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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Lição de EBD n° 7: A atualidade dos conselhos paulinos


Após discorrer a respeito das características marcantes dos verdadeiros obreiros do Senhor, Paulo faz um alerta à igreja de Felipo: βλεπετε τους κακους εργατας (belpete tous kakous ergatas), cuja tradução mais viável é cuidado com os maus obreiros, esta é a primeira de uma serie de recomendações que ele dará aos crentes.
Para um melhor aproveitamento da lição em apreço, sugiro que a mesma seja estuda em contraste com as lições passadas. Por exemplo, na lição que trata das virtudes dos salvos em Cristo, cujo comentário pode ser encontrado aqui neste espaço, abordo a ação da graça e do poder de Deus no desenvolvimento das virtudes que evidenciam a nossa salvação. Nada ali tem a ver com obra, ou mérito humano, mas com pura graça de Cristo.
No comentário da lição a respeito da fidelidade dos obreiros do Senhor veremos atitudes que no fundo destoam das ações dos maus obreiros (κακους εργατας). Eles são maus obreiros, porque não há neles o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, e não ousam sob hipótese alguma a seguirem o exemplo de Cristo, a confiança deles é na carne, ao invés de o ser na cruz de Cristo.

I) Mantendo a alegria em cada instante da vida

O primeiro conselho do apóstolo é: χαιρετε εν κυριω (chairete em Kuryoi), ou alegrai-vos no Senhor. Já abordei este assunto em sucessivas ocasiões. Na verdade todas as vezes que em deparei com um assunto referente a esta carta, faço menção do contrastante fato de que a despeito desta carta ser uma das cartas do cativeiro, é a missiva em que Paulo mais fala da questão da alegria, sempre alternando termos tais como: χαρας (charas) e χαρα (chara).
As palavras que melhor definem alegria são: contentamento,  júbilo, prazer moral. Este contentamento incontido algumas vezes é chamado de αγαλλιασις (aggaliasis), júblio. em outras ocasiões, a fim de reforçar a necessidade de estarmos sempre alegres, χαρας e αγαλλιασις são colocadas lado à lado (Mt 5. 12).
Ao lermos a missiva em apreço percebemos que é deste modo que Paulo vive. Mesmo estando preso, ele olha para o progresso do Evangelho (Fp 1. 12ss). Mesmo vendo pessoas que estão pregando motivadas por emulação, ele diz que importa que Cristo seja pregado (Fp 1. 16 - 18). Mesmo diante da incerteza da vida, ou da morte, ele se vê em lucro (Fp 1. 19 - 21). Não importa se o que Paulo vê diante de si é vida, ou morte, o que importa é que ele se alegra e convoca os crentes se alegrarem com ele (Fp 2. 17, 18).
 
II ) Cuidado com os falsos obreiros
 
Estes falsos, ou maus obreiros são comparados com cães, um simbolismo empregado pelo salmista para se referir aos ímpios (Sl 22. 16, 20). A este respeito, MacArthur acrescenta que este era um epíteto, que se dava aos ímpios pelo fato de que os antigos cães eram vistos como animais asquerosos, dada á sua ancestralidade comum com os lobos. Tal como animais carnívoros prontos a devorarem sua presa, tal é a atitude do ímpios diante dos justos. Daí o aviso de Paulo com relação aos crentes judaizantes, e a comparação dos mesmos com os cães.
Outro fator fortemente ressaltado tanto por Salomão, quanto pelo apostolo Pedro é que estes animais tinham o mau e asqueroso hábito de lamberem o próprio vômito. Como o cão volta ao seu vômito, assim o insensato repete a sua insensatez (Pv 26. 11 NVI). Confirma-se neles que é verdadeiro o provérbio: "O cão voltou ao seu vômito" e ainda: "A porca lavada voltou a revolver-se na lama" (II Pe 2. 22 NVI).
O mais interessante é que Pedro faz tais declarações justamente no final do texto em que trata dos falsos mestres. Voltando para Paulo, ele sucessivamente avisa, em suas cartas aos irmãos das comunidades que ele fundou, a respeito destes tais. Observe a advertência que ele dá à Igreja de Corinto: Pois tais homens são falsos apóstolos, obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo. Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam que são servos da justiça. O fim deles será o que as suas ações merecem (II Co 11. 13 - 15 NVI). 
Toda comparação feita acima é mais do que procedente, se olharmos para o ensino de Cristo, no qual os falsos profetas são comparados a lobos em pele de cordeiro. Externamente eles são cordeirinhos, mas no seu interior, são lobos devoradores, e a única forma de reconhecer os tais é olhando para a atitude dos mesmos. No dia do juízo, muitos destes apresentarão os seus respectivos currículos a Deus e ouvirão dele: não vos conheço, visto que nunca se preocuparam em fazer a vontade de Deus (Mt 7. 15 - 23).
 
