Pesquisar este blog

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Deus o Primeiro Evangelista




Este é mais um post que tem como objetivo principal dar aos alunos e professores da Escola Bíblica Dominical, que estudam a lição das Casas Publicadoras das Assembleias de Deus, os subsídios necessários para um maior aproveitamento de seus estudos. A lição deste próximo domingo parte da premissa de que Deus deu início à atividade de evangelização e que por este motivo exige de nós amor e responsabilidade para com esta tarefa.

Já na introdução é perceptível a intenção do autor em articular a revelação de Deus à pessoa de Abraão com o anúncio do Evangelho enquanto iniciativa divina. O problema que se levanta contra esta pressuposição é o de que desde o Éden o Senhor deu claros indicativos de que haveria de redimir o homem de seu estado pecaminoso.

A ideia de que Deus anunciou o Evangelho primeiramente a Abraão, vem de uma citação paulina cujo texto na íntegra afirma: Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti (Gl 3. 8 ARCF). feita a colocação, cabe a pergunta: o que precisamente Paulo está querendo dizer ao afirmar que Deus anunciou o primeiro o evangelho a Abraão?

O TEXTO ÁUREO EM SUA ACEPÇÃO


Acepção aqui é a distinção entre o que o autor do texto bíblico quer dizer, e o que o autor da lição disse. Não creio ser incorreto afirmar que Deus é um evangelista (portador de boas novas). Ele trouxe excelentes notícias aos patriarcas, aos profetas, reis e inúmeros servos dentre o povo de Deus. Mas ainda se faz necessário que se considere do texto áureo em seu contexto.

Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão (Gl 3. 6 - 9 ARCF). 
A expressão inicial das palavras de Paulo nesta sentença  "Assim como" são indicadores de que uma similitude, ou um paralelismo está se estabelecendo aqui. Em primeiro lugar ao efetuar uma leitura em seu devido contexto percebe-se que o autor do texto acima faz uma conexão entre a promessa a Abraão e a pregação da fé.Esta evidenciou Jesus e trouxe o Espírito para a dimensão de vida dos crentes da Galácia.

Em seguida Paulo propõe um paralelo entre a benção de Abraão e a justificação pela fé em Cristo. Este é o Evangelho que Deus anunciou primeiramente a Abraão.
Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho. E chamou Abraão o nome daquele lugar: o Senhor proverá; donde se diz até ao dia de hoje: No monte do Senhor se proverá. Então o anjo do Senhor bradou a Abraão pela segunda vez desde os céus, E disse: Por mim mesmo jurei, diz o Senhor: Porquanto fizeste esta ação, e não me negaste o teu filho, o teu único filho, Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos (Gn 22. 13 - 17 ARCF). 
Na carta aos Romanos Paul vai afirmar que esta descendência de Abraão não é o povo que descende do patriarca segundo a carne, mas aqueles que são da fé.
Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência. Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho. E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú (Rm 9. 6 - 13 ARCF).
Este mesmo argumento será reforçado em Gálatas quando Paulo afirma: Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo (Gl 3. 16 ARCF).  É em Cristo que as promessas de Deus feitas aos patriarcas são realizadas. Todavia a realização das mesmas não mais está na esfera material, mas na espiritual.

Em outras palavras, a benção de Abraão aqui nada tem a ver com a as campanhas de fé, realizadas por gente inescrupulosa, que na verdade não possui fé alguma. É antes a fruição plena das promessas de justificação pela fé e de vida no Espírito. Tanto Jonh MacArthur quanto Jonh Stott afirmam asseveradamente estas verdades.;

Nas lições do corrente trimestre e nos estudos publicados neste blog, há que se esclarecer que o cerne do Kerigma (entenda-se pregação) apostólico era este: Deus cumpriu em Cristo as promessas feitas aos patriarcas e ratificadas ao povo da aliança. O Messias encarnado, crucificado e ressurreto cumpre plenamente as expectativas depositadas Isaque e sua descendência.

Assim MacArthur entende que as boas novas à Abraão se manifestam na promessa de salvação para todos os povos, sendo este patriarca o instrumento para o cumprimento das mesmas. Retornando ao texto de Gálatas há que se observar ainda que para Paulo dar maior tom de autoridade à sua argumentação ele apela às Escrituras. Aqui há que se perceber mais uma vez que o Evangelho é estritamente escriturístico.

