Pesquisar este blog

sábado, 15 de agosto de 2015

Eu Sei em Quem Tenho Crido



O Paulo que escreveu a segunda carta a Timóteo é bem diferente do que escreveu a maioria das cartas e das demais pastorais. Na primeira, ele tinha a firme expectativa de que retornaria ao convívio dos amados irmãos. Nesta, apenas a certeza da partida, ao ponto de dizer: eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo (II Tm 4. 6 ACF). Daí as seguintes recomendações ao seu filho na fé:
Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti. Por cujo motivo te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos (II Tm 1. 5, 6 ACF)
Antes de evocar a lembrança do dom que fora concedido à Timóteo, Paulo lhe pede que se lembre do legado de sua fé. Este é uma herança do exemplo de sua mãe e de sua avó. Todavia, o apóstolo lhe lembra: Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus (II Tm 1. 3 ACF). Sem o conteúdo doutrinário, não há como perseverar na fé. 

Tanto as paixões da mocidade quanto a corrupção do coração são impecilhos para o exercício de uma fé pura e genuína [aqui]. Daí a recomendação de Paulo para Timóteo: Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor (II Tm 2. 22 ACF). 

Os dias finais são marcados pelo surgimento de homens que resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé (II Tm 3. 8 ACF). Face à apostasia final, exemplo de fé se fazem necessários. Daí que o próprio apóstolo se coloque como um ao dizer: Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência (II Tm 3. 14 ACF). 
Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação. Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus (II Tm 1. 7, 8 ACF). 
Em contraposição ao dom de Deus Paulo coloca a timidez do jovem evangelista. A expressão para temor aqui é δειλιας (deilias), cujo significado é o mesmo de tímido. Tanto que para se referir à timidez dos discípulos, Marcos emprega δειλοι (deiloi) para a timidez dos discípulos. Não se trata aqui de um acanhamento decorrente de temperamento, apenas. 

Tanto em Mc 4. 40, quanto em Ap 21. 8, δειλοις é associado com a aatitude incrédula (απιστοις [apistois]). O que torna ainda mais plausível a constante lembrança que Paulo faz a respeito da  fé de Timóteo, cujo eco se pode ver na fé de sua mãe Lóide e de sua Avó Eunice, e cujo exemplo do apóstolo ele está sendo chamado a imitar. 

Após tal exortação, o jovem pastor é convocado a não se envergonhar nem do Evangelho, nem de Paulo e a participar, pelo poder de Deus das aflições decorrente do mesmo. O que é plenamente possível, visto que Deus concedeu a ambos Espírito de Fortaleza, Amor e Moderação. A respeito deste mesmo Deus é dito que:
Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos; E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho; Para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios (II Tm 1. 9 - 11 ACF). 

  1. Sim, Deus nos salvou. Ele, e somente Ele, é o autor da nossa salvação. 
  2. O mesmo Deus que salva é um Deus que chama à comunhão de seu Filho (I Co 1. 8, 9), para a paz (Cl 3. 15), e para a sua eterna glória (I Pe 5. 10 ACF). 
  3. Este chamado não se dá em razão de um conhecimento prévio da parte de Deus de nossas obras (Ef 2. 8, 9), visto que estas para Deus são trapo de imundícia (Is 64. 6), mas em razão de sua determinação, ou desígnio (προθεσιν [prothesin]). 
  4. Além da προθεσιν a graça (χαριν[charin]) é fator determinante no chamamento. 
  5. Esta mesma graça está em ação deste os tempos eternos, mas veio à luz mediante a manifestação de Cristo em carne (Jo 1. 14 - 18). 
  6. As expectativas escatológicas dos judeus, bem como a vida após morte eram confusas. Foi com Cristo que a imortalidade, dantes atributo exclusivo de Deus (I Tm 6. 16), veio à luz e foi amplamente compartilhada com os homens. 
  7. Tais dons demandam um posicionamento por parte de Timóteo. 
Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia. Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós (II Tm 1. 12 - 14 ACF). 
Os sofrimentos do Apóstolo são decorrentes do Evangelho. Deus mesmo disse para Ananias quando lhe falou a respeito do então Saulo de Tarso: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome (At 9. 15, 16 ACF).  
Por isso sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa. Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna. Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo (II Tm 2. 9 - 13 ACF). 

  1. Paulo sofre, mas sabe que a Palavra de Deus, da qual é apenas um arauto, um porta voz não pode ser presa por homem algum. 
  2. Seu sofrimento se dá por amor aos escolhidos. Sofrer pelo nome de Cristo é sofrer pelos que Cristo escolheu, ou pelas suas ovelhas.  
  3. Sofrer pelo Evangelho é participar dos sofrimentos de Cristo, aos que assim procedem, lhes está reservada a mesma glória que Cristo tem junto ao Pai.
Além do mais, Deus é poderoso para preservar o bom depósito, do contrário como poderia um jovem pastor guardar o bom depósito? Que a benção do Senhor esteja sobre nós, e que possamos guardar o bom depósito que nos foi confiado. 

Marcelo Medeiros, em Cristo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço o seu comentário!
Ele será moderado e postado assim que recebermos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.