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sábado, 13 de junho de 2020

Um protesto tipicamente protestante



Há alguns anos atrás comecei a acompanhar pela TV o programa do Pastor Antônio Carlos Costa. Neste o referido ministro presbiteriano fazia constantes exposições de textos bíblicos, começando com a Carta aos Romanos, seguindo pela confissão de Fé de Westminster, ao Evangelho de Marcos. A imagem que ficou foi a de expositor bíblico e defensor da fé protestante. 

Descobri posteriormente que este é doutor em Teologia Sistemática com especialização em Martin Lloydd - Jones. Em Antônio Carlos Costa a ortodoxia fez seu encontro com a ortopraxia, em outras palavras pensamento correto e prática correta se encontram. Simples assim. A ONG rio de paz é um marco na aplicação de ministérios de misericórdia (termo empregado por Tim Keller, um dos mais atuais e influentes nomes da proposta). Tanto que um dos seus livros é o Convulsão Protestante, que narra a Teologia e prática cristãs se expressando em ações sociais. 

Este pastor fez protestos (ver aqui) contra o alto índice de policiais mortos no Rio de Janeiro em 2018. Anterior a este ocorreu um em 2014 (ver aqui). Outras ações poderiam se alistadas aqui para apontar que na luta pela justiça não há lado, que não o da justiça, cuja realização se torna inviável sem o elemento da paz. Esta explicação seria inteiramente desnecessária não fosse a amnésia histórica da qual nosso povo tem sofrido. É neste ambiente que se fortalece cada vez mais o cultivo de guerra cultural. 

O momento atual lembra muito bem a narrativa de George Orwell (1984), onde a população estava em contante guerra, ora com a Eurásia, ora com a Lestásia. O inimigo era criação do governo para manter o povo em constante distração, para manter e justificar o Culto ao Grande Irmão. O ambiente atual do Brasil é similar. 

Foi criado um inimigo: o Comunismo. Um conceito que foi simplificado, e à semelhança do que faz o ministério da Verdade no romance de George Orwell, a palavra foi simplificada a amplificada ao mesmo tempo. Com isto a sociedade comunista deixa de ser uma sociedade sem classes, uma síntese da sociedade industrial com as comunidades tribais para ser toda e qualquer forma de opinião contrária à proposta do neoliberalismo agressivo de Guedes. 

Dentro deste arcabouço, João Dória, Rodrigo Maia e Wilson Witzel são comunistas, quando na verdade sequer são sociais democratas, também tidos como comunistas. Qualquer um o é, inclusive quem protesta, quem expressa indignação diante da morte de mais de 41. 000 pessoas, quem defende o isolamento social é um preguiçoso (imagem atrelada ao Socialismo, que na percepção simplista é sinônimo de Comunismo). 

Antônio Carlos Costa é um pastor cujas palavras e reflexões, resguardas as devidas proporções, são embasadas e refletem a mais profunda coerência com o espírito da reforma protestante, que tem como produto de seu espírito uma Teologia Pública (que parte de uma temática pública e socialmente relevante). Mas no ambiente atual ele tem sido chamado de comunista, petista, eleitor do PT, lulista, e coisas afins, basta entrar na página dele no Facebook, ou no instagram para ver. 

É o efeito da polarização politica e do embate com viés emocionais. É assim que alguém entre em um protesto promovido pela ONG Rio de Paz e comete ato de vandalismo contra a manifestação e por tabela aos mortos e enlutados em razão da pandemia, frequentemente negada pelos apoiadores do atual governo. 

É necessário que se produza uma realidade alternativa ao número de mortos. E esta passa pela negação da pandemia, pela apresentação de fórmulas mágicas onde a hidroxicloroquina e a ivermectina são a solução para o problema dantes negado. Mortos? Sempre tivemos, é o nosso fim e ponto. Com isto a capacidade de se solidarizar com os que perdem seus filhos, como no caso do pai que recolocou as cruzes no lugar. 

Neste momento uma ideia me ocorre. Um número elevado de mortos retira das pessoas a capacidade de se solidarizar. É como se ocorresse uma naturalização de mortes de jovens, crianças, adolescentes. Antes de ocorrer com as vitimas do COVID-19, tal processo ocorreu com a morte de policiais. Sim, vidas e pessoas foram institucionalizadas e reificadas. O pai, a mãe, o trabalhador que ia para a frente de combate deixou de ser uma pessoa para ser um número. 

No caso das vítimas do COVID-19, o processo é o seguinte: as vítimas deixam de ser pessoas para serem, ou se tornarem números inflados pelos governadores para poderem fraudar os cofres públicos e minar a economia. Esta ideia é recorrente nas redes sociais (ver aqui, aqui e aqui). Mesmo não sendo esta a intenção do Pastor Antônio Carlos Costa o protesto dele fere este tipo de negacionismo. 

Graças à Deus, o conflito que se instaurou ali no protesto não resultou em conflitos maiores. Vi uma live do Antônio Carlos Costa em que ele afirma ter orientado os voluntários que ali estavam para que não reagissem a quaisquer agressões. Eles eram esperadas? Claro que sim, basta ver a página do referido Pastor no Facebook e constatar a agressividade gratuita que o mesmo sofre, por parte da militância pró governo. Honestamente não sei onde isto irá parar, mas oro a Deus para que ele intervenha, porque a sandice está nos ganhando. 

Marcelo Medeiros

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