A notícia da morte de um jovem negro, supostamente portador de deficiência mental, por espancamento associada a um relatório da ONU que coloca onze cidades brasileiras entre as trinta mais violentas do mundo trouxe extremo alarme ao meu coração. Não é de hoje que , na condição de cristão e cidadão, tenho me incomodado com este assunto. Como crente me pergunto onde tenho falhado no que tange à missão de preservar e influenciar este mundo, como cidadão me pergunto o que posso fazer de forma efetiva para que tais vitimas não continuem nesta condição, para que meu discurso em prol do oprimido não se esgote em palavras momentâneas, afinal, não me cabe amar apenas de palavra, mas em obra e em verdade.
Há que se perguntar em meio a este contexto pelo papel do Estado, visto que segundo a noticia a policia chegou apenas duas horas depois. O leitor atento da Bíblia sabe que não cabe ao ser humano a retaliação pelo mal, uma vez que a Deus pertence a vingança (Rm 12. 19), mas que o Estado, biblicamente falando, é sim, um instrumento de justiça para louvor das boas obras e condenação das más, e é exclusivamente neste condição que se aplica a recomendação apostólica de obediência ao poder estatal (Rm 13. 1 - 5). Mas o que acontece quando a maldade humana se soma à omissão, flagrante injustiça, ou ineficiência do mesmo? Quando agentes da lei morrem e não se faz menção à morte dos mesmos, antes se trata do fato como se natural fosse (aqui)?
A despeito de qualquer tentativa de associação do fato com discursos acalorados (aqui e aqui), quero lembrar que linchamentos sempre ocorreram, e desconfio que da mesma forma que jovens negros morrem nas mãos de uma turba enfurecida, também morrem nas mãos dos traficantes nas cadeias, mas infelizmente tais dados não são dispostos na mídia. Embora não esteja aqui para repetir aquele velho lema: culpa do governo! Infelizmente o Estado falhou sim na distribuição da justiça e na criação de meios que garantam uma condição digna, bem como desenvolvimento humano, o que na minha opinião não resolveria o problema (aqui), mas amenizaria e teríamos um Estado cumpridor do seu papel bíblico.
Nesta falha nem os direitos humanos escapam. O papel dos representantes dos mesmos tem sido ressaltado na mídia no sentido de defender os direitos das minorias, infelizmente quando estas já são vítimas do Estado. Em outras palavras, aqui os Direitos humanos além de não se manifestarem de forma igualitária, ainda chegam com aquele atraso, uma vez que o estrago já foi feito, como no caso do rapaz. Há de se pensar em direitos humanos com u papel mais ativo, e mais igualitário.
De igual modo me pergunto pela Igreja deste rapaz, ou da mãe do mesmo, que além de se dizer cristã, invocou a justiça divina quanto ao fato ocorrido. Creio que não precisaríamos estar comentando este assunto aqui caso algo tivesse sido feito. Sei que Deus pode ter lá os seus planos e mesmo o jovem tendo sido linchado ele poderia ter dado uma mãozinha, como no caso do policial, mas mesmo os milagres bíblicos se dão na cooperação do homem com Deus.
A música O Beco, sucesso com o grupo Paralamas do Sucesso, demonstra que violência não é novidade alguma em nosso país. Violência sempre esteve ao lado (falo no sentido de conviver), da miséria, da religião, e dos nossos prazeres fugazes. A novidade é que somos a sexta economia mundial, mas temos um dos piores quadros em educação, saúde e segurança, além de um baixíssimo IDH (índice de desenvolvimento humano), e esta contradição tem sido fator preponderante para o crescimento da violência, uma vez que fica cada vez mais evidente que os meios que a população empregava para amenizar não estão funcionando. É algo para se pensar
Marcelo Medeiros
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