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sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Rio 2016 e eu sem estômago



Confesso que tem sido extremamente difícil sobreviver aos dias de Olimpíada nas Cidade do Rio de Janeiro. Primeiro por uma questão pessoal. Detesto aglomeração, glamour e boa parte do que as pessoas amam de coração. Detesto ainda mais mentira, ilusão, falsidade. Coisas afins me dão verdadeira náusea. 

é horroroso e ilusório, para não dizer enganoso o retrato que a mídia tem feito da cidade e do próprio Brasil. De país em crise a nação - Gigante pela própria natureza - se Transformou no país das maravilhas. É como se a corrupção política, a crise econômica deixassem de existir. Milagre Olímpico é a palavra de ordem. 

Abomino o messianismo esportista. Vibro com as pobres moças do atletismo, com as meninas do futebol, do vôlei, do Handebol. Mas detesto a ideologia - velha, diga-se de passagem - que reafirma constantemente um poder que o esporte tem de mudar vidas. É verdade que muda, mas não dá para esquecer os inúmeros garotos talentosos que ficam nas peneiras das escolinhas, das garotas que sempre esbarram em países cuja tradição é maior. 

Moro em um país, cujo acesso à justiça, bem como o o exercício de direitos constitucionais é no mínimo sofrível. E daí? E daí que política publica desportiva nesta conjuntura social é um luxo. Estamos condenados a esperar uma raridade, um Airton Sena na fórmula 1, um Gustavo Kürten no tênis, uma Marta no futebol feminino e quem sabe um outro Pelé no masculino. 

Mas e o legado das Olimpíadas, você não acredita que está sendo negativo? De boa, alguém se lembra do legado do Governo Marcelo Alencar? Não e direi porquê. Os políticos da pátria amada desalmada não possuem a cultura de legados permanentes, e o povo também não. Projetos belíssimos como os CIEP's, as praças reformadas do governo Marcelo Alencar, a Biblioteca Estadual, tudo é alterado para que se apague a memória e os créditos sejam conferidos aos atuais governos. O restaurante popular é um exemplo. Caso a dúvida ainda persista informe-se a respeito dos estádios da copa, que voltaram a serem fraquentados por causa das olimpíadas, mas  nem por isto deixam de serem verdadeiros elefantes brancos. 

Minha percepção a partir da história é a de que ainda que os jogos olímpicos deixem alguma herança positiva (algo que duvido), ele será prontamente apagado, para que outro nome comece a brilhar. Legado mesmo, somente o peso da morte de um gari e um Engenheiro que tiveram o azar de estarem no lugar errado e na hora errada. 

Antes de me despedir não poderia deixar de falar sobre a abertura. É provável que ela tenha presença glamourosa de nossa Gisele Bünchen, mas por que Anita e Wesley Safadão? Deixa pra lá. Mas não me privo ao direito constitucional de dizer que discordo que sejam os melhores representantes de um país que nos deu gênios na música como Carlos Gomes, Heitor Villa-Lobos, Radamés Gnatalli, Celso Guerra - Peixe, Mário Tavares e tanta gente boa, que soube usar o som para expressar nossa cultura (para não falar de Hermeto Pascoal). 

Reforço que não tenho nada contra a música popular tão bem representada pelo nomes do Rock nacional, do Samba, Pagode e da Bossa. Também não tenho nada contra as pessoas cujos nomes citei. Mas não tenho estômago para a insistência em representar o Brasil através da região glútea. Há muito tempo o povo deixou de ter esta expressão facial. 

Engov, estomazil, sal de fruta? Não sei o que fazer durante e depois deste deslumbramento que a imprensa brasileira insiste em produzir. Talvez minha única saída seja a mesma de Habacuque, o profeta israelita que diante da constatação de que as coisas iam de mal à pior subiu à torre de vigia. Afirmar fé é fora de moda. O negócio é ter esperança. Mas quem tem o mínimo de dignidade moral precisa mesmo pe de FÉ, para poder viver sem que morra de náusea, gastrite, ou úlcera nervosa. 

Não dá para olhar para corrupção política e moral e aguardar o próximo evento esportivo. Não dá para ver o senado se articular para acabar com a delação premiada, com as prerrogativas trabalhistas e tantos outros direitos usando como argumento a necessidade do país crescer, quando eles é quem precisam crescer. Não dá para acreditar que tudo vai bem, quando tudo vai mal. Não dá para acreditar que os maus triunfem e que não existe um poder maior ao qual terão de prestar contas. 

Daí as palavras de Gilberto Gil: andar com fé eu vou, que a fé não, não pode faiar. Como cristão creio que o Deus em que lanço a minha fé não pode falhar. Por este motivo aguardo que a justiça daquele perante quem não cabem recursos, se realize em meu país. Um forte Abraço e boa abertura dos jogos olímpicos para quem tiver estômago. 

Marcelo Medeiros. 

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