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quinta-feira, 25 de março de 2021

A crise do Covid uma análise inicial




É do conhecimento do leitor minimamente informado que desde o ano passado (2020), quando começaram a serem identificados os primeiros casos de Covid aqui no Brasil, que se constatou a a realidade de uma crise sanitária de proporções mundiais. O problema é que esta crise não veio sozinha, e temos falado isto insistentemente neste espaço. 

Em 2008, tivemos uma crise econômica em proporções mundiais. Tudo decorrente de operações de crédito feitas por bancos americanos e ingleses, que se mostraram fracassadas e resultaram numa quebradeira que só não foi maior por conta da ajuda dada por Obama. Não fosse essa ajuda muitos americanos teriam de ver seus fundos de pensão irem de ralo abaixo. Inicialmente o Brasil escapou desta crise por conta da alta procura de commodities por parte da China e do uso que o então presidente Lula deu aos recursos oriundos de tais operações em programas sociais. 

Mas a crise não parou por aí. Logo após a crise econômica veio a crise política, social e as pautas que antes eram vitas como progressistas e inerentemente benéficas passaram a serem contestadas. A democracia foi imediatamente contestado e no mundo, em particular na Europa, começaram a surgir movimentos autoritários. O totalitarismo começou a fazer um tremendo sucesso entre a garotada e entre os evangélicos também (algo que merece um post à parte). 

Aqui no Brasil explode uma crise sem precedentes. A marola da crise econômica de 2008 foi sentida em 2013 com a queda de interesse por parte da China em nossos commodities, com a frustração das expectativas em relação ao pré-sal, o perdão de dívidas de instituições, a queda na arrecadação e uma série de erros da então presidente Dilma Rousseff, que culminaram nas manifestações que resultaram no impeachment da mesma. 

Neste contexto a Operação Lava-Jato trouxe à tona casos e mais casos de corrupção, de desvios de dinheiro e operações ilícitas envolvendo nossa maior estatal, a Petrobrás. O saldo da referida operação foi a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (cujo mérito penal não pretendo sequer considerar aqui). Meu ponto aqui é que uma operação necessária, que tinha tudo para depurar desde instituições públicas até empresas foi conduzida de modo afoito e até atropelado. 

Na medida em que casos e mais casos de corrupção foram sendo trazidos à tona, aprofundava-se ainda mais uma crise institucional e política, que na época não conseguia perceber, mas que nas eleições de 2018 ficou claro para mim. O livro de Walfredo Warde (Espetáculo da Corrupção), mostra como o rito do direito processual foi banalizado redundando na suspeição dos agentes envolvidos na investigação e no julgamento dos méritos. 

Guerras e mais guerras narrativas vieram à tona em meio ao processo. Uma delas é a de que a prisão do ex-presidente Lula era parte de uma conspiração para retirar o páreo o único candidato capaz de vencer o atual presidente. Em contraponto a esta narrativa surge a narrativa de uma conspiração mundial para implantar o comunismo no mundo. 

É curioso como tal narrativa pode ter encontrado espaço a aceitação na sociedade atual. Seria compreensível no início da década de oitenta (época em que os Estados Unidos investia maciçamente em toda forma de propagada contra o governo russo). Mas após o processo de abertura da Rússia esta narrativa perdeu o sentido. 

Através de falas com alguns colegas que compram esta ideia percebe uma estereotipia do que venha a ser o comunismo. Aqui a palavra não tem aquele sentido dado pelo socialistas utópicos, onde uma sociedade comunista seria uma sociedade sem classes. Comunismo aqui ganha sentido de regime marcado pelo fracasso econômico que redunda em pobreza das massas e riqueza de um grupo pequeno, na verdade ínfimo de pessoas. 

O grave problema é que o regime neoliberal tem estes efeitos. E com isto ocorre um erro gravíssimo. No afã de se salvarem da pobreza e garantirem sua liberdade as pessoas na verdade aderem a um regime econômico que tem provocado a mesma concentração de renda existente antes da década de vinte do século passado. 

Mais do que isto um regime que prega a barbárie, digo o retorno a esta. Sim e a operação é bem simples, em nome da liberdade individual subverte-se toda forma organização social, melhor toda ação visando o interesse coletivo. Paulo Ghiraldelli Jr atribui a Hayeck a fala de que não existe a sociedade, existe o indivíduo. é uma percepção política? Com toda a certeza, mas também é um retorno à barbárie. 

