Pesquisar este blog

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Deus dá sua Lei ao povo de Israel



A lei de Deus é antes de qualquer coisa, dádiva, dom, presente. Via de regra os cristãos a associam com o jugo farisaico, ou com o conjunto de tradições que Jesus deliberadamente rejeitou. Davi afirma: a lei de Iahweh é perfeita, faz a vida voltar (Sl 19. 8 [7] Bíblia de Jerusalém). Aqui se vê um testemunho similar ao de Paulo, para quem a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom (Rm 7. 12 Bíblia de Jerusalém).

Daí a compreensão que partilho aqui de que originalmente a lei não pretendia ser um fardo pesado para o povo de Israel, mas um caminho de vida. Outra dimensão desta mesma lei é que ela foi dada em meio a celebração de uma aliança, a do Sinai, é isto que precisa de ser visto, ao revisar a lei para o povo, Moisés afirmou: ouve ó Israel, os estatutos e as normas que hoje vos proclamo aos vossos ouvidos. Vós os aprendereis e cuidares de pô-los em prática. Iahweh, nosso Deus concluiu conosco uma aliança no Horebe (Dt 5. 1, 2 Bíblia de Jerusalém). É a partir destes pressupostos que estarei elaborando os posts que abordam os dez mandamentos.

A AUTORIA

A despeito das discussões entre os proponentes da Escola ortodoxa e os da escola crítica a autoria da תֹּ֘ורַ֤ת (torah), a respeito da autoria mosaica da lei, há que se ressaltar aqui o fato de que o paralelismo existe entre esta e as leis de povos vizinhos de Israel, pode ser um fruto da graça comum, de modo que não tenho quaisquer dificuldade com a crítica bíblica, visto que a graça o responde. Em outras palavras, Paulo reconheceu que existem gentios para os quais a lei de Deus está escrita em seus corações e eles por natureza obedecem a lei. Neste caso, o fazem pressionados exclusivamente por suas próprias consciências. 

Voltando ao entendimentos das escolas liberais e ortodoxas, para aqueles a lei é resultado de uma série tradições orais que foram se acumulando até que durante o reino persa foram organizados por Esdras e a autoria foi concedida à Moisés (esta afirmação pode ser vista na introdução ao Antigo Testamento de Erick Zengüer). 

Os mais ortodoxos como Hill e Walton até entendem e aceitam que existem textos no pentateuco que não podem ser de autoria mosaica, tais como o registro da morte do profeta e legislador, e a narrativa da contenda deste com Miriã e Arão, mas no geral entendem juntamente com testemunho de Jesus e dos apóstolos que grande parte do conteúdo da תֹּ֘ורַ֤ת (torah) é mosaico. 

O CONTEXTO

A promulgação da lei se deu no contexto da celebração de uma aliança entre Deus e o povo. Esta aliança foi celebrada três meses após a saída do povo do Egito (Ex 19. 1). Tão logo o povo chegou ao Sinai, Moisés foi chamado ao monte para ouvir as palavras de Deus (Ex 19. 2, 3). Ali foi feito um memorial das obras de Deus (Ex 19. 4), e celebrada uma aliança בְּרִיתִ֑י (berit). 

Os dez mandamentos são o marda da aliança que Iahweh está celebrando com o seu povo. Ao lembrar a lei para o povo Moisés ressaltou como se deu tal aliança: O Senhor nosso Deus fez conosco aliança em Horebe. Não com nossos pais fez o Senhor esta aliança, mas conosco, todos os que hoje aqui estamos vivos. Face a face o Senhor falou conosco no monte, do meio do fogo (Dt 5. 2 - 4 ACF). 

Aqui se percebe uma verdade, a de que a aliança do Sinai estava inaugurando uma nova etapa na economia da salvação. Os pactos feitos com Noé, Abraão, eram incondicionais, mas ao povo de Israel Deus colocou condições, neste caso a obediência à lei. E como resposta o povo disse a Moisés: o que te disser o Senhor nosso Deus, o ouviremos e cumpriremos (Dt 5. 27 ACF). De acordo com o relato de Êxodo, o povo respondeu a uma só voz: tudo o que o Senhor tem falado faremos (Ex 19. 8 ACF). 

Apesar do compromisso assumido a história de Israel mostra que o povo não obedeceu conforme proposto, tanto que ainda no monte Deus fala com Moisés: quem dera eles tivessem sempre no coração esta disposição para temer-me e para obedecer a todos os meus mandamentos. Assim tudo iria bem com eles e com seus descendentes (Dt 5. 29 NVI). 

O TEMOR COMO BASE DA ALIANÇA

A manifestação de Deus no Sinai provocou terror e espanto no povo, ao ponto deste pedir que Moisés falasse com Deus (Ex 20. 19). Em princípio as palavras do povo foram moldadas pelo temor, mas Deus sabia que eles não teriam sempre a mesma disposição. Diante do espanto e do terror provocado pela teofania, os israelitas pensaram que iam morrer. Foi quando Moisés disse: não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis (Ex 20. 20 ACF).  

O comentário da lição de Escola bíblica dominical pontua que os sinais exibidos na cordilheira do Sinai tinham por objetivo fortalecer a autoridade de Moisés como líder e legislador. Creio que isto se aplique aos Sinais que Deus deu ao líder em apreço, com vistas a autenticar sua liderança aos olhos do povo quando no momento da saída do Egito (Ex 4. 1- 9). Mas a manifestação na outorga da lei, visava provocar temor no coração do povo. Deus ordenou à Moisés: reúna o povo diante de mim, para ouvir as minhas palavras, a fim de que aprendam a me temer enquanto viverem sobre a terra (Dt 4. 10). 

É o temor que produz a obediência. Assim, que lembrou ao povo as palavras da aliança (Dt 5), Moisés disse: 
Esta é a lei, isto é, os decretos e as ordenanças, que o Senhor, o seu Deus ordenou que eu lhes ensinasse, para que vocês os cumpram na terra para a qual estão indo para dela tomar posse. Desse modo vocês, seus filhos e seus netos temerão ao Senhor, o seu Deus, e obedecerão a todos os seus decretos e mandamentos, que eu lhes ordeno, todos os dias da sua vida, para que tenham vida longa (Dt 6. 1, 2 NVI). 
Note que a lei tem de ser ensinada. Aqui cabe ressaltar novamente o sentido de תֹּ֘ורַ֤ת (torah), que não se restringe à lei, mas abrange igualmente a questão da instrução. A instrução da lei aumenta o temor no coração do povo, e conforme pontuado no texto bíblico, é o temor que livra o homem de pecar, melhor, o conduz na perfeita obediência da lei. 

Marcelo Medeiros.                                                                                                                                                                                                                                                                                        

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço o seu comentário!
Ele será moderado e postado assim que recebermos.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Créditos!

Por favor, respeite os direitos autorais e a propriedade intelectual (Lei nº 9.610/1998). Você pode copiar os textos para publicação/reprodução e outros, mas sempre que o fizer, façam constar no final de sua publicação, a minha autoria ou das pessoas que cito aqui.

Algumas postagens do "Paidéia" trazem imagens de fontes externas como o Google Imagens e de outros blog´s.

Se alguma for de sua autoria e não foram dados os devidos créditos, perdoe-me e me avise (blogdoprmedeiros@gmail.com) para que possa fazê-lo. E não se esqueça de, também, creditar ao meu blog as imagens que forem de minha autoria.