Existem mil e uma formas de explicar o voto em Dilma, destas quase todas são ponderáveis, menos o apelo a qualquer forma de preconceito étnico racial. Mas infelizmente a imagem de um dos maiores intelectuais está sendo associada ao preconceito. Sim, FHC, quem diria teve suas palavras distorcidas, pela mídia ao atribuir a força de Dilma nas urnas com a ausência de discernimento por parte do povo (entendida pela imprensa como ignorância).
Para o ex-presidente não é o fato de serem pobres que faz as pessoas votarem em Dilma, mas a ausência de discernimento. Pronto, foi o suficiente para que o discurso do mesmo fosse associado ao preconceito étnico, particularmente contra o nordestino [aqui]. Tudo por uma colocação que poderia ter sido feita de outra forma.
Na verdade a força de Dilma está ligada ao medo. Não posso afirmar, por exemplo que pessoas como a professora e filosofa Marilena Chauí, e Leonardo Boff, sejam ignorantes. Mas por alguma razão que ignoro, eles resolveram apoiar um discurso bem similar ao dos simpatizantes do PSDB às vésperas da eleição de Lula. Sim, o medo do retrocesso em programas sociais tem sido o carro chefe da propaganda de Dilma, tal como o medo do retorno da inflação foi no período em que Lula se elegeu, em 2002.
A questão da grande massa, é o medo da mudança. É algo tipo: precisamos mudar, mas para mudar para pior, deixa como está. Meu único espanto é com a associação de intelectuais do calibre de Boff e Chauí, que em tese não são nada sugestionáveis, e pior, assumem que o Brasil está em um ponto ao qual não pode retroceder [aqui].
Minha questão é: se o Lula não retrocedeu em nada no processo iniciado por FHC, por que devo acreditar que qualquer outro candidato que entrar seria um retrocesso? A grande diferença é que faltou aos tucanos um nome que fizesse frente a Lula, e houve alternância no poder, o que não ocorre agora, quando há nomes fortes (ainda que nenhum desfrute de minha simpatia), mas o medo de retroceder não permite a alternância de poder, e aí a democracia corre o sério perigo de ser democracia apenas na forma, e não no conteúdo.
Creio que a despeito do bolsa família, dos programas cuja eficácia é contestável, a maior herança da perpetuação do PT no poder é o processo de morte de toda e qualquer ideia que seja contrária, e o caso Levy Fidélix [aqui] e Rachel Sheherazard [aqui, aqui, e aqui] foram lições impressionantes. É isto que me faz ver a perpetuação do PT como algo nocivo à democracia. Não vejo Aécio como alternativa viável, mas começo a pensar na alternância, e na ausência da mesma, que Deus nos livre de que isto aqui se torne outra Venezuela. E que intelectuais entendam que a alternância no poder faz parte do processo democrático.
Marcelo Medeiros
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