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sábado, 2 de janeiro de 2016

Escatologia o Estudo das Últimas Coisas


Escatologia é um ramo da Teologia Sistemática cujo material é constituído pela interpretação da profecia bíblica, apocalíptica e das demais matérias da Sistemática [aqui leia-se Sistemática como Dogmática]. O que pretendo dizer aqui é que descreio de uma Escatologia saudável, que não reúna e equilibre estes elementos. Sem os tais o que se tem é uma interminável especulação a respeito de eventos futuros que se resumem a tentativas de ver em clérigos romanos a besta, ou de acomodar evantos às passagens da Bíblia. 

De acordo com a revista do primeiro trimestre do corrente ano das Casas Publicadoras das Assembleias de Deus, o estudo da escatologia traz ao coração dos salvos a esperança de um dia estarem para sempre com o SenhorJesus Cristo. A título de consideração inicial posso afirmar que a Esperança é a matéria por excelência da Escatologia. 

A presente introdução já deu o tom do corrente post. Qual? 1) Definir o que é Escatologia. 2) Esclarecer as fontes bíblicas e teológicas da mesma. 3) Ressaltar o elemento da Esperança contido na mesma. Não é tarefa fácil, visto que o ser humano tem um profundo interesse no futuro e os estudos escatológicos tem sido profundamentes influenciados por este caráter especulativo. Feitas as colocações convido o leitor a aventura no estudo da escatologia. 

O QUE É ESCATOLOGIA?

A pergunta a respeito da natureza da Escatologia bíblia imediatamente nos remete ao que não é escatologia. E a resposta a esta primeira indagação remete ao leitor bíblico às seguintes questões:
  1. Não é a entrega a especulações a respeito do futuro, uma vez que o próprio Cristo disse aos seus discípulos: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder (At 1. 7 ACF). 
  2. Não consiste em intermináveis tentativas de marcações de datas para a Vinda de Cristo, uma vez que o mesmo disse: Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai (Mt 24. 36 ACF). 
  3. A afirmação de Jesus acima, não é uma negação de sua autoridade e divindade, mas o indicador de um padrão, uma vez que o próprio Deus quando faz anunciados aos seus profetas não trabalha com datas. 
  4. Não é a acomodação de eventos atuais às profecias bíblicas [algo que ocorre principalmente no caso dos programas de implantação de chips e eventos catastróficos como a derrubadas das torres gêmeas, do World Trade Center, ao atentado terrorista ocorrido na França ano passado, ou ao desastre ambiental de Mariana MG (ver aqui)]. 
  5. Não consiste na acomodação de textos bíblicos às ideias pré concebidas no campo da dogmática [este é o caso do pré-tribulacionismo, posição teimosamente defendida pelos líderes evangélicos no Brasil, mas incosistente do ponto de vista bíblico, conforme será demonstrado mais afrente]. 
  6. Não pode ser confundida com a série Deixados para Trás de Tim LaHaye, cujo teor é puramente especulativo e contém elementos mais lendários e mitologicos do que bíblicos. Os filmes são interessantes, mas poderiam ser colocados numa categoria inferior a Inimigo de Estado, Controle Absoluto, Vingador do Futuro, O Pagamento e tantos outros que se entregam a especulações a respeito de temas como o Fim do Mundo, Crise política, ambos presente na Escatologia atual. 
  7. Aqui observa-se que a Escatologia não é algo delimitado ao povo evangélico. Franquias cenematográficas como o Exterminador do Futuro possuem seu viés escatológico, o mesmo se pode dizer de obras como o livro e o filme feito com base no mesmo A Máquina do Tempo de H. G. Wells. 
Uma vez percebidas as verdades acima convém perguntar: o que de fato é a escatologia?
  1. Etimologicamente falando é a junção dos termos gregos εσχατη (eschatee) com λογος, o primeiro tem a ver com último, o segundo com estudo, tratado, saber. 
  2. Escatologia seria assim o saber a respeito das últimas coisas. Mas o que precisamente poderiam ser estas últimas coisas?
  3. Biblicamente falando as últimas coisas são os evantos que transcorrem entre a ascensão de Cristo e o seu retorno. Com este sentido o termo εσχατων των ημερων [eschaton ton heemeron, ou últimos dias] é empregado em Hb 1. 1, 2. 
  4. De igual modo o termo εσχατων των χρονων [eschaton ton chronon] é empregadopara se referir aos eventos pertinentes ao primeiro advento de Cristo, que culminou com sua morte e ressurreição e sucessivamente com a redenção dos crentes (I Pe 1. 20). 
  5. O mesmo se pode dizer de termos como συντελεια του αιωνος [synteleia ton aioonos], cujo emprego pode ser feito em alusão a eventos futuros (Mt 13. 49; 28. 20), como para os que ocorreram no momento histórico em que Cristo morreu (Hb 9. 26). 
  6. Perceba a partir deste último texto bíblico que a consumação dos séculos, na mentalidade do autor da Carta aos Hebreus é o momento em que o mesmo está vivendo. 
  7. Algo similar ocorre na mente de Pedro quando este associa o derramamento do Espírito no Pentecostes com a profecia de Joel (Jl 2. 28 - 31) e acrescenta a expressão εσχατων των ημερων [eschaton ton heemeron, ou últimos dias]. Os eventos ligados a morte, ressurreição e ascenção de Cristo inauguram a era Final. 
  8. Conforme sugerido acima, em relação à expressão συντελεια του αιωνοςεσχατων των ημερων pode ser empregado para eventos futuros, coforme visto nos textos que fazem alusão à apostasia (I Tm 4. 1), à corrupção generalizada (II Tm 3. 1ss), e ao descrédito com relação à Vinda de Cristo (II Pe 3. 3). 
  9. Gordon Fee e Douglas Stuartt afirmam que o Novo Testamento é um documento eminentemente escatológico, visto que seus contemporâenos acreditavam que a qualquer momento o Reino de Deus irromperria na Era presente
  10. Conclui-se assim que a escatologia não se limita a eventos futuros, antes abrange eventos pertinentes ao momento em que os discípulos, e demais membros da comunidade primitiva viveram. O ensino de Cristo, bem como sua pregação são eminentemente escatológicos [ver aqui]
Este é o momento em que se pode passar para as fontes bíblicas da Escatologia. 

