma de quaisquer ventos doutrinários. É um ministério de suma importância, se sujeito ao modelo deixado por Cristo.

Em Cristo, Marcelo Medeiros

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