Fui surpreendido pela postagem de um amigo em uma rede social que me interpelava a respeito da colocação de Frei Beto a respeito do comportamento de Jesus diante da condição homossexual. Para mim, este é uma questão bem simples, uma vez que não existem registros canônicos a respeito da relação do mestre, ou mesmo dos apóstolos com tais grupos. Mas Frei Beto faz incursões ousadas, e parcialmente acertadas a respeito da misericórdia de Deus para com os pecadores, o problema ao meu ver é com a conclusão que o mesmo tira,chegando ao ponto de propor uma leitura do Evangelho pela ótica gay.
Mesmo reconhecendo a minha insignificância epistemológica face a intelectualidade de Frei Beto, confesso que não pude resistir à tentação de fazer algumas provocações. Se o Evangelho, conforme propõe nosso ícone é produto de uma variante de leituras, sendo a de Marcos aramaica, a de Mateus judaica, a de João gnóstica, e a de Lucas grega, como explicar que de uma variante de leituras surja um Jesus receptivo para com os gentios, compassivo para com os pecadores, e plenamente capaz de transitar entre todas as classes sociais, incluindo fariseus e publicanos?
Desde já pretendo deixar claro que não ignoro que os evangelistas organizaram o seu material a partir de fontes diferentes, e destinavam suas publicações a públicos distintos, mas o Jesus refletido nestas produções é o mesmo. Para se comprovar basta ver a famosa crítica que ele fez aos fariseus quando estes o censuraram por comer com publicanos e prostitutas. Nos três evangelhos sinóticos este incidente aparece ligado ao perdão dos pecados e à cura do paralítico, à purificação de um leproso (elemento excluído d convívio social na sociedade judaica, mas que Jesus não exitou em tocar para que este fosse curado), a questão que os fariseus suscitam sobre as relações de Jesus, e a resposta do mesmo.
Em todos os Evangelhos vemos a seguinte resposta de Cristo: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu nào vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento (Mt 9. 12, 13 ACF). Ou, os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento (Mc 2. 17 ACF). O que os evangelistas fizeram nada tinha a ver com a produção de um evangelho pessoal, eles apenas organizaram os resultados de forma a gerar uma leitura que atingisse o público. É assim que ao fazer o relato do fato para o público judeu, Mateus empregue uma citação dos profeta e Marcos, que escreve para os romanos omita.
Uma segunda provocação está na analogia que Cristo faz de si mesmo com os médicos, e do seu público com doentes. Os pecadores são doentes e precisam de médico. Algo que o homem moderno em geral e consequentemente os gays recusam admitir. A questão que talvez o inclusivistas não percebam é o Cristo que acolhe os pecadores manda os mesmos abandonarem seus respectivos pecados. Sim, o Jesus que não condenou a prostituta, ou adúltera, foi o mesmo que disse à ela: vai e não peques mais (Jo 8. 11). E agora José, como fica?
Marcelo Medeiros.
Perfeito, pastor!
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