III) Cuidado com a circuncisão
 
A expressão κατατομην (katatomen) aparece exclusivamente neste texto e não é a palavra que Paulo emprega para circuncisão que é περιτομη (peritomen [Rm 2. 25, 28, 29; 4. 10; Fp 3. 3]). A primeira na verdade é uma expressão empregada para as mutilações que os gentios se faziam, e que foram proibidas pela lei (Lv 19. 28; 21. 5; Dt 14. 1; Is 15. 2).
Na visão paulina a circuncisão fora dada aos judeus, particularmente a Abraão, como como selo da justiça que ele tinha pela fé, quando ainda não fora circuncidado, e precisamente por este motivo, o patriarca em apreço veio a ser o pai de todos os que crêem, sem terem sido circuncidados, a fim de que a justiça fosse creditada também a nós os que cremos (Rm 4. 11 NVI).
De modo que Abraão é igualmente o pai dos circuncisos que não somente são circuncisos, mas também andam nos passos da fé que teve nosso pai Abraão antes de passar pela circuncisão (Rm 4. 12 NVI). Fora deste contexto a circuncisão é comparada sim a uma mutilação. Falando de forma mais branda, o valor que tal rito tem é puramente externo.
No contexto a circuncisão é símbolo do apelo humano à justiça baseada no mérito. A justificação provida em Cristo é um escândalo para os que são acostumados a confiarem nas suas obras ao invés de confiarem exclusivamente em Deus, que justifica o ímpio (Rm 4. 5). Paulo mais do que ninguém tentou levar os mandamentos de Deus à serio, e como ninguém ele percebeu o teor de exigência dos mesmos daí, ele ter se desesperado de si mesmo (Rm 7. 24, 25), e ter decidido confiar exclusivamente na graça de Deus, e é este caminho que somos convidados a seguir.

IV) Cuidado com o orgulho espiritual

Um termo bastante presente nas cartas de Paulo é καυχωμενοι (kaykoomenoi), do verbo καυχαμαι (kaukamai), cujo sentido é o mesmo de gloriar-se. O apóstolo diz que nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos pelo Espírito de Deus, que nos gloriamos em Cristo Jesus e não temos confiança alguma na carne (Fp 3. 3 NVI). Na medida em que se aprofunda no texto bíblico e no seu respectivo contexto é possível se perceber com maior clareza que o judeu se orgulhava de ser um guardião da lei de Deus (Rm 2. 17, 23). A verdade do Evangelho derruba este motivo de orgulho, visto que todos estão debaixo do pecado, e ao tropeçaram em um único mandamento se tornam réus de todos os demais (Rm 3. 23; Tg 2. 10). Diante do exposto concluo que a justiça somente pode ser alcançada por meio da fé em Cristo (Rm 3. 24, 25).
Onde está, então, o motivo de vanglória? É excluído. Baseado em que princípio? No da obediência à lei? Não, mas no princípio da fé. Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da obediência à lei (Rm 3. 27, 28 NVI). O que está sendo dito aqui é que o homem não tem do que se gloriar, se seu motivo de glória é o cumprimento da exigências da lei. Isto faz com que toda jactância (καυχησις [kaukesis]), seja anulada.
Em Cristo o homem não tem do que se gloriar diante de Deus, exceto em Deus. Nós cristãos nos gloriamos na esperança da glória de Deus (Rm 5. 2), nos gloriamos em Cristo (Rm 5. 11), nos gloriamos do nosso proceder santo diante dos homens, mas o fazemos sabedores de que tanto a santidade quando a sinceridade são provenientes de Deus (II Co 1. 12), visto que é ele quem nos santifica (I Ts 5. 23, 24), e opera em nós o querer e o efetuar segundo a sua boa vontade (Fp 2. 12, 13).
As palavras de Jeremias são claras: não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o Senhor, e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado", declara o Senhor (Jr 9. 23, 24 NVI). Paulo completa com seu famoso está escrito: "Quem se gloriar, glorie-se no Senhor" (I Co 1. 31 NVI).

V) Cuidado com a justiça própria

O orgulho no cumprimento da lei fez com que os judeus desenvolvessem uma consciência de que poderiam serem tidos como justos, caso se submetessem plenamente às ordenanças legais. Esta falsa percepção é visível em muitos crentes pentecostais (meio ao qual pertenço), e em muitos católicos. A justiça aqui ganha contornos totalmente negativos, uma vez que o ser justo está condicionado ao que deixamos de fazer.
Não são poucos os crentes que com vistas a discutir, por exemplo a doutrina da perseverança dos santos recorrem ao texto de Ezequiel, no qual vemos este modelo negativo de justiça. Afirmo ser este um modelo negativo visto que ali ser justo é: não comer nos santuários que há nos montes, não olhar para os ídolos, não contaminar a mulher do seu próximo, não se deitar com a mulher durante o período do seu ciclo menstrual, não oprimir ninguém, não cometer roubos, não emprestar com usura, etc... (Ez 18. 6 - 8 paráfrase).
Esta justiça, repetimos é atribuída ao homem na medida em que ele cumpre os decretos de Deus, visto que Ele mesmo fala pelos lábios do profeta: ele age segundo os meus decretos e obedece fielmente às minhas leis. Aquele homem é justo; com certeza ele viverá, palavra do Soberano Senhor
(Ez 18. 9 NVI).
Stott afirma no seu clássico A verdade do Evangelho que a justiça de Deus que nos é dada pela fé em Cristo, é um veredito de Deus para nós, ou seja é a declaração de que somos justos não por nosso mérito pessoal, mas em Cristo e por Cristo (Rm 5. 1, 2; I Co 1. 30, 31; II Co 5. 21). Que Deus nos dê graça para que possamos nos despir de nossos trapos de imundícia e nos vestirmos da justiça de Cristo Jesus. Amem.  
 
Pr Marcelo Medeiros.

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