FONTES BÍBLICAS DA ESCATOLOGIA

Falar a respeito das fontes bíblicas da Escatologia, demanda, por parte de quem se propõe a realizar tal feito, séria consideração a respeito das profecias bíblicas e da apocalíptica. Em geral estes dois movimentos são confundidos no imaginário cristão. A prova cabal de similar confusão é o fato de Daniel ser tido, ou considerado como profeta, quando na verdade ele é um חָזֹ֖ון (hazon) visionário. 

Biblicamente falando o movimento profético é um movimento que tem seu começo na monarquia. Não se trata um movimento literário desde o início, tanto que Elias, Eliseu, Aías de Silo e tantos outros não deixaram escritos. É a partir do ministério de Isaías, e Jeremias que o movimento assume forma literária, mediante ordem divina de que os oráculos sejam escritos. 

Disse-me também o SENHOR: Toma um grande rolo, e escreve nele com caneta de homem: Apressando-se ao despojo, apressurou-se à presa (Is 8. 1 ACF). A ordem visa a perpetuação das palavras oraculares para o dia do final: Vai, pois, agora, escreve isto numa tábua perante eles e registra-o num livro; para que fique até ao último dia, para sempre e perpetuamente (Is 30. 8 ACF). 

Deus ordenou a Jeremias que escrevesse a profecia a fim de que quando esta se cumprisse, o cumprimento fosse testemunho de que Deus havia mandado o profeta falar tantos os oráculos de juízo quanto os de consolação, é o que concluo deste texto abaixo:
Assim diz o Senhor Deus de Israel: Escreve num livro todas as palavras que te tenho falado. Porque eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei voltar do cativeiro o meu povo Israel, e de Judá, diz o Senhor; e tornarei a trazê-los à terra que dei a seus pais, e a possuirão (Jr 30. 2, 3 ACF). 
O profeta é um homem que começa o seu oráculo com a expressão veio a palavra do Senhor (Is 38. 4; 39. 5; Jr 2. 1; 30. 1; 32. 26; 33. 23). Já o apocalipsista é um homem de visão. Daniel é um claro exemplo. Discordo de que este último seja uma produção do período interbíblico, quando, de acordo com a maioria dos eruditos se desenvolveu a apocalítica, mas seu estilo é eminetemente assim, devido ao emprego de visões simbólicas (Dn 7; 8), do uso histórico das profecias (Dn 9. 1ss) e das visões frequentes. Tais detalhes podem ser aferidos neste breve estudo que fiz.

Do profetismo a escatologia dogmática herdou:

  1. As profecias que dizem respeito a Jesus Cristo, tanto em seu primeiro advento, quanto no seu segundo. Na verdade ambos sestão profundamente misturados, conforme se pode ver nos seguintes textos (Gn 49. 9 - 12; II Sm 7. 12 ss; Mq 5. 2). 
  2. O primeiro texto mistura cenas de nascimento de um descendente de Judá com as de execução de um juízo e o estabelecimento de uma paz sem fim. 
  3. Esta percepção messiânica permanece mesmo no ministério profético de João Batista, para quem a Vinda do Messias tem como objetivo único a execução de um juízo sobre os que não se arrependem e não ouvem a pregação de Batista e do Messias (Mt 3. 10 - 12). 
