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sábado, 10 de agosto de 2013

Ensino Religioso, confessionalidade, interconfessionalidade, e supraconfessionalidade



Escrevo este breve texto a fim de refletir a respeito do ensino religioso nas escolas, tema que há quinze dias atrás foi abordado no programa "Na Moral", por um senhor representante de grupos de combate à intolerância religiosa, mas que não teve a devida atenção dos demais participantes da mesa debatedora. Talvez porque a menção do mesmo tenha de dado de forma analógica, visto que o assunto que se pretendia abordar era a discriminação que o frequentador de culto afro sofre em nossa sociedade. Contudo a abordagem teve um toque da contradição entre o ER e a laicidade estatal, assunto ao qual pretendo voltar em uma outra postagem.

Me lembro claramente que em vias de terminar o meu curso de Pedagogia, uma das professoras, sabedora de que eu era evangélico, sugeriu que abordasse o tema em minha monografia. Não o fiz em razão de ter cedido à tentação de escrever sobre música. É igualmente digno de nota que a minha reação inicial, á lei que instituía o mesmo em nosso Estado não foi das melhores. A despeito da criação em ambiente pentecostal, e da forte identificação que tenho com este grupo até hoje, a teologia com a qual me identifico é a da reforma. Nesta, a relação Igreja e Estado é vista da forma mais separada o possível. Daí a minha visão pessimista quando ao assunto.

Anos após me formar em pedagogia, necessidades profissionais me fizeram me inscrever em um curso de pós graduação lato sensu, e neste novo ambiente ao assunto voltou á tona, o que me fez refletir de verdade a respeito da temática. A reflexão me conduziu à crítica dos modelos adotados e ao que poderia chamar de uma proposta de exercício da prática de forma a respeitar a diversidade e promover o diálogo intercultural e inter-religioso.

Na minha perspectiva a o ensino religioso na modalidade confessional pode resultar suscitar discussões e suspeitas de subvenção do estado em favor de um determinado grupo, e em detrimento de outro. Isto dá voz a um discurso que denuncia a predominância das religiões cristãs, e exclusão das minorias religiosas. A interconfessionalidade, ainda que muito melhor que a supra confessionalidade e a confessionalidade, pode falhar no que tange á seleção de conteúdos a serem ministrados, terminando por privilegiar esta, ou aquela religião, em detrimento das demais.

A supraconfessionalidade, que á a proposta que faz com que professores de filosofia e história trabalhem as religiões em suas disciplinas, peca pelo reducionismo. Isto porque o fenômeno religioso é muito complexo para ser abarcado por estas disciplinas, e por mais que tal perspectiva permita um ensino laico, corre o risco de rejeição por parte dos educandos que não idetifiquem seu modo de viver a religião com a perspectiva do educador, o que pode vir a produzir um distanciamento entre educador e educando.

Da minha perspectiva é de fundamental importância que o ensino religioso esteja nas escolas públicas, não falo simplesmente por coadunar com a concepção de que o Ensino Religioso, pode ser trabalhado como um matéria entre tantas outras, cujo fim pode ser o de colaborar no desenvolvimento dos educandos de forma a que estes alcancem os objetivos claramente colocados nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Não! O que quero dizer é que o Fenômeno religioso, é tão humano quanto qualquer outro e como tal, e dada à seu alcance e amplitude, é sim objeto de estudo das mais variados ramos do saber e a função da escola é colocar este saber ao alcance dos educandos e educadores sim.
Diante de tal constatação, o desafio que temos diante de nós consiste na elaboração de um referencial teórico que nos permita selecionar e trabalhar os conteúdos, de uma forma que nem fira a laicidade e nem melindre a consciência do religioso. Uma forma de se trabalhar o ensino religioso, e que ao meu ver respeita tanto o caráter laico do estado, quanto a perspectiva religiosa do educando, é a que associa a teologia da cultura de Paul Tillich, com a educação dialógica de Paulo Freire.

No caso do primeiro, percebemos como a Teologia e os símbolos da religiosidade estão entranhados em nossa cultura. Tal perspectiva permite que se faça a articulação entre o saber religioso e os saberes que foram selecionados para promoverem a formação do educando de forma a que este atenda aos objetivos gerais dos parâmetros curriculares nacionais. Articulação esta, que se dá na concepção de Absoluto que o teólogo da cultura faz, e em sua forma de entender a religião como um sentimento que nos envolve de forma incondicional. 

 No caso da Pedagogia Freire, pelo fato desta colocar a educação dialógica como a mais legítima das práticas pedagógicas. Na prática do Ensino Religioso, ela permite que se trabalhe o diálogo entre as confissões de fé, a visão que a criança tem de sua prática religiosa, e a que o professor possui. é claro que, conforme previsto pelo próprio Freire, o professor após ouvir terá de intervir a fim de corrigir possíveis erros e vícios do pensamento, mas o fará sabendo que o aluno não é de todo um ignorante, e ele não é sabedor de tudo, e que aquela não será alcançado se não for ouvido. Me despeço esperando que este breve esboço tenha contribuído de alguma forma para uma maior reflexão a respeito do assunto.

Marcelo Medeiros.

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