O grande problema com a barbárie é que ela não é o regime da liberdade, como se possa pensar. Ela é o regime da força e da violência. Neste a justiça é equiparada o direito do mais forte. E foi justamente para evitar que o forte exercesse seu poder, de forma arbitrária sobre o fraco que o Estado foi constituído. Esta é uma das razões pelas quais os contratualistas viram a razão de ser do Estado. 

Por esta razão Hegel entendeu o Estado como sendo a realização do Espírito Absoluto e como o garantidor da liberdade do sujeito, aquele que levaria a dialética do senhor e do escravo à sua síntese. Marx, por sua vez, ousou ver o Estado a partir de outra perspectiva. Nesta ótica, o Estado ainda que devesse, não poderia realizar a liberdade do sujeito. 

As palavras de Marx pareceram cair no descrédito por conta do que se viu no regime capitalista no pós guerra (a chamada fase de ouro). Mas a década de setenta trouxe outra realidade. O neoliberalismo emergiu com toda a força. E conforme pontua Rubens Casara avança para todas as esferas da vida, inclusive a política. 

A diminuição do Estado (aqui compreendida como a escassez de serviços em saúde, segurança, saneamento, energia, comunicações e outros), é amenizada pelo discurso de liberdade individual, ao ponto de ninguém mais ser empregado de ninguém, mas todos e cada um serem empresários de si mesmos. Um discurso que na verdade oculta, vela a maior forma de totalitarismo, o da financeirização.  

Mário Sérgio Cortella lançou um livro por título política para não ser idiota. Tanto ele quanto Rubens Casara em seu livro Sociedade Sem Lei afirmam categoricamente que na Grécia toda pessoa que se recusava a pensar no bem comum recebia a alcunha de idiota. Na direção inversa a sociedade atual privilegia o egoísmo e o individualismo como virtudes que permitem o progresso individual. é neste contexto que se dá a crise do COVID-19.  

Não bastassem tais elementos de natureza política e ideológica, entra aqui o fator religioso. Na verdade, como estudante de apologética e participante de algumas comunidades do Facebook, percebo uma guerra de natureza filosófica, mas que tem invadido a esfera religiosa. Deve-se dar á ciência o status de narrativa explicadora de toda a realidade? É uma questão de fundo filosófico que tem sido apropriada por apologistas cristãos. 

Aqui tem de ser observado a atuação de ateus militantes no cenário público. Nomes como Sam Harris, Danniel Dennett e o fabuloso Richard Dawkins se somaram ao ateísmo militante. Ao invés de cooptar cristãos este movimento colaborou, e muito no recrudescimento do fundamentalismo cristão. Este gerou o obscurantismo, uma espécie de aversão à ciência. 

Não se trata de colocar aqui toda a responsabilidade sobre os cientistas e filósofos que resolveram militar pela ciência contra toda a visão que não se enquadre dentro dos cânones da mesma. Mas há que se reconhecer que o homem comum, em regra, não atenta muito para a ciência. Este é um saber para o qual os homens somente se voltam na medida em que precisam resolver algum problema. 

Foi o que motivou Bacon a pensar no gelo como meio de conservação para os alimentos, e numa forma de saber que viabilizasse o domínio da natureza. Sem a percepção de um problema que lhes desafie, o que o homem tem é a necessidade de pura fruição. Para boa parte destes a ciência tem pouco a dizer. Uma questão final discutida por Rubem Alves é se toda produção humana deve de estar restrita à ciência, ou  não. Para Rubem Alves há questões que estão fora do domínio desta sim. 

Face ao exposto acima fica fácil de entender a recusa de alguns "cidadãos" às medidas protetivas, como o lockdow, o uso de máscaras (chamadas de focinheiras), álcool em gel, auxílio emergencial por parte do Estado, ou qualquer manifestação de organização social como intervenções de um Estado Opressor na liberdade individual. 