  4. Foi Cristo quem fez a distinção entre o período da salvação e o do juízo (Mt 11. 5ss; 16. 27). 
  5. As profecias pertinentes a Israel. Isaías, Jeremias, e Miquéias, por exemplo descrevem um quadro cujo cumprimento não é pleno. Nestas o Monte de Sião será um referencial de ensino e sabedoria para todas as nações da terra e os povos para lá correrão (Is 2. 2 - 4). 
  6. Em razão do conhecimento do Senhor, não se fará mal nem dano algum no santo monte do Senhor (Is 11. 9). 
  7. Isaías chega a descrever o seguinte quadro: E a lua se envergonhará, e o sol se confundirá quando o Senhor dos Exércitos reinar no monte Sião e em Jerusalém, e perante os seus anciãos gloriosamente (Is 24. 23 ACF). 
  8. Um quadro similar a este será retratado por João em sua descrição da Cidade Santa. E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre (Ap 22. 5 ACF). 
  9. Este mesmo monte é um local em que as estruturas dos céus serão abaladas e a morte aniquilada para sempre (Is 25. 6 - 9). 
  10. Estas profecias formam o cerne de duas categorias apocalípticas e escatológicas: a do Milênio e a do Estado Eterno e servem como exemplo da influência do profetismo na formação do pensamento escatológico. 
  11. Há também as profecias condizentes aos gentios. Elas indicam que o plano de Deus não se restringe exclusivamente aos filhos de Israel, antes abrangem as gentes, ou as demais nações (Gn 12. 3; 18. 18; 22. 18). 
  12. A lei do senhor emanará de Sião, para todos os povos (Is 2. 3). 
  13. Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua (Is 45. 23 ACF). 
  14. Naquele tempo chamarão a Jerusalém o trono do Senhor, e todas as nações se ajuntarão a ela, em nome do Senhor, em Jerusalém; e nunca mais andarão segundo o propósito do seu coração maligno (Jr 3. 17 ACF). 
  15. Há também as profecias bíblicas pertinentes à Igreja. Elas decorrem de uma compreensão de que os gentios estão incluídos na etapa da salvação e que tal como os judeus fazem parte das promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó.
  16. Tais profecias são mais perceptíveis mediante leitura apurada da Carta aos Efésios. Nesta Paulo demonstra como judeus e cristãos foram inidos em um único povo (Ef 2. 11 - 18; 3. 4 - 6). 
Da apocalíptica judaica a Escatologia herdou: 
  1. As imagens cataclísmicas dos evantos finais tais como: a destruição da terra, da natureza, das potências do céu, etc...
  2. Uma visão simbólica e teleológica da história (Dn 2; 7; 8). O advento dos reinos mundiais é descrito por meio da ascenção de bestas, ou de ujma estátua constituída de vários metais em que a mesma é destruída (Dn 2). 
  3. Quadros eminentes da volta do Senhor. São aquelas imagens em que no lugar da restauração da monarquia judaica o próprio Deus é descrito Aquele que vem para Reinar (Dn 7. 13, 14). 
  4. Ele é Aquele que Vem com as nuvens do céu [símbolo de glória]. Esta imagem será constante no Novo Testamento para descrever a Vinda de Cristo (Dn 7. 13; Mt 16. 27; 24. 30; 26. 64). 
Feitas as considerações supra passemos às conclusões sa dogmática na Escatologia. 

