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sábado, 4 de janeiro de 2020

O que é Pedagogia, ou Ciências da Educação?



Qual educação é a melhor para o meu filho? Esta é a pergunta que muitos pais fazem na atualidade. Para tal indagação existe uma gama considerável de respostas, e uma gama maior ainda de pessoas de todas as áreas do saber para tentar responder tais questões. As aulas de História da Educação na faculdade de Pedagogia já denunciavam este problema de longas datas. No Brasil demoraram a aparecer as faculdades de educação, voltadas para a formação de professores, o que explica a atualidade de intervenção de especialistas das demais áreas na área da educação. Mas vamos ao que é Pedagogia.

Sou pai e sei que não há nada de anormal que um pai tenha tais preocupações, tal como se preocupa com a saúde de seu filho. Mas quando se quer um diagnóstico médico um pai faz o quê? Consulta a um especialista. E o que faz quando a questão é educacional? Propõe respostas, ou soluções. Aqui entre nós sou pedagogo e nas reuniões de escola jamais me coloquei como tal. Confiei e confio na competência técnica dos profissionais da escola. Afinal, eles são especialistas.  

Mais do que óbvio, que nas reuniões em que participei, da creche à Escola, fui reconhecido como tal em razão de uma linguagem comum, fora os colegas de faculdade que são encontrados ao longo da estrada, e do caminho. 

Meu propósito com este post é comunicar aos leitores de todas as áreas a especificidade do saber educacional (que é seu caráter multi, pluri e interdisciplinar). Indicar que numa sociedade complexa é mais do que normal que especialidade apareçam e dentre as tais a educação termina por configurar-se como tal, e que por este motivo o Pedagogo é especialista em educação.

Pedagogia é uma palavra que vem do grego pedagogos cujo significado é a de um escravo cuja função consistia em conduzir o menino até o mestre. Na atualidade é um conjunto de conhecimentos que visam lançar luz sobre o processo de ensino/aprendizagem. Neste conjunto de conhecimentos entram desde saberes como a Filosofia (que não é uma ciência por conta da falta de objeto), a Sociologia (visto que a função da educação é preparar o homem para um tipo de sociedade), Antropologia, Ciência Política, História, Epistemologia, e Metodologia Científica.

Em outras palavras o processo de ensino e aprendizagem é visto sob um olhar multi, pluri, e interdisciplinar. É múltiplo porque aborda teorias discordantes dentro de um mesmo saber, conforme visto na Filosofia, por exemplo, onde são abordadas a epistemologia platônica e a aristotélica, que são discordantes entre si. É pluri por conta da pluralidade de ideias e saberes. É interdisciplinar porque busca na variedade científica um único objetivo: o de lançar luz sobre o processo de ensino/aprendizagem.

Tal como advogados, engenheiros, dentistas, médicos, pedagogos são especialistas. Especialistas em quê? Em educação. Melhor: no processo de ensino e aprendizagem. (Pelo menos a grade da maioria das graduações de Pedagogia aponta para isto). Na medida em que o número de doutores em educação for aumentando, acredito que pedagogos se firmem cada vez mais como as vozes que possuem autoridade na educação. Mas sei que é um processo ainda muito longo.

O leitor possivelmente esteja se indagando a respeito do motivo de tanto estudo em tantas áreas do saber para poder ter autoridade ao falar sobre educação. Mas educação é mesmo um processo complexo e a Pedagogia é um conjunto de conhecimento justamente porque não há um único saber, ou uma única ciência que dê conta do processo como um todo.

Daí que um grupo de especialistas busque na Filosofia clássica até a moderna e pós moderna a compreensão a respeito do homem, da maneira como este aprende, e das razões finais para o aprendizado. A sociologia visa responder pelas diferenças de sociedade para sociedade e de como tais diferenças impactam na educação. Pense em uma sociedade como a judaica, cuja educação pós exílica consistia no preparo do menino para que este tivesse condições de firmar sua identidade judaica face à realidade na diáspora, ou após o exílio na Babilônia.

