Pesquisar este blog

sexta-feira, 10 de abril de 2015

O Nascimento de Jesus



Da acordo com Paul Jhonson o período em que Jesus nasceu era extremamente turbulento. O território conhecido como Palestina era um misto de prosperidade material e turbulência política. Herodes, o Grande vivia atormentado pela possibilidade de vir a ser removido de sua posição política privilegiada. As constantes revoluções somadas aos boatos de nascimento de um herdeiro de Davi eram motivos de sobra para a paranoia.

Neste contexto histórico Cesar Augusto promoveu um censo, que foi muito contestado pelos historiadores até meados do século passado. Foi quando se descobriram no Egito alguns recibos censitários datados do segundo século da atual era. Somados às menções de Josefo ao senso promovido por Quirino em VI d. C, permitem o estabelecimento da hipótese da correção de Lucas quanto à narração de tal evento.

Este estudo tem como objetivo elucidar os fatos pertinentes ao nascimento de Cristo. A anunciação, o censo, os pastores no campo, a aparição dos anjos, o cântico dos mesmos, a apresentação de Jesus no templo, sua circuncisão, etc... Feitos os esclarecimentos supra, convém que se prossiga com o presente estudo.

O CONTEXTO HISTÓRICO
E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse (Este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino presidente da Síria). E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade (Lc 2. 1 - 3 ACF)
O texto de Lucas traz a informação de um senso que foi realizado por ordem de César Augusto no período em que Quirino [κυρηνιου], sendo este o seu nome na forma grega, ou Cirênio na forma latina. Na época es presidente da Síria. Uma questão crucial a ser considerada é a de que fossem as informações do aludido evangelista carentes de veracidade, as mesmas teriam de serem desmentidas por documentos da época. Mas o que se observa é um ceticismo lançado contra a informação prestada. O fundamento da suspeita, infelizmente, não é a falta de veracidade, mas de documentação correlata comprovando que tal senso de fato tenha ocorrido.

Esta ideia predominou de meados do séc. XIX, para meados do XX. Descobertas de recibos e decretos entre os papiros do Egito trouxeram nova luz aos estudos. Por meio destas foi possível constatar que a cada ciclo de catorze anos eram realizados sensos. A estas foram somadas outras inscrições indicando que Augusto foi o primeiro a ordenar o censo imperial. 


Bruce Stark, em seu artigo censo informa-nos de que no período em apreço ocorreu uma revolta liderada por Judas Galileu, possivelmente contrariados com a política imperial. A despeito das descobertas mencionadas no presente texto, a exatidão doo momento histórico em que tal censo se deu é motivo de controvérsia, visto que a julgar pelas informações dadas por Josefo, a ocorrência do recenseamento teria se dado após o nascimento de Cristo.


Uma tese que tem ganho bastante força no sentido de conciliar as declarações de Lucas com as de Josefo é a defendida por Irvine Robertson, sob a ótica deste erudito o senso narrado por Lucas na verdade é um passo inicial para o verdadeiro grande censo histórico. Afinal uma crise política decorrente do crescente descrédito de Herodes tinha de ser resolvida. Uma iniciativa tomada por inicialmente por Augusto foi a de tratar a região palestina como uma província qualquer do Império (o que explica a revolta liderada por judas Galileu). Na resolução da crise o senso foi suspenso temporariamente.
E disse-lhes: Homens israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens, Porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos (At 5. 35 - 37 ACF).
Por algum tempo a menção de Teudas ao lado da de Judas,ou melhor colocando aquele como anterior a este, tem gerado problemas. O principal é o fato de que o Teudas reconhecido historicamente é o mencionado por Josefo. Este teve seu movimento foi sufocado por Fado. A solução para este problema data dos primórdios da atual era, quando se propôs a existência de mais de um homem com este nome. A hipótese ganha plausibilidade na medida em que se percebe que dentre as revoluções ocorridas na época três foram lideradas por homens com o nome de Judas.