Não há noção de "bem comum", "interesse comum", "solidariedade", nas falas de boa parte das pessoas que aderiram ao pensamento neoliberal. Aqui liberdade deia de ser o poder de agir livremente dentro de uma sociedade organizada de acordo com os limites da lei, para ser a ausência de subordinação à toda e qualquer forma de autoridade. 

Evocações à liberdade de expressão, à parte, o que ocorre aqui, sob o manto de um discurso de liberdade é um verdadeiro estado de anomia social. Ausência de regras, de normas, de lei, ou confusão destas com restrições à liberdade. Em outras palavras não é uma crise sanitária isolada dos problemas sociais, econômico e políticos que tem afetado a humanidade. 

Não se trata de decidir apenas a respeito da vacina e do uso das máscaras. Mas de política sanitária, de transportes, de emprego, renda e seguridade. O Brasil, por conta do avanço crescente do neoliberalismo e da ideia de Estado mínimo, trouxe a questão da individualidade de cada cidadão como mantenedor de si mesmo, e responsável pelo seu sustento pessoal mesmo em meio a uma pandemia (uma crise sanitária dentro de uma crise econômica). 

Com frequência ouço as pessoas dizerem que não vêem a hora de que tudo volte ao normal. Mas o normal virá? Creio que não. Mais do que isto não pode vir. Há muito que ser visto e revisto em nossas concepções sociais, em nosso modelo de sociedade, na política, na economia. Articulei ao longo deste artigo todas crises possíveis porque são questões que precisam de reflexão. 

Edgar Morin abre algumas destas reflexões em um livro sobre as lições do Covid. Nós precisamos aprender a fazer tais reflexões e a ponderar sobre tais questões. Antes o vírus nossa sociedade foi infectada com uma mágoa social tamanha que foi muito bem orientada ao serviço dos interesses do capital financeiro. Desfazer este processo não é coisa fácil. 

Marcelo Medeiros. 

6 comentários:

  1. Crise, crise,e mais crise, caminhamos pro fim de tudo, e as crises brotarão dentro de crises, até que vira aquele governo que aparentemente dará jeito e solução pra tudo

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  2. Eu particularmente não acredito mais nesta retórica do
    anticristo. O que creio é que o fim virá em um tempo em momento em que Tudo estiver em paz.

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  3. Confesso que há algo a elogiar em seu raso texto: SUA SINCERIDADE IDEOLÓGICA. Não escondeu em momento algum sua cosmovisão. Fora isso, faltou substância, clareza e humildade. Fala como se possuído por um espírito de superioridade moral e científica. Hegel, Marx, etc; tiveram seu momento. Nossa realidade atual, transcende a ambos. Encontrar o equilíbrio entre o Braço Esquerdo de Deus e o indivíduo, é o desafio. Por hora, prefiro as Escrituras, onde Paulo e Pedro colocam o Estado é autoridades derivadas como instrumentos de Deus pra coibir o mal, não como provedores, mantenedores e senhores do sujeito.

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  4. Confesso que há algo a elogiar em seu raso texto: SUA SINCERIDADE IDEOLÓGICA. Não escondeu em momento algum sua cosmovisão. Fora isso, faltou substância, clareza e humildade. Fala como se possuído por um espírito de superioridade moral e científica. Hegel, Marx, etc; tiveram seu momento. Nossa realidade atual, transcende a ambos. Encontrar o equilíbrio entre o Braço Esquerdo de Deus e o indivíduo, é o desafio. Por hora, prefiro as Escrituras, onde Paulo e Pedro colocam o Estado é autoridades derivadas como instrumentos de Deus pra coibir o mal, não como provedores, mantenedores e senhores do sujeito.

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    Respostas
    1. Eldo .com o devido respeito na época em que Pedro e Paulo falam a respeito da relação do crente com o Império Romano não existia isto que chamamos de Estado tuas conclusões decorrem de uma Hermenêutica que falha ao não levar em conta o contexto histórico em que a Bíblia foi escrita e a diferença deste pars o moderno.

      Outro ponto que vc não considera é questão da graça comum. Dentro desta a própria FILOSOFIA é uma das luzes que Deus usa para iluminar a humanidade.

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    2. Demorei mas visitei sua página. Não há um único texto, apenas memes. Daí que entendi sua ignorância bíblica e total incapacidade em lidar com textos simples e objetivos como os meus.

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