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sábado, 6 de fevereiro de 2016

O Tribunal de Cristo



Tribunal é por definição o estrado em que, nas casas em que se exerciam o julgamentoe à administração da justiça, tomavam assento os juízes e outras pessoas de distinção. Pode ser também a casa em que se julgam e decidem questões forenses e as de contencioso administrativo. A expressao tribunal de Cristo, ou βηματι του χριστου (beemati tou Christou) advém do uso que Paulo faz da mesma em dois textos. 

Ele afirma: Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo (Rm 14. 10b ACF). E, Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal (II Co 5. 10 ACF). Sendo que neste último texto a expressão grega é βηματος του χριστου (beematos tou Christou). 

É uma doutrina bíblicamente sustentável: 1) pelo fato inconteste de que Cristo de fato julgará as nações da terra, uma vez que Deus lhe concedeu todo o julgamento (Jo 5. 22); 2) Ressalta o fato de que os cristãos não serão julgados no tocante à sua salvação, mas no tocante às suas obras; 3) que este juízo será para definição de galardão, a fim de que cada um receba de Deus o seu louvor. 

O problema com relação a esta doutrina é que cada Escola de pensamento escatológico a situa em um ponto. Os pré-tribulacionistas e dispensacionalistas a situam imediatamente após o arrebatamento secreto, quando ou nas nuvens, ou nos ares os crentes serão julgados para galardão. Para pós-tribulacionistas como eu este julgamento tanto pode se situar antes do milênio, quando os crentes irão reinar quanto após o mesmo. 

Fato é que Cristo é juiz dos vivos e dos mortos, e que esta verdade é afirmada no Evangelho, quanto no kerigma primitivo. Outra verdade inconteste é que Cristãos serão julgados por suas obras, e que neste julgamento o teor das mesmas virá à tona. Este é o cerne da doutrina do tribunal de Cristo. Por último, mais do que especular o momento em que tal julgamento se dará, precisamos de um proceder que se coadune com esta verdade. 

AVALIAÇÃO DA DOUTRINA PRÉ-TRIBULACIONISTA DO TRIBUNAL DE CRISTO

Dentro da perspctiva do pré-tribulacionismo o tribunal de Cristo se distingue do juízo final do trono branco pelas seguintes razões: 

  1. No tribunal de Cristo as nações vivas serão julgadas. No juízo do Trono Branco os ímpios que estão mortos serão julgados. 
  2. O primeiro se dará antes do milênio, ao passo que o segundo após (Ap 20. 12 - 14). 
  3. O primeiro tem Cristo como juiz, enquanto o segundo tem o próprio Deus como juíz. 
  4. O primeiro se dará na terra, mas o segundo no céu. 
  5. No tribunal de Cristo apenas os justos são julgados, e no juízo do Trono Branco os ímpios também o são. 
  6. No tribunal de Cristo alguns são salvos, enquanto o juízo do Trono Branco todos são condenados. 
  7. No tribunal de Cristo alguns são destruídos (após terem sido arrebatados?), no juízo do Trono Branco todos são. 
  8. Não há uma ressurreição no tribunal de Cristo, quando no juízo do Trono Branco os ímpios ressurgem. 
  9. No tribunal de Cristo não há abertura de um livro, ao passo que no juízo do Trono Branco abrem-se os livros e o livro da vida. 
  10. Alguns vão para o inferno após o Tribunal de Cristo, quando no Julgamento final todos irão. 
Na minha perspectiva particular, textos que poderiam ser lidos de forma complementar foram distinguidos uns dos outros por detalhes que "aparentemente" contraditórios para fundamentar a diferença entre o julgamento final e o tribunal de Cristo. Jesus não situa o julgamento das nações de Mt 25. 31ss antes ou depois do milênio, nem que este se dará na terra. 

Não se pode afirmar que em tais juízos apenas os justos serão julgados, uma vez que os bodes de Mt 25. 33 não podem ser justos, tal como não o podem ser os falsos crentes de Mt 7. 21 - 23. O item seis é uma clara contradição em relação ao cinco, e o sete é totalmente incoerente com os dois anteriores. O oitavo intem contraria o texto abaixo transcrito, 
E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos (Ap 20. 4 - 6 ACF). 
Para que as almas dos santos que foram degolados tomem parte no juízo de Deus e de Cristo, este tem de ressuscitar. Elementar não é? Por último não há menção de que antes do milênio alguém seja condenado, o que há de fato é juízo. Estes são, em breves linhas alguns pontos nos quais particularmente divirjo do ponto de vista pré-tribulacional. 

Creio ser importante destacar as verdades centrais que os textos que falam do juízo a ser exercido por Cristo, e é esta tônica que pretendo dar à sequência deste estudo e que recomendo aos estudantes da Bíblia, bem como professores de Escola Bíblia Dominical enganjados nesta nobre tarefa. 

CRISTO COMO JUIZ
E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou. Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida (Jo 5. 22 - 24 ACF). A expressão ουδε γαρ ο πατηρ κρινει (oude gar o pater krinei), indica que em último sentido Deus exercerá o seu juízo sobre as nações e o fará por meio de Cristo.
  1. Esta verdade é afirmada repetidas vezes no kerigma primitivo. Pedro a professou na casa de Cornélio ao dizer: e nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos (At 10. 42 ACF). Pedro igualmente afirma que os ímpíos que estranham o bom procedimento dos cristãos e os difamam pelo fato destes não os seguirem em seu desenfreamento haverão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos, Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito  (I Pe 4. 5, 6 ACF). 
  2. No areópago Paulo afirmou que Deus tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos (At 17. 31 ACF). Em suas recomendações finais ao jovem Timóteo o apóstolo dos gentios afirmou: Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino (II Tm 4. 1 ACF). 
  3. No contexto do texto do Evangelho é afirmado: assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer (Jo 5. 21 ACF). Tanto Paulo, quanto Pedro afirmam que ele, Cristo é juiz dos vivos e dos mortos. 
  4. A expressão κρισις (krisis) de onde procede a palavra crise indica desde a opinião formada até o ato de julgar no juízo final. Neste texto se percebe que no momento em que Deus concede a κρισις ao Filho, lhe dá a prerrogativa de emitir a opinião final a respeito de todos os homens. 
  5. Deus assim o faz como o primeiro ato de seu juízo. Em outras palavras o Filho que foi julgado e condenado pelo mundo, é exaltado à posição de juiz deste mesmo kosmos que o condenou. Porque está escrito:Como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim,E toda a língua confessará a Deus (Rm 14. 11 ACF).  
  6. Os cristãos não passam pela condenação, uma vez que ao ouvirem a Palavra do Filho e crerem na mesma serem isentos de toda a condenação, pois aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus (II Co 5. 21 ACF). 
 Este pode ser considerado um resumo a respeito da doutrina de Cristo como juiz. Deus lhe deu a prerrogativa de julgar, e o fez com vistas à exaltação do mesmo. 

O JULGAMENTO DAS OBRAS DOS CRENTES
 Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. Porque está escrito: Como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim,E toda a língua confessará a Deus. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus. Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão (Rm 14. 9 - 13 ACF). 
Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes. Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal (II Co 5. 9, 10 ACF). 
Estes textos demandam breves considerações:

  1. Conforme dito acima: a prerrogativa de exercer o juízo é de Cristo, uma vez que somente ele o Pai sondam o conhecem o que há no coração e somente a eles cabe a retribuiação de acordo com a obra de cada um (Jr 17.10; Mt 16. 27).  
  2. Não é prerrogativa humana desprezar seu irmão, ou agir para com este como o fariseu agiu para com o publicano. O Padre Antônio Vieira acertadamente fala do juízo humano e do quanto este é falho ao ver que Cristo e João Batista são condenados neste, enquanto Barrabás é absolvido. 
  3. O juízo de Cristo é uma prestação de contas, tal como se observa nas parábolas dos servo fiel e dos talentos (Mt 24. 44 - 51; 25. 14 - 30), dentre os itens da prestação de contas estão as nossas palavras. Toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo (Mt 12. 36 ACF). 
  4. O juízo de Cristo é individual e demanda mudança na atitude dos crentes uns para com os outros, de modo que o julgamento hipócrita e temerário seja suspenso e uma atitude mais serviçal seja assumida. 
Me despeço rogando a Deus que este post tenha servido se grande ajuda aos que se dedicam à nobre causa do ensino. Em Cristo, Marcelo Medeiros. 


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