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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A Filosofia do Maluco Beleza (diagnóstico do real)




Aproveitando a onda de loucura que tem tomado conta da juventude evangélica, resolvi escrever este post cuja pretensão é fazer uma breve reflexão a respeito do termo "loucura". Falo do movimento evangélico loucos por Cristo, que advoga que a vida cristã seja ser extravagante em suas manifestações de adesão ao Evangelho. 

A despeito da adesão, percebo que os que abraçam o movimento pouco sabem a respeito de ser "louco" no sentido pleno da palavra. Na verdade são apenas uma variação do "mesmo". Mas por que maluco beleza, uma música não cristã? Uso os símbolos culturais na tentativa de conduzir uma geração que não mais acredita na Bíblia a uma séria decisão. 

Enquanto você se esforça pra ser

Desde os antigos filósofos gregos se tem a percepção de que o homem não é. Ele é mutável. A modernidade não ajudou em muito coisa. Ao romper com a tradição bíblica os humanistas facilmente caíram na linha do desespero e passaram a ver o homem exclusivamente a partir de seu aspecto negativo. 

Fico com Vieira, o padre. Para ele o homem se define a partir de sua essência, que é o pó. Pó que escreve, que filosofa, que fala, discursa, compõe, se rebela, e acima de tudo, que se agita ao sopro do vento, e cai ao cessar este mesmo vento. Tudo o que o homem busca ser, dentro, ou fora da normalidade, não faz com que ele deixe de ser exatamente aquilo que ele é, vaidade. 

um sujeito normal, e fazer tudo igual

A normalidade a partir da qual cada um se define é subjetiva. Isto, porque a normalidade está ligada ao andar de acordo com as regras, e dentro de uma regularidade. Daí, que para o "normal" não exista espaço para a criatividade, para a ousadia. Ser normal no sentido pleno da palavra é viver como no filme A Vida em Preto e Branco. 

eu do meu lado aprendendo a ser louco

Sócrates foi alvo severas críticas em uma peça teatral intitulada As nuvens, onde o pensador foi comparado a uma mosca (tema recorrente na filosofia Coelheana). Fazer perguntas é expor a ignorância dos que arrogavam para si algum tipo de saber foi a sua maior loucura (esta loucura me interessa). O mesmo pode ser dito de Platão e Aristóteles. 

Os parentes de Jesus tentaram prender o mesmo como louco (Mc 3. 21). Os judeus disseram que ele tinha demônio. Tudo o que ele fez foi ousar ser, exceder as regras e convenções da época, receber adoração de pecadoras, falar com um mulher de reputação duvidosa em local público, assumir sua divindade em uma sociedade monoteísta. De boa, me amarro de montão neste "louco". 

A verdadeira Loucura é a que liberta a criatividade humana, que advém da coragem de ser um "indivíduo", e de ser desprezível por não se enquadrar dentro das normas vigentes, tal como Sócrates e Jesus foram. Uma loucura que não liberta tais dimensões é perniciosa e nociva, puro modismo. 

um maluco total, na loucura real

Ser um maluco total interessou e muito a Seixas. Creio que a razão de ser de tamanho interesse decorreu do fato deste ser um homem fora de seu tempo. Na verdade este é o ônus de quem pretenda ser "louco" no sentido, ou acepção positiva da palavra, a solidão. A esta pode-se associar um senso inadequação. É deste misto de sentimentos que nasce o engajamento artístico, intelectual de criar um mundo à sua semelhança. 

No aspecto evangélico da Palavra "loucura" pode-se somar mais uma moeda às descritas acima. Crentes evangélicos nunca criarão uma sociedade nos padrões religiosos e, ou nos padrões cristãos. A influência cristã sempre se dará a partir da ação dos mesmos sobre indivíduos, nunca sobre a massa. Daí a minha abominação cada vez maior aos métodos que prometendo revolução nada mais fazem do que encarcerar as pessoas em padrões, mesmo aqueles padrões subversivos. 

controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez

Ser "louco" no sentido positivo da palavra consiste em sabiamente identificar os paradigmas que precisam ser quebrados, e engendrar esforços na quebra dos mesmos. Para isto é necessário que haja "lucidez", a mesma que houve em Sócrates, por exemplo. Se por um lado ele foi louco em averiguar se os sábios de Atenas realmente sabiam de algo, ele foi lúcido por não ter acreditado prematuramente que era o mais sábio dos homens

O problema de ser alguém que simplesmente quebra as regras piora quando se convence de que se é especial apenas por fazer isto. Não é exclusividade de jovem algum o desejo de quebrar "regras" e "convenções". A diferença é saber o que tem de ser quebrado do quem necessariamente tem de ser mantido, preservado (coisas como respeito, amor, reverência, e uma infinidade de valores que esquecidos jogariam a comunidade no caos). 

Pode ser bonito ver jovens em um festival de rock revindicando um modo alternativo de vida. É mais bonito ainda ser um artista, ou atleta que serve de incentivo para tais jovens. Mas ver jovens apelando à barbárie, esgotando suas capacidades em raves, violentando e sendo violentados não é nada bonito, nem vanguardista, é retrôo. 

A frase final da canção vou ficar, ficar com certeza maluco beleza, diz exatamente que a loucura criativa defendida pelos compositores é a loucura da qual advém a mais pura beleza. Foi este tipo de loucura que tomou conta de artistas, poetas, pintores, e mesmo de alguns dos mais comuns homens. Sim um pai que ame seu filho louca e perdidamente, ao ponto de dedicar sua vida para que este seja um homem de bem é um "louco" e dos bons.

Para isto há que ter algum padrão, ou valor que não a loucura em si. Parte do problema que se tem hoje é justamente a ausência de lucidez, as pessoas querem algo que preencha suas vidas de significados de experiências, desde que o conteúdo não seja demasiado complicado. N visão de Zuenir Ventura, os movimentos revolucionários da décade de sessenta do século passado foram carentes de séria reflexão.

Na visão de Bourdieu eles terminaram por reproduzir a mesma sociedade que eles diziam combater. Enquanto estava na faculdade e entrei em contato com tais teorias me senti seriamente atordoado pela lembrança da canção de Belchior Como nossos pais. Comprando a ilusão de que somos revolucionários (pelo simples fato de que contrariamos as instituições), podemos ser exatamente como as gerações passadas.

Render-se ao fatalismo reprodutivista? De forma alguma! Mas a superação do mesmo demanda que se alie duas categorias que insistem em seprar: a loucura da fé e da pregação com a lucidez da Teologia. Infelizmente os loucos da atualidade tem rejeitado paulatinamente esta última. Aqui desejo resgatar a máxima de Stott, para quem crer é também pensar. 

Como cristão que sou vejo apenas uma saída a loucura do Evangelho de Cristo, e somente esta pode dar ao homem a sua originalidade, e essência da qual este se faz tão sedento. Não é um caminho fácil de seguir como o de Raul, visto que o lugar para onde este conduz tem como acesso uma porta bem estreita. Mas fica a dica aos jovens e líderes destes. 

Forte Abraço, Marcelo Medeiros

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