RESULTADOS NA DOGMÁTICA E NA ESPERANÇA



No tocante à dogmática pode-se dizer que: 

  1. A Escatologia é a consumação da Teontologia [doutrina do Ser de Deus], visto que a mesma descreve a Glorificação final de Deus em tudo e em todas as coisas (Ap 4. 8, 11; 19. 6, 7). 
  2. É igualmente a consumação da Antropologia, visto que nesta os homens são descritos cumprindo o eterno propósito para o qual foram criados, a saber: o de glorificar a Deus por meio de suas palavras e obras. De uma forma, ou de outra, na condição de salvos ou na de perdidos os homens redenrão glórias a Deus, visto que Deus mesmo jurou toda língua confessará e todo o joelho se dobrará (Is 45. 23; Rm 14. 11; Fp 2. 10, 11). 
  3. A Escatologia é a consumação da Hamartialogia, visto que proclama a aniquilação de toda forma de mal, conforme se pode ver na letra da música de Nelson Cavaquinho [Juízo final], neste dia do mal será queimada a semente, o amor será eterno novamente. Conforme se vê nas observações supra, as profecias afirmam categoricamente: não se fará mal nem dano algum no santo monte do Senhor (Is 11. 9). 
  4. Na Soteriologia se verá a conclusão da obra definitiva de Cristo. No passado cada crente foi salvo da ira de Deus ao ser justificado em e com sua graça (Rm 5. 1 - 11). No presente o crente experimenta libertação do poder do pecado mediante a aplicação da graça na vida diária. Este processo é denominado de santificação (Rm 6. 14 - 22). No futuro não estaremos mais sob risco de pecar, uma vez que seremos salvos do poder do pecado. O nome deste processo é glorificação (Rm 8. 29, 30), cuja consumação definitiva se dará na Vinda de Cristo. 
  5. Cristologicamente falando o próprio Jesus deu a entender que sua encarnação não revelava tudo a respeito de sua natureza (Is 53. 1; Jo 12. 38), daí o fato de que Ele mesmo tenha falado em um dia em que o Filho do Homem haveria de se revelar (Lc 17. 30). O autor aos Hebreus afirma: Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos (Hb 2. 9 ACF). 
  6. A Eclesiologia tem sua resolução na Escatologia, visto que nesta se descreve a união final entre Cristo e sua Igreja (Jo 14. 3; I Ts 4. 17). 
  7. A Esperança Cristã é a Glória de Deus (Rm 5. 2; 8. 18) a manifestação de Nosso Grande Deus e Salvador Jesus Cristo (Tt 2. 13, 14), uma herança incorruptível (I Pe 1. 4, 5), novos céus e nova Terra (II Pe 3. 13) etc...
CONCLUSÃO

Em tempos tão marcados pelo materialismo e pelo hedonismo a função da esperança é fazer com que o crente olhe para além do tempo presente, para além daquilo que se vê, e recobre sua identidade a se comporte neste presente tempo como se não estivesse mais sob este aéon. 

Em Cristo, Marcelo Medeiros. 

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