A história mostra como cada sociedade educou e educa ao longo do tempo. A ciência política busca responder como as políticas públicas impactam nas politicas educacionais e no produto final da educação. A psicologia visam lançar luz sob aspectos psicológicos da educação (lembrando que o funcionamento da mente também foi objeto da Psicologia, que foi e tem ampliado cada vez mais seu objeto de estudo, ao passo de intelectuais como  Bourdieu proporem união entre a Psicologia e a Sociologia).

Educação não é algo que se faz com achismos, ou a postura eu acho e esta é a minha opinião. Não! Educação se faz com a junção de saberes e com a instrumentalização dos mesmos no processo de crítica das práticas. O que quero dizer aqui é que os saberes são usados com vistas ao processo de contínua avaliação das práticas educacionais. Ou seja, não constituem fórmulas prontas de como educar.

De igual modo educação demanda interesse por parte de quem se propõe a ensinar e de quem se propõe a aprender. Demanda convívio e diálogo mais do que contínuo. As ideias e os modelos passam, mas a necessidade humana de convívio e de troca parecem permanecer. É por isto que a educação sempre existirá. Pelo menos enquanto houver sociedade que suscite demandas sociais que a educação e tão somente ela possa atender. 

Pense na sociedade moderna e indague porque em sua escola havia uniforme, fila para entrar, sinal de entrada, sinal de recreio, fila para a merenda, e você entenderá as razões. A Escola Moderna é filha da fábrica. Não estou falando o que falo aqui de minha cabeça. Tomás Tadeu Silva e Paulo Ghiraldelli Jr trabalham com esta ideia em seus respectivos livros. No caso do primeiro, a referência é Documentos de Identidade, as teorias modernas do currículo e no segundo Filosofia da Educação e Didáticas e Teorias Educacionais.

É filha da fábrica porque criada para responder às demandas de uma sociedade cujo fundamento era a técnica. Daí que do uniforme, ao sinal de entrada, à carteirinha escolar, à concepção de progresso educacional baseado em série, tudo seja reflexo de uma fábrica. A adoção de uma concepção mais tecnicista reforça o modelo fabril. De certa forma a reprovação também. Mas o que acontece quando a sociedade passa por um processo de desindustrialização? 

O modelo entra em crise. Na verdade crise não é algo novo em sociedade e menos ainda em educação. E é nas crises que pensadores elaboram as mais diversas teorias educacionais. E o fazem pela leitura prévia de questões que em regra o grande público não percebe. Tomemos como exemplo as crises do capitalismo do século passado, várias teorias sociais foram levantadas e várias propostas educacionais vieram nesta esteira. 

Pedagogia Tradicional, Pedagogias Liberais, Pedagogia Libertadora, Anarquista, Crítico Social dos Conteúdos, são exemplos de alguns modelos educacionais que foram propostos a partir do primeiro quarto ao último do século passado, e deixam importante legado para a reflexão das práticas pedagógicas. A maior de todas é a reflexão a respeito da diversidade. 

Quando se tem um grupo homogêneo, é fácil educar. A dificuldade é quando se pretende estender a educação para diferentes grupos. Alguns se adaptam muito bem à Pedagogia Tradicional, outros às Liberais, os analfabetos do nordeste deram-se muito bem com o método freireano, já alunos de escolas federais parecem lidar bem com docentes que trazem uma proposta educacional mais política e politizadora. 

O que importa neste ´processo é que a educação forme pessoas capazes de resolver os problemas de sua respectiva sociedade. Aliás, este sim é o melhor teste para se saber que a educação está, ou não, indo bem. Mas é um assunto que seguramente merece um outro post e uma reflexão mais atenta. 

Marcelo Medeiros, Pedagogo, Especialista em Ciências da Religião, Pós graduando em Docência da Teologia e Filosofia.  

2 comentários:

  1. Gostei da sacada do artigo e a referência que fez a foto do Meksenas.
    Continue nos brincando com essas análises. Desfrutamos bastante de suas escritas.

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  2. Gostei da sacada do artigo e a referência que fez a foto do Meksenas.
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