Estes detalhes históricos serão de extrema importância na medida em que as lições sobre o Evangelho de Lucas forem se desenvolvendo. No tocante aos milagres de Jesus, por exemplo, Paul Johnson destaca o perigo que alguém vindicar para si que era capaz de operar milagres. A história mostra que uma explicação plausível para tal era que os revolucionários, dentre os quais Teudas reivindicavam este poder.

A respeito de Judas Galileu, ele é um revolucionário que provocou um levante contra Roma, por causa da questão dos tributos. Nesta época Roma vindicava para si o direito de tributar livremente a Judeia e adjacências. Sua revolta foi sufocada, mas há uma concordância de que das ações deste tenha surgido o movimento conhecido como Zelote. No ministério de Cristo há um homem chamado Simão, que era zelote (Lc 6. 15).

UMA TEOLOGIA SOCIAL IMPLÍCITA

No estudo passado foi afirmado o interesse de Lucas pelo social, particularmente pelos pobres [aqui]. Paul Johnson afirma que naquela época a vida era extremamente barata. Os pobres desprezados. Mas isto, claro, não se aplicava a qualquer tipo de pobre, mas a um especificamente. Segundo o autor em apreço, os pobres judeus eram amparados. O que é confirmado pela prática da esmola, comum no judaísmo desde o período inter bíblico. O problema eram os pobres estrangeiros que estavam na região da Galiléia.

O nascimento de Jesus em uma estrebaria revela a plena identificação do Deus Eterno e Poderoso com os pobres e destituídos de bens. A razão de ser desta afirmação é plenamente justificável à luz do fato inconteste de que o Rei eterno nasceu em uma estrebaria.
E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi), A fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem (Lc 2. 4 - 7 ACF). 
Todavia o processo não para aí. A história envolvendo o nascimento de Jesus começou com a visita de um mensageiro celestial, por nome de Gabriel, com fins de anunciar que uma menina comprometida com um homem da casa de Davi, havia sido escolhida por Deus para ser a mãe do futuro Messias.

Aos olhos do leitor da história esta é uma linda narrativa, mas cabe a pergunta: como o homem moderno (o que inclui este escritor e o leitor), reagiriam diante da história de uma menina, noiva de um rapaz serio, que aparecesse grávida e dizendo que a gravidez era fruto de uma obra do Espírito Santo? Pense que de acordo com o relato de Mateus o próprio José se viu profundamente dividido, Por este motivo ele planejou deixar a jovem secretamente, sem apresentar uma acusação formal de adultério.

Diante de tais elementos, é viável considerar que o casal tenha aproveitado a ocasião do senso para que a criança nascesse fora do ambiente e longe dos rumores. Werner Keller especula a possibilidade de que se tenha espalhado um boato de que Jesus era filho de Maria com um soldado estrangeiro. Jonh Piper fala sobre este assunto ao abordar a questão da pobreza de Cristo, que sequer um nome e boa fama teve.

É neste ponto que se faz necessário considerar os testemunhos que Deus deu a respeito do seu próprio Filho. Este nasceu destituído do bom nome diante dos homens, mas conforme diz o autor aos Hebreus, que ele (Cristo) recebeu um nome mais excelente que os anjos. Não se trata do nome que foi revelado para que José colocasse na criança, mas do título de Filho, visto que o autor prossegue dizendo: a qual dos anjos Deus disse jamais: "tu és meu filho, hoje te gerei", e: "eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho"(Hb 1. 4, 5).

E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus (Lc 1. 35 ACF). Perceba que o testemunho do anjo é que Jesus é αγιον κληθησεται υιος θεου (hagion klehesetai hios Theou), ou seja, chamado santo e Filho de Deus.

Lucas alista então o testemunho dos anjos aos pastores, o testemunho de Simeão e Ana, a teofania do Espirito Santo no momento do batismo, o testemunho do próprio João Batista, mesmo dos demônios (Lc 4. 34, 35). Os dois primeiros serão abordados neste estudo, os demais serão deixados para sequência de estudos da presente lição de Escola bíblica.