Toda vez que se depara com uma profecia messiânica as boas novas aparecem repentinamente diante do leitor da Bíblia. Com vistas a realçar esta verdade Paulo personifica as Escrituras, afirmando que as mesmas previram que Deus havia de justificar pela fé os gentiosPorque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra (Rm 9. 17 ARCF), e: Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido (Rm 10. 11 ARCF). e ainda: Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? (Rm 11. 2, 3 ARCF).

Neste ponto especificamente a Escritura é equiparada ao próprio Deus, quando Paulo prossegue afirmando: Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal (Rm 11. 4 ARCF).O Evangelho é a Escritura. Sem esta não existe aquele. Logo, a afirmação de que a benção de Abraão se realiza na justificação pela fé dos crentes é fundamentada. 

O EVANGELHO NAS ESCRITURAS
Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar (I Pe 1. 10 - 12 ARCF). 
Há que se observar aqui que tudo o que ocorreu com Cristo é produto do cumprimento das profecias. Tudo mesmo. Seu nascimento virginal, sua pobreza, a visita dos magos, sua apresentação no templo, a fuga para o Egito, o retorno para a Galiléia o estabelecimento em Nazaré, vida, morte, e ressurreição são descritos como realização das profecias. 

O quer este texto diz é que o Evangelho foi antecipado nas Escrituras. Ele foi dito antecipadamente quando nas estepes do Sinai Deus vindicou para si toda a terra como sua propriedade e marcou Israel como propriedade exclusiva.Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel (Ex 19. 5, 6 ARCF).  

Os sinais que Deus realizou antes da saída do povo do Egito antecipam o Evangelho, uma vez que por meio dos mesmos o nome de Deus foi glorificado. 
Então disse o Senhor a Moisés: Levanta-te pela manhã cedo, e põe-te diante de Faraó, e dize-lhe: Assim diz o Senhor Deus dos hebreus: Deixa ir o meu povo, para que me sirva; Porque esta vez enviarei todas as minhas pragas sobre o teu coração, e sobre os teus servos, e sobre o teu povo, para que saibas que não há outro como eu em toda a terra. Porque agora tenho estendido minha mão, para te ferir a ti e ao teu povo com pestilência, e para que sejas destruído da terra; Mas, deveras, para isto te mantive, para mostrar meu poder em ti, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra (Ex 9. 13 - 16 ARCF). 
Perceba que na palavra que Deus ordena que Moisés fale ao soberano egípcio é dito claramente que Faraó foi mantido em seu posto para que o nome de Deus fosse glorificado em toda a terra. E eu endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, e saberão os egípcios que eu sou o Senhor. E eles fizeram assim (Ex 14. 4 ARCF).  

Quando Paulo citou este texto, empregou διαγγέλω (diaggeloo), que consiste em anunciar plenamente um fato, ou notícia. No texto grego do AT, διαγγέλω é empregado para traduzir סַפֵּ֥ר (Shapt). E o fato é que o nome de Deus espalhou a partir dos feitos, tanto que Raabe disse aos espias que acolheu: Bem sei que o Senhor vos deu esta terra e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desfalecidos diante de vós (Js 2. 9 ARCF). 

Sob este prisma o propósito da lei é revelar a sabedoria manifesta de Deus, bem como a proximidade deste em relação ao povo. 
Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar. Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida. Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós? (Dt 4. 5 - 8 ARCF). 
Deus faz inúmeras promessas de que os povos haveriam de serem incluídos na economia da Salvação. E alguns destes textos podem ser mencionados abaixo. 
Todos os limites da terra se lembrarão, e se converterão ao Senhor; e todas as famílias das nações adorarão perante a tua face. Porque o reino é do Senhor, e ele domina entre as nações (Sl 22. 27, 28 ARCF). 
Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão perante a tua face, Senhor, e glorificarão o teu nome. Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus (Sl 86. 9, 10 ARCF).  
Para anunciarem o nome do Senhor em Sião, e o seu louvor em Jerusalém, Quando os povos se ajuntarem, e os reinos, para servirem ao Senhor  (Sl 102. 21, 22 ARCF).  
Em alguns momentos da vida do povo eleito esta verdade foi ofuscada pelo nacionalismo e  pela xenofobia. Mas a verdade persistiu. Hoje o desafio se foca na questão do denominacionalismo e outros vícios evangélicos que tem feito da Igreja um clube particular de santos, ou uma agência de entretenimento, ao invés de uma prestadora de serviços na divulgação do Evangelho.

Marcelo Medeiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço o seu comentário!
Ele será moderado e postado assim que recebermos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.