O TESTEMUNHO DOS ANJOS
E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura. E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens (Lc 2. 9 - 14 ACF). 
Algumas observações a serem feitas sobre este texto:

  1. A mensagem da concepção de Jesus foi trazida por um anjo, a notícia de que a gravidez de Maria era obra do Espirito de Deus, idem. De modo análogo os anjos anunciam o nascimento de Cristo aos pastores no campo. 
  2. A manifestação dos anjos trouxe a manifestação da glória do Senhor. Tal como nas ocorrências do Antigo Testamento, esta glória produz terror, medo nos que presencia a manifestação. 
  3. A expressão não temais prenuncia o caráter da mensagem que os anjos estão para trazer, uma mensagem que é classificada como: ευαγγελιζομαι υμιν χαραν μεγαλην (euanggelizomai hymin charan megaleen), uma notícia que produz grande alegria. 
  4. A alegria está ligada ao nascimento de uma criança especial. Jesus, é esta criança. Ele não nasceu nos palácios, ou em um lar nobre, mas em uma estrebaria e os pastores que ali estão são os convidados a estarem na comitiva de recepção da figura mais importante da história da humanidade. 
  5. Este menino é o σωτηρ (sooteer), salvador. Em seu cântico Maria já havia declarado: A minha alma engrandece ao Senhor, E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador (Lc 1. 46b, 47 ACF). Cristo é o salvador não apenas do povo de Israel, mas de todas as nações (Lc 2. 32; 3. 6). 
  6. Ele é χριστος (Christos), forma grega do hebraico מָּשִׁ֖יחַ. O Sentido deste termo é o Ungido. o título em apreço é reservado ao descendente de Davi, conforme lido no saltério (Sl 2. 1, 2). Neste sentido Jesus é o legítimo herdeiro do trono de Davi, conforme dito pelo anjo. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim  (Lc 1. 31 - 33). 
  7. Ele é Senhor (κυριος - Kyrois), indica poder e autoridade supremos. No caso de Cristo o nome indica sua divindade, uma vez que este é o termo empregado pelos tradutores da LXX para designar o próprio Deus. 
  8. O louvor dos anjos é indicador de que o nascimento da criança é fator preponderante para o estabelecimento da paz na terra. 
Feitas as observações supra convém passar ao testemunho de Ana e Simeão. 

SIMEÃO E ANA
E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); E para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos (Lc 2. 22 - 24 ACF). 
Cristo nasceu de mulher e sob a lei (Gl 4. 4, 5). A oferta  apresentada pelo casal era a oferta típica de pessoas que não dispunham de recursos. E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote  (Lv 12. 6 ACF). 
Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. E fora-lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele não morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor. E pelo Espírito foi ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, para com ele procederem segundo o uso da lei, Ele, então, o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e disse: Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, Segundo a tua palavra; Pois já os meus olhos viram a tua salvação, A qual tu preparaste perante a face de todos os povos; Luz para iluminar as nações, E para glória de teu povo Israel (Lc 2. 25 - 32 ACF). 

  1. Simeão era temente a Deus
  2. Esperava a consolação de Israel
  3. O Espírito Santo estava sobre ele.  
  4. O mesmo Espírito lhe revelou que não morreria sem ver a consolação de Israel
  5. Foi ao Templo movido pelo Espírito de Deus
  6. Quando percebeu pelo Espírito que a promessa fora cumprida louvou a Deus. 
  7. Reconheceu que os gentios tinham participação na promessa. 


Mas também afirmou: Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado (E uma espada traspassará também a tua própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos corações (Lc 2. 34, 25 ACF). O mesmo Cristo que é salvador é pedra de tropeço, rocha de escândalo (Is 8. 16; Rm 9. 33; I Co 1. 23). Isto, em parte por sua origem duvidosa, aos olhos dos homens. Mas, há que se entender com Paul Johnson e Piper que o fundamento do ódio do mundo por Cristo se deve pelo fato dele ser a luz, e o mundo estar em trevas, ou por Jesus ser a encarnação da verdade em contraste com um mundo cada vez mais antagônico para com a mesma. 

Marcelo Medeiros. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço o seu comentário!
Ele será moderado e postado assim